Dois anos após o início da pandemia, o SC Inova ouviu empreendedores que desenvolveram soluções contra o vírus correndo contra o tempo – e contando com apoio do setor público e a sinergia do ecossistema de TI local. / Fotos: Divulgação
[FLORIANÓPOLIS, 22.04.2022]
REPORTAGEM: Lúcio Lambranho, especial para Agência SC Inova
EDIÇÃO: Fabrício Umpierres, scinova@scinova.com.br
Dez anos de experiência acumulada em biologia molecular, genômica e computacional. Foi com essa bagagem técnica e de gestão que a healthtech Neoprospecta, com sede em Florianópolis, anunciou no auge da crise sanitária, em abril de 2020, um projeto em parceria com a Fundação CERTI para desenvolvimento e testes moleculares do tipo RT-PCR – que identificam material genético do vírus – em grande escala com baixo custo de aplicação.
Quando a pandemia chegou, a startup também já atendia indústrias em investigações de contaminações causadas por microorganismos (bactérias, fungos ou vírus). Também mantinha um laboratório de ponta, fator determinante para testar as novas soluções diante do fechamento dos laboratórios e centros de pesquisas vinculados às universidades públicas devido às restrições impostas pelo isolamento social.
Empresas como a Neoprospecta, que atuam na área tecnológica inovando com soluções para o setor de saúde, tiveram seu “batismo de fogo” com a pandemia ao mesmo tempo que viram as maiores oportunidades para ganhar novos mercados, clientes e, na maioria dos casos, o reconhecimento de décadas de conhecimento aculumado em pesquisa na área de biotech, nanotecnologia e sistemas de informação dedicados à telemedicina.
O apoio financeiro necessário para dar respostas rápidas à tragédia humanitária que assolava o Brasil e o mundo foi construído em parceria com o setor público. A startup catarinense faz parte das contempladas pelo governo federal que, por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), liberou R$ 326,5 milhões para empresas inovadoras desenvolverem produtos e serviços que foram e estão sendo usados no enfrentamento da crise sanitária.
“Naquele momento de pandemia era fundamental que o país aumentasse sua capacidade e flexibilidade de testagem e, sobretudo, tivesse disponível ferramentas que permitissem maior refino nos dados de Covid para gerar inteligência epidemiológica. Esse desafio observável e nossa expertise de 10 anos em biologia molecular, genômica e biologia computacional era a combinação perfeita para participarmos dos editais”, relembra Luiz Fernando Oliveira, cofundador e CEO da healthtech.
Os valores foram distribuídos pelas agências de fomento Finep e CNPq por meio de chamadas públicas, cartas-convite e encomendas de produtos e serviços. Como mostrou o SC Inova, a planilha publicada pela Finep tem 12 empresas sediadas em Santa Catarina e que receberam subvenções econômicas no valor total de R$ 18,7 milhões. Nesta modalidade de apoio financeiro, o governo federal aplica recursos públicos não reembolsáveis (que não precisam ser devolvidos) diretamente nas empresas, como forma de compartilhar os custos e riscos dos projetos de pesquisa e desenvolvimento de novas soluções, fator essencial no setor de biotech.
No caso da Neoprospecta, a oportunidade aberta com a pandemia foi a senha para que a empresa conseguisse apoio da Finep para desenvolver duas soluções no enfrentamento da crise sanitária, além da consolidação no mercado de biotecnologia depois de uma década dedicada à inovação no setor.
COMPLEXIDADE E P&D “CARO” TORNA DESAFIO DAS HEALTHTECHS AINDA MAIOR
Na visão de Oliveira, no Brasil as empresas de biotecnologia têm um desafio maior do que em outros setores em captar recursos para inovação e desenvolvimento tecnológico, pois o custo em P&D para esse tipo de tecnologia são relativamente mais caros, existe alta complexidade tecnológica envolvida e o período de maturação para tornar um produto rentável é muito maior se for comparado a outros segmentos.
