Startups e empresas estabelecidas: pontos de atenção para parcerias de sucesso

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Startups e empresas estabelecidas: pontos de atenção para parcerias de sucesso

O processo de inovação está longe de ser simples ou totalmente harmônico, principalmente quando diferentes organizações estão envolvidas.

O processo de inovação está longe de ser simples ou totalmente harmônico, principalmente quando diferentes organizações estão envolvidas. Mas quando há um objetivo mútuo e um entendimento entre as partes, tende a desenvolver parcerias sólidas. / Imagem: Freepik


[06.07.2021]


Por Marcus Rocha, CEO do 2Grow Habitat de Inovação.
Escreve quinzenalmente sobre ambientes e ecossistemas de inovação no SC Inova.

O artigo anterior destacou os principais pontos de atenção que empresas estabelecidas precisam considerar quando se relacionam com startups, no âmbito da inovação aberta. As lideranças dos programas de inovação aberta precisam compreender expectativas, desafios e riscos percebidos pelas startups para que as parcerias tenham maior possibilidade de prosperar.

Da mesma forma, quem lidera as startups também precisa compreender a realidade das empresas estabelecidas, para entender as origens de determinados processos ou políticas e, assim, mitigar possíveis pontos de atrito, visando o sucesso do trabalho de ambas as partes, conforme também demonstra o Guia do Fórum Econômico Mundial sobre o assunto. Afinal de contas, o objetivo da inovação aberta é levar benefícios para todos os envolvidos, da forma mais equilibrada possível.

É importante que as startups percebam quais os potenciais benefícios que as empresas estabelecidas buscam nesse tipo de trabalho conjunto. Fica bastante claro que, ao utilizar mecanismos como chamadas públicas para desafios de inovação, ou ter parceiros “olheiros” de startups, as empresas procuram ampliar os canais para inovar. Dessa forma, se multiplicam as frentes de trabalho para identificar oportunidades para criar novos negócios cada vez mais inovadores e criativos, com time-to-market reduzido.

As empresas estabelecidas querem um retorno interessante para seus investimentos (ROI) em inovação, a maior parte delas busca fazer inovação aberta com startups que estejam nos seus primeiros estágios (early stage), mesmo com os riscos inerentes a essa fase. Aquelas startups que já estão com forte tração e posicionamento no mercado acabam saindo do radar dos programas de inovação aberta para serem consideradas por iniciativas das áreas de fusões e aquisições (M&A, mergers and acquisitions).

Portanto, as startups early stage precisam compreender que, para as empresas estabelecidas, elas representam um potencial de negócios ainda não realizado. Para que esse potencial seja transformado em uma realidade lucrativa, ambas as partes precisarão investir, cada qual com suas possibilidades e interesses.

Importante destacar que a maior parte das startups é super especializada, pois criaram suas soluções inovadoras para resolver problemas reais de um determinado mercado. Esse conhecimento intangível é muito valorizado pelas empresas estabelecidas, principalmente quando é somado com a cultura ágil, o foco no cliente e as próprias inovações trazidas pelas startups.

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No entanto, as empresas estabelecidas vêem riscos bastante significativos nas startups. O mais óbvio é o risco de perder os investimentos realizados. Então é esperado que algumas empresas patrocinadoras de programas de inovação aberta, especialmente aquelas que estão no início ou que possuem culturas mais conservadoras, busquem reduzir esses riscos, o que pode fazer com que a startup caia na armadilha de reduzir sua carga de inovação.

Alguns projetos de inovação aberta com startups podem envolver a participação de um ou mais clientes da empresa patrocinadora. Nesses casos, a pressão sobre a startup tende a ser muito grande, principalmente pelo risco de falhas no produto ou serviço inovador afetarem a credibilidade da empresa estabelecida. Aqui a startup precisa estar aberta à oportunidade de aprender com as tecnologias e os processos de gestão dos parceiros, o que inclusive pode fortalecer os laços com todos os envolvidos.

ATENÇÃO À HIERARQUIA E À ROTATIVIDADE NAS EMPRESAS

Quanto maior e mais hierarquizada for a empresa estabelecida, mais cuidado a startup deve ter na comunicação com as pessoas com as quais terá contato. Importante compreender que essas pessoas normalmente estão buscando ascensão dentro da estrutura da empresa e, assim, além de desejarem sucesso nos projetos de inovação aberta com startups, também querem se preservar. Essas pessoas podem ter uma tendência de superproteção dos interesses corporativos, além de terem baixa tolerância aos erros das startups. A construção de uma relação de confiança com essas pessoas-chave é fundamental para o sucesso da parceria.

Outra questão que pode ocorrer nas empresas estabelecidas é a rotatividade das equipes responsáveis pela inovação aberta, seja pela promoção das lideranças envolvidas para outras áreas da empresa, ou pela própria dinâmica de desligamentos e contratações do mercado. Além disso, as equipes designadas para trabalhar com startups nem sempre possuem os conhecimentos e a maturidade ideal relacionadas à inovação aberta.

Ao compreender essa dinâmica das empresas, as startups podem criar processos e dinâmicas que maximizem a comunicação, a capacitação e a preservação do conhecimento sobre os projetos com a empresa estabelecida, o que pode também ajudar posteriormente no relacionamento com outros clientes ou parceiros da mesma natureza.

Também é importante que as startups compreendam que nem sempre a comunicação flui bem dentro das empresas estabelecidas. Em projetos de inovação aberta que considerem a interação com diferentes áreas da empresa, a startup precisará ter atenção especial ao alinhamento de todos os envolvidos. Para que todos esses pontos relacionados às pessoas e equipes sejam adequadamente administrados, é importante que os responsáveis pelas startups construam canais de comunicação com a alta gestão da empresa, permitindo a mediação de conflitos e a correção de rumos da forma mais ágil possível.

Por mais aberta que esteja à inovação e às parcerias com startups, empresas estabelecidas possuem políticas, estruturas, processos e práticas construídos ao longo de um tempo. Por isso, é normal que a startup encontre alguma resistência para que a empresa incorpore novidades, efetuando as mudanças necessárias. Especialmente em empresas que estão iniciando seus movimentos de inovação aberta, também é esperado que haja algum nível de ceticismo em novidades trazidas de fora. Nesses casos é necessário que as pessoas que trabalham nas startups tenham paciência e persistência, pois a velocidade da empresa estabelecida para incorporar mudanças tende a ser muito menor que a da startup.

Considerando esses pontos principais, antes de desenvolver um trabalho em parceria com uma empresa estabