Tendências 2020: o ano dos investidores-anjo e das “rodadas Série A” em SC?

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Tendências 2020: o ano dos investidores-anjo e das “rodadas Série A” em SC?

Especialistas, empreendedores e investidores avaliam a perspectiva de crescimento de capital para investir em startups no estado, o avanço dos “anjos” e como isso impacta o ecossistema da Nova Economia local.

Especialistas, empreendedores e investidores avaliam a perspectiva de crescimento de capital para investir em startups no estado, o avanço dos “anjos” e como isso impacta o ecossistema da Nova Economia local. / Imagem: Rawpixel.

 

[FLORIANÓPOLIS, 20.01.2020]
Redação SC Inova / Fabrício U. Rodrigues, scinova@scinova.com.br

 

Um dos indicadores de evolução de um ecossistema é, sem dúvida, o potencial de suas startups para atrair capital de risco para desenvolvimento de novas tecnologias e serviços. Mas não é só o dinheiro: a atuação e o envolvimento de investidores-anjo e fundos de venture capital para “irrigar” esse solo empreendedor caminha na mesma direção.

Em 2019, ano em que fundos internacionais despejaram no Brasil centenas de milhões de dólares em empresas de tecnologia nascentes, criando a primeira geração de unicórnios do país (quase que todas com sede em São Paulo), em Santa Catarina os números são bem mais modestos. De acordo com dados da plataforma Crunchbase, pelo menos 12 empresas catarinenses atraíram mais de R$ 250 milhões em investimentos de risco, como apurou matéria publicada pelo SC Inova em parceria com a Escola do Financeiro. 

Este valor supera os resultados dos anos anteriores, embora mais de 70% deste volume tenha sido de um único negócio: a rodada série D que somou R$ 200 milhões à Resultados Digitais, de Florianópolis. Por outro lado, algumas empresas que já vinham despontando nos últimos anos receberam aportes significativos, ampliando sua posição no mercado de tecnologia, casos de Knewin, Exact Sales, AMcom e Movidesk que, somadas, captaram mais de R$ 50 milhões no ano passado.  

Para 2020, qual é o cenário no ecossistema catarinense com relação a capital de risco para startups e scale-ups? Teremos algum unicórnio em breve? A tendência de diversificação de investimentos (em função de redução de Selic e renda fixa) vai atrair novos investidores-anjo? O SC Inova ouviu alguns especialistas, mentores e investidores que atuam em Santa Catarina para responder algumas dessas questões. 

As respostas apontam que a tendência é cada vez mais vermos no estado a “valorização da base” – ou seja, recursos para o desenvolvimento inicial de startups e a ampliação do número de investidores-anjo – do que uma “corrida de unicórnios” e aportes na ordem de nove dígitos. 

“Minha leitura é que os fundos de venture capital estão se concentrando em aportes cada vez maiores na medida em que vão surgindo novos players, como fundos de seed e investidores-anjo, que atuam em aportes menores”, diz empreendedor, mentor e investidor Rafael Assunção, que criou no ano passado a Questum, com foco em consultoria de fusões e aquisições (M&A) para startups.   

Ventura: “temos muitas startups que captaram rodadas semente nos últimos anos e que ainda não chegaram à sua série A”. Foto: José Somensi/Divulgação

Para Rodrigo Ventura, fundador da Escola do Financeiro – voltada à capacitação de empreendedores – 2020 será o ano das séries A e dos investidores-anjo. “Temos um estoque muito grande de empresas que captaram rodadas semente (seed money) nos últimos anos que ainda não captaram sua Série A. O amadurecimento dessas empresas, a recuperação econômica do país e o aumento de recursos para venture capital podem ajudar a vermos muito mais rodadas neste estágio. Quanto aos anjos, vi muitas iniciativas de capacitação em 2019. O interesse pelo tema está aumentando, enquanto os juros básicos estão diminuindo”, ressalta.

Fundador de um dos primeiros grupos de angels em Santa Catarina, há mais de 10 anos, e líder da Rede de Investidores Anjo de Santa Catarina (RIA SC), Marcelo Cazado ressalta que “numa economia como a brasileira, em que historicamente se ganha dinheiro sem correr risco em função das altas taxas de juros, ter pessoas interessadas em atuar como investidores-anjo é extremamente positivo. Programas de capacitação, compartilhamento de cases de sucesso de investimentos, e o entendimento de empreendedores e investidores do valor real (aporte intelectual) deste tipo de investimento é essencial para um ecossistema vigoroso”. Em 2019, a Rede de Investidores Anjo de Santa Catarina aportou R$ 4,2 milhões em cinco startups, das quais quatro catarinenses e uma paulista.

 

SERIA ENTÃO O INVESTIDOR-ANJO UM NOVO HYPE NO MERCADO DE TECNOLOGIA LOCAL? 

Na opinião de Rafael Assunção, que hoje atua como diretor executivo na Questum, não: “ser investidor-anjo é um processo muito trabalhoso. Mas acredito que teremos uma nova geração de anjos liderada pelos empreendedores que ficaram capitalizados com as vendas de suas startups e que querem, além de investir o capital, apoiar outros empreendedores em sua jornada”.

Para Rafael Assunção, há uma nova geração de investidores-anjo chegando: a dos empreendedores que já venderam suas startups e buscam novos desafios e projetos. / Foto: Divulgação Questum

Essa geração apontada por Rafael, dos jovens founders que já negociaram suas empresas, ganhou novos membros em 2019, ano em que startups como Hiper, Total Voice, Conaz, entre outras, mudaram de mãos e capitalizaram seus empreendedores. E o grupo tende a aumentar nos próximos anos. “No ecossistema catarinense já temos várias empresas num nível de receita e maturidade adequado para a venda. Aqui na Questum já temos 15 mandatos de venda e acreditamos que o ano será bastante promissor”, revela.

 

A “CORRIDA DE UNICÓRNIOS” SERIA ALGO AINDA DISTANTE DA REALIDADE CATARINENSE?

Cazado, da RIA: “desenvolver ambientes que estimulem empresas inovadoras financeiramente saudáveis e que entreguem valor à sociedade é uma meta mais notável e desafiadora que criar unicórnios”. Foto: SC Inova

Para o líder da RIA SC, o volume de “unicórnios” (empresas com valor de mercado acima de US$ 1 bilhão) não é o mais importante indicador de sucesso em um ecossistema. “Não entendo como algo a ser perseguido. Acredito que desenvolver ambientes econômicos que permitam e estimulem a criação de empresas inovadoras financeiramente saudáveis e que entreguem valor à sociedade é uma meta mais notável e desafiadora que criar unicórnios”, afirma Cazado.

“Essa corrida de unicórnios é mais midiática do que qualquer outra coisa, é uma forma de chamar atenção para um segmento de mercado que está se desenvolvendo, ajuda na atração de talentos e no deslocamento dos fluxos de investimento. O importante, e o que eu prefiro, é criarmos 100 empresas de R$ 10 milhões todos os anos”, conclui Rodrigo Ventura.