“Isso tudo implica em um risco maior para o capital privado e nível de investimento menor em mercados menos desenvolvidos. Dessa forma, oportunidades vindas do setor público são essenciais para o desenvolvimento de projetos de alta complexidade tecnológica. Assim, sem dúvida, a ajuda financeira de agências de fomento, nesse caso da Finep, foi fundamental para execução desses projetos”, ressalta Luis Felipe.
Neste nível de maturação, a Neoprospecta tinha dois objetivos que foram acelerados com a pandemia. O primeiro era não restringir a atuação da empresa por questões geográficas. E entregar aos clientes conhecimento preditivo, ao identificar a probabilidade de resultados futuros sobre os dados apurados, e não apenas uma análise pontual sobre contaminações.
“Esse projeto foi a oportunidade perfeita para colocarmos essa ideia em prática e, sobretudo, contribuir com algo que pudesse ajudar na pandemia em gargalos que eram visíveis como baixa capacidade de testagem e alta complexidade em montar laboratórios de ponta. Sabíamos o que fazer e tínhamos a experiência necessária para executar um projeto bastante audacioso. Por outro lado, a ideia em utilizar essas tecnologias que dominamos, disponibilizando uma estação de hardware para diagnóstico, triagem, ferramenta epidemiológica e monitoramento evolutivo viral utilizando RT-Lamp e sequenciamento de DNA, era algo bastante desafiador e só foi possível com o projeto”, destaca Oliveira.
Mas mesmo com a experiência acumulada e investimentos no laboratório, a startup teve que driblar uma série de problemas comuns às outras healthtechs. Uma das dificuldades foi conseguir o vírus inativado com algum laboratório ou universidade. Ter o vírus inativado era fundamental para validar o ensaio e o diagnóstico das soluções em desenvolvimento. “No período da pandemia, muitas universidades pararam e os laboratórios que tinham esses vírus também, então essa talvez tenha sido uma das grandes dificuldades”, avalia o CEO.
Além disso, com aumento drástico e repentino na necessidade de realizar testes, houve um aumento da demanda de produtos laboratoriais e, consequentemente, uma escassez global de itens de laboratório. “Essa alta demanda e a escassez global trouxeram uma disparada nos preços desses insumos e produtos laboratoriais entre 30% e 40%. Nesse aspecto, tivemos duas dificuldades. Em primeiro lugar, conseguir esses insumos que estavam em falta, necessários para executar os experimentos laboratoriais dos projetos. Em segundo lugar, a intensa inflação causada pela demanda global, impactou o orçamento que já estava previamente definido”, diz Oliveira.
Com esse conjunto de desafios, a empresa teve que contar com mais planejamento, eficiência na gestão dos projetos, um time muito experiente, flexibilidade e muita resiliência. Neste momento, não faltaram apoios decisivos de entidades públicas e pesquisadores.
“Recebemos apoio institucional e estratégico de diferentes entidades para esses projetos, entre eles a Certi, UFSC, Fiocruz, UFPel e os Laboratórios de Virologia Aplicada e da Protozoologia da UFSC. Nesse ponto vale destacar grandes pesquisadores que contribuíram de maneira significativa com o projeto como professores Mário Steindel, Gislaine Fongaro, Glauber Vagner e Frederico Kremer”.
MERCADO EXPORTADOR E NOVO PRODUTO
Com o desenvolvimento do SARSFinder, plataforma de varredura para detecção e quantificação do vírus da Covid-19 e outros 40 tipos virais em amostras ambientais, a empresa conquistou novos clientes ao suprir uma demanda que a pandemia impôs sobre empresas que exportam, em especial do setor de proteína animal. Com o recrudescimento da pandemia, analisar a presença de Sars-Cov 2 em produtos, superfícies e matérias-primas se tornou fundamental para evitar embargos dos importadores como a China. O projeto permitiu que a empresa fornecesse uma solução para diagnóstico de Covid para diferentes tipos de amostras, atendendo a necessidade do setor exportador.
Nesse caso, o projeto permitiu uma “drástica redução no custo destes equipamentos”, utilizando hardwares mais acessíveis para análise e sequenciamento, além da plataforma minion da Oxford-Nanopore, um sequenciador de palma de mão que foi adaptado para plataforma da Neoprospecta. “Assim, não somente o custo é acessível, mas por ser miniaturizado e flexível. Nossa plataforma pode ser implementada nas mais variadas estruturas e condições. Outro ponto importante foi que nosso projeto contribui para sequenciar genomas de Covid em parceria com pesquisadores, permitindo o avanço nos estudos e pesquisas sobre o vírus”, explica.
Os dois projetos, segundo Oliveira, tornaram possível quebrar as barreiras geográficas para atender os clientes. Mas também foi possível o desenvolvimento de um novo produto com lançamento previsto para este ano. O Neobox, um laboratório in-box miniaturizado, permitirá a empresas de pequeno, médio e grande porte criarem internamente um laboratório molecular e genômico de baixo custo.
“Esse produto, além de gerar uma nova fonte de receita, permitirá a empresa internacionalizar nossas soluções e aumentar a velocidade da entrega dos resultados, uma vez que as amostras não precisam mais vir até nosso laboratório. Isso permitirá que no futuro a Neoprospecta foque nos drivers que mais geram valor em nossas soluções e conhecimento preditivo para tomada de decisões a partir de micro-organismos”, avalia o empreendedor.
Parcerias no ecossistema de SC
O ecossistema de inovação em Santa Catarina facilitou a parceria entre duas healthtechs na busca de uma solução para um problema recorrente no setor hospitalar, mas que se tornou ainda mais necessário durante a pandemia. Foi da união de esforços entre a Neoprospecta e a Sensorweb que surgiu um sistema inteligente de higienização de mãos com potencial de reduzir o número de infecções hospitalares e surtos por bactérias ou vírus, como a Covid-19.
A Neoprospecta desenvolveu o primeiro protótipo do produto dentro de um edital de inovação (Senai Sesi de Inovação, 2014) que apesar de funcional, acabou tendo o projeto paralisado por algum tempo, em busca de parceiros e oportunidades de mercado. Mas em 2020, com a pandemia, com edital de fomento da Finep a Sensorweb e a Neoprospecta perceberam um aumento na relevância do problema. E a Sensorweb assumiu o desenvolvimento do produto para desta vez levá-lo ao mercado com tecnologias mais atualizadas, foco no combate à Covid e higienizadores de álcool-gel.
A ideia é ter um sistema que permite rastrear de maneira confiável o horário de uso e a quantidade de vezes que cada profissional utiliza o higienizador e registrar essas informações em uma plataforma de inteligência que vai identificar as áreas com maior aderência e onde é preciso reforçar a orientação de higienizar as mãos, permitindo a gestão dos programas de combate de infecção hospitalar.
O projeto, no entanto, encontrou uma complexidade técnica e operacional maior do que a inicialmente prevista, mas que deve se manter atrativo ao mercado mesmo com a redução dos efeitos da pandemia. “Solicitamos a extensão de prazo à Finep para que a equipe pudesse dedicar mais esforços e recursos ao aperfeiçoamento do produto. Hoje estamos com um piloto em execução e trabalhando no aperfeiçoamento do processo produtivo. Mesmo com a passagem do pico da pandemia, pudemos ter o entendimento de que a temática será permanente, com o ‘novo normal’ exigindo um cuidado contínuo na prevenção à contaminação”, explica o CTO da startup, Victor Rocha Pusch.
