O estilo de vida “easy going” atrelado ao desenvolvimento econômico ajuda a compreender algumas semelhanças entre os territórios californiano e catarinense.
[08.03.2021]
por Beatriz Testoni, analista de Investimentos no Catarina Capital
Fazer o paralelo entre Santa Catarina e Califórnia pode parecer ousado, mas ao explorar a história do começo do Vale do Silício, inúmeras semelhanças aparecerem — muitas delas não conectadas diretamente ao ecossistema de tecnologia, e sim a fatores culturais e geográficos. A grande questão segue o mesmo raciocínio do ovo e da galinha: o que veio primeiro? Não temos essa resposta. Mas as similaridades são tamanhas de modo que a comparação aparece como uma consequência. Vamos ponto a ponto.
Comecemos entendendo o Golden State.
A Califórnia é um estado americano que destoa frente aos seus pares. Tem um clima extremamente ameno, com a temperatura variando entre 30°C e 6°C, mas se mantendo na média de 23°C. Intercala temporadas de chuva e seca, mas na sua grande maioria, os dias são ensolarados, o que confere uma ótima reputação no país — e no mundo. Por estar em uma zona tropical, além do clima agradável, o reflexo na natureza é direto. Possui diversas reservas florestais espalhados pelo território, dando muitas opções de ecoturismo (inclusive um circuito de vinícolas), conferindo paisagens exuberantes.
Tais parques naturais intercalam-se com cidades cultural e economicamente extremamente ativas, com opções complementares para (quase) todos os tipos de entretenimento possíveis. As cidades são bastante arborizadas, o que confere um ambiente revigorante, favorecendo o lazer majoritariamente outdoor e um clima bastante descontraído. Não é incomum ver muitas pessoas indo trabalhar de camiseta, bermuda e chinelo, prontos para um happy-hour em um parque depois do expediente.
Uma das regiões de destaque é a Bay Area, assim chamada pelos locais, onde está localizado o Vale do Silício, o ecossistema que mais gera empresas inovadoras no planeta e é casa das transformações mais disruptivas das últimas décadas. A concentração dos headquarters da Apple, Facebook, Intel, IBM, Microsoft, entre outras 130 empresas de tecnologia, confere um fator quase místico à região. Isso se dá por um conjunto de características palpáveis/geográficas, por exemplo, como mencionado, mas também de fatores pouco tangíveis.
Um deles é o fato de que uma grande parte da população é oriunda de imigrantes de outros países. A proximidade com México, bem como a materialização do American Dream através da alta prosperidade econômica, atrai pessoas do mundo inteiro. Isso fica visível na ampla variedade de restaurantes, lojas, arquitetura e entretenimento. Assim, a diversidade e a tolerância são valores intrínsecos ainda extremamente enraizados na cultura local.
Deixando os grandes nomes de lado, o estilo de vida easy going ainda assim atrelado ao desenvolvimento econômico forte representa o local. A partir disso, já podemos compreender algumas semelhanças entre o território californiano e catarinense.
Santa Catarina, da mesma forma, também é um estado que se destaca em relação a seus pares. O clima é ameno, com as estações bem definidas, as quais conferem características ideais para a agricultura. A natureza é diversa e exuberante; serras e vales (também com sua rota de vinícolas) unidas à praias magníficas por todo o litoral fazem do estado catarinense um dos destinos mais procurados pelos turistas, nacionais e internacionais.
Em um famoso ranking de cidades, duas catarinenses ficaram entre as oito melhores cidades da América Latina para se viver, com destaque para Florianópolis na primeira posição. Um estado cujos indicadores de desenvolvimento humano se aproximam de países desenvolvidos e também tem ocupa a posição do estado com menor desigualdade social do país. Além disso, o PIB catarinense cresceu quatro vezes acima da média nacional em 2019. Em suma, dados não faltam para demonstrar a disparidade catarinense em termos de prosperidade e qualidade de vida.
Florianópolis, capital do estado, tem uma relevância ainda maior. A ampla região metropolitana é lar de um denso ecossistema de inovação, cuja densidade de startups por habitante é a maior do país. Existem diversas instituições que trabalham no fomento desse ecossistema, o qual tem uma história pautada em lideranças visionárias desde o seu princípio. Hoje, pode-se dizer que a cidade respira tecnologia e vem se tornando também um lugar místico, extremamente próspero — e atrativo. Tal atratividade fica visível no dia a dia da cidade, onde muitas vezes é raro encontrar algum manezinho nas rodas de conversa e ambientes de trabalho. A onda migratória de profissionais, principalmente de alta qualificação, onde a troca conhecimento e vivências distintas gera um ambiente dinâmico.
Além disso, a atratividade para imigrantes é enorme, com bairros majoritariamente latinos, com alta incidência de argentinos e uruguaios. E hoje, não somente no turismo, também essa latinidade tem se mostrado forte na área de negócios, com empresas locais em forte expansão nesses mercados e com o desafio de cada vez mais atrair estrangeiros para além da América Latina. Esse desafio se mostra atingível quando analisa-se o contexto do Estado como um todo.
O desenvolvimento humano atrelado ao desenvolvimento econômico demonstra a potência que Santa Catarina representa. A maçã dos olhos sendo sua capital — um polo tecnológico em uma ilha paradisíaca — é o local ideal para atrair cada vez mais profissionais talentosos, que querem um lugar mais agradável para morar, que buscam oportunidades para de fazer a diferença no trabalho sem a competitividade esmagadora das grandes cidades globais (por enquanto), e cheguem cada vez mais próximo do equilíbrio da vida profissional e pessoal. Esse é um cenário muito semelhante à Califórnia no começo do milênio.
Depois de 20 anos, o estado é um dos berços mundiais da inovação tecnológica. Temos um longo caminho pela frente, mas Santa Catarina vem demonstrando um crescimento consistente e com resultados bem distribuídos a toda sua população, bem como mantendo os braços abertos para trazer cada vez mais gente boa pra traçar essa jornada.
* Artigo originalmente publicado no Medium
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