Entre as dificuldades enfrentadas pela empresa durante a execução do projeto e com impacto direto no desenvolvimento do sistema foi a dificuldade em acessar pessoas-chave nas unidades de saúde, pois durante muito tempo estiveram sobrecarregadas com o impacto da pandemia e muito focadas em atingir resultados rápidos e práticos. “Por termos um produto ainda em desenvolvimento, necessitando ainda de ciclos de teste e melhoria, não tivemos as oportunidades que precisávamos”, avalia Pusch.
Além disso, afirma o empreendedor, uma crise internacional no fornecimento de componentes eletrônicos, com lockdowns em cidades importantes como Wuhan e Shenzen, também prejudicou a importação de módulos necessários ao projeto, o que exigiu reprojeto de alguns conceitos, para uso de tecnologias mais prontamente disponíveis.
“Como impacto indireto, durante a pandemia o mercado de trabalho para profissionais da área de tecnologia esteve bastante aquecido, fazendo com que a empresa tivesse dificuldades em encontrar profissionais-chave para participar do projeto. Mas sem a ajuda financeira do governo federal, muito provavelmente este projeto estaria ainda paralisado ou sendo desenvolvido de maneira muito mais lenta”, destaca.
“APPLE DO OZÔNIO”
Usando como referência a empresa considerada como uma das mais inovadoras no mundo da tecnologia, a Wier quer ser conhecida no mercado como a “Apple do ozônio”. A startup de Florianópolis foi uma das healthtec que mais cresceram no mercado nacional com produtos voltados ao combate à pandemia. A empresa cresce 500% com tecnologia de plasma frio e ozônio para descontaminar ambientes. A entrada no mercado chegou por meio da rápida certificação dos equipamentos que a empresa já produzia, realizada após testes em laboratório de Biossegurança Nível 3, da USP. Depois destes testes, os equipamentos da Wier alcançaram a inativação de mais de 99,9% do vírus Sars-CoV-2.
Para Bruno Mena, CEO da empresa, esse salto só foi possível com a ajuda dos três editais que a empresa ganhou da Finep. “Esses recursos foram fundamentais para que a gente pudesse de fato fazer inovação no Brasil e de algo que foi para o mercado e que vai gerar valor mesmo num cenário pós-pandemia. Isso corrobora a nossa visão de sermos a Apple do ozônio com o domínio das tecnologias de plasma frio e do ozônio”, avalia Mena.
Com as novas oportunidades de vendas dos produtos, a empresa pretende continuar crescendo 10% em 2022, 15% em 2023 e mais 20% em 2024. Como mostrou o SC Inova em junho de 2201, a Wier tem clientes em todos os estados do Brasil e em outros 20 países e já comercializou mais de 30 mil equipamentos – segundo a empresa, a solução já impactou mais de 5 milhões de pessoas.
Em 2020, a Wier cresceu 500% em relação ao ano anterior e, para 2021, a previsão é de dobrar o faturamento – na equipe, são cerca de 50 colaboradores. Sem investimento externo, a empresa deu seus primeiros passos por meio do programa Sinapse da Inovação, iniciativa do Governo do Estado de Santa Catarina e da Fapesc. Em 2014, foi incubada no Celta e selecionada para aceleração no programa Scale-Up Endeavor.
Até 2019, grande parte do crescimento foi puxado pelos produtos de descontaminação de ambientes e tratamento de água e efluentes. No mesmo ano, lançou uma linha residencial, com produtos de combate ao mofo e microorganismos em alimentos, ambientes e até mesmo na água da piscina, diminuindo os efeitos negativos do cloro.
INVESTIMENTO PRÓPRIO PARA TESTAR NOVO PRODUTO
Em apenas quatro semanas, a TNS Nanotecnologia, empresa de Florianópolis incubada no CELTA, desenvolveu um produto virucida e antimicrobiano contra vírus envelopados (como o novo coronavírus) e não-envelopados com eficácia de até 99,999%. Com mais duas semanas, a startup conseguiu fazer com que o Protec-20 chegasse à marca de três toneladas do produto concentrado.
A solução feita a partir de nanopartículas de prata para eliminar a propagação de diferentes vírus em diversos meios passou por testes realizados em laboratório especializado e se baseiam na norma ISO 18184, que dispõe sobre antiviral para produtos têxteis. Com a certificação, a empresa ganhou novos mercados e cresceu seu faturamento em 50%, como mostrou o SC Inova em maio de 2020.
O desenvolvimento do produto ganhou, a certificação e escalonamento de aditivo antiviral livre de metais capaz de inibir coronavírus para aplicação em polímeros, têxteis e superfícies recebeu R$ 2,1 milhões do edital da Finep.
“A parceria com a Finep foi imprescindível e determinante. Foi um grande catalisador para inserir o produto no mercado”, avalia Gabriel Nunes, diretor da TNS. O projeto teve uma contrapartida da empresa, especialmente diante das dificuldades criadas pela pandemia. O principal problema, segundo Nunes, foi não conseguir contar, no auge da pandemia, com as universidades e os centros de pesquisas públicos de ponta do Brasil.
“Grande parte dos testes que gostaríamos de realizar para trazer celeridade e entregar a solução antes do prazo simplesmente não aconteceram. Caso a TNS e os sócios não fizessem um investimento por fora do projeto, além da contrapartida, para avaliar a performance do aditivo em outros laboratórios não públicos, nós estaríamos muito atrasados no cronograma. E pasmem, essas universidades ainda estão em lockdown e não abertas para fazer as pesquisas na celeridade que a gente precisa”, reclama o empreendedor.
Como atrair investimentos para inovação em saúde
O número de healthtechs em Santa Catarina e no Brasil vem crescendo, principalmente nos últimos quatros anos. Segundo dados da consultoria Distrito, o país vem se tornando pólo gerador de conhecimento nesta área. Eram 248 empresas desse tipo em 2018 e saltaram para 1002 no ano passado. De janeiro até dezembro de 2021, as startups receberam mais de US$ 530 milhões em investimentos, enquanto que em 2020 o volume total de investimentos foi de US$ 127,8 milhões.
Antes mesmo da pandemia, a transformação digital chegou de vez ao setor com impacto na área pública e privada. A liberação da telemedicina, o uso de IA e apps pela saúde pública, como o app Conecte SUS, são exemplos que motivaram essa expansão, segundo a análise da Distrito.
Mesmo reconhecendo que a ajuda do setor público foi relevante durante a pandemia, empreendedores e integrantes do segmento catarinense apontam que o prazo dado para executar os projetos pode não ter sido o suficiente para a entrega das soluções, como no caso da Sensorweb, que pediu mais prazo para terminar o desenvolvimento do seu produto. Outra questão que também não deve ser atendida pelo apoio federal é a falta e o aumento do custo de mão de obra, principalmente dos desenvolvedores de sistemas.
“(O apoio) Foi importante naquele momento, mas a subvenção não vai dar conta de ajudar porque está muito caro contratar desenvolvedores. A não ser que as rubricas sejam alteradas e tenhamos mais recursos para segurar esse pessoal nas empresas de Santa Catarina e até no Brasil”, avalia Walmoli Gerber, diretor da Vertical Saúde da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE).
“Muitas empresas pivotaram produtos ou transformaram produtos para atender as necessidades da pandemia e se deram muito bem. Temos vários exemplos de empresas que ganharam muito mercado, principalmente na parte de nanotecnologia, higienização”, afirma.
Outra área que cresceu, na avaliação do diretor, com a necessidade de isolamento social foi a de telemedicina. “Tivemos também um boom, principalmente para empresas que usam plataformas para teleconsultas. Porém, não dá para esquecer que a liberação por parte do governo federal está dentro de uma lei provisória de pandemia. Na hora que ela cair, teoricamente, volta a ser proibido esses processos pelos conselhos. Mas existe uma tramitação de projetos na Câmara e no Senado para que a teleconsulta possa continuar. Seria um retrocesso, sem argumentos suficientes para proibir, um crime, como existe por parte de alguns grupos”, alerta Gerber.
PROJETOS SOBRE TELEMEDICINA NO CONGRESSO: NOVELA QUE SEGUE
Até o final de abril de 2022, o projeto de lei (PL 1998/2020) que tramita na Câmara dos Deputados desde abril de 2020, e pretende regulamentar a telemedicina, estava em processo de votação no plenário e em regime de urgência. Com a aprovação, deve seguir para o Senado, onde outro texto semelhante para regulamentar a atividade (PL n° 4223/2021) ainda estava na Comissão de Assuntos Sociais e aguardava parecer do relator, o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB).
Os dois projetos das duas casas legislativas, o do Senado é de iniciativa do senador Esperidião Amin (PP-SC), podem ser unidos assim como os outros sete que foram apensados ao PL 1998 na Câmara, da deputada Adriana Ventura (Novo-SP). A tendência é que uma nova legislação seja criada antes que o governo decrete o fim do estado de emergência por conta da pandemia, prazo que finaliza os efeitos da lei 13.989, sancionada em 15 de abril de 2020, e que liberou a telemedicina.
Também de autoria da deputada do Novo, o projeto de lei que resultou na lei que permite o atendimento remoto (Projeto de Lei n° 696, de 2020), previa que após a pandemia a regulamentação fosse realizada pelo Conselho Federal de Medicina, mas o presidente Jair Bolsonaro vetou este artigo. O argumento é que as atividades médicas devem ser reguladas por nova lei e não por entidade de classe, como determina a Constituição de 1988.
Por outro lado e na outra ponta da subvenção pública, destaca o diretor da Vertical, o setor também teve um aumento de investimentos de capital de risco. Nas contas de Gerber, mais de R$ 2 bilhões estão concentrados em quatro ou cinco empresas de nível nacional em um modelo que ele classifica como negócios de planos de saúde digitais.
“(O setor) cresceu bastante, mas tudo no digital. Ainda é difícil o investimento em hardware e esses recursos vão só para empresas com produtos que já estão prontos, o que do meu ponto de vista não é mais capital de risco. Mas tem muita coisa para acontecer ainda. Muito dinheiro depositado em empresas que são planos de saúde digitais. Empresas que usam estratégias de startups, CRM e uma reação mais proativa em relação ao seus clientes e fazem uso de gestão de dados. Pensam na prevenção, na atenção primária e acreditam muito na relação com o usuário, antevendo as necessidades deles”, explica.
A principal preocupação do diretor da Vertical, que reúne 70 empresas do setor de saúde em Santa Catarina, é a distância entre o nível tecnológico das startups catarinenses deste segmento e a capacidade de captar novos investimentos. “É preocupante, pois apesar de ser uma referência de desenvolvimento de novas tecnologias no Brasil, nós não estamos na Faria Lima. E o capital ainda fica muito distante das nossas empresas. E querendo ou não investimento tem muito a ver com relacionamento e estamos perdendo essa corrida”, avalia.
“Eu vejo muitas empresas sólidas, com produtos na prateleira, com governança com visão de mercado daqui melhores do que muitas empresas que já foram investidas por estarem numa rede de relacionamentos mais forte. Mas isso faz parte, empresas do Vale do Silício recebem mais investimentos, assim como as da Faria Lima”, completa Walmoli.
Para trazer mais investidores ao segmento, afirma o diretor da Vertical, é preciso superar o desafio de convencer os fundos a estarem mais presentes em SC e fazer mais eventos e que esses investidores dividam seu tempo entre São Paulo e Santa Catarina. “A única maneira de melhorar a entrada de investimentos é criar uma rede de relacionamentos mais forte”, afirma.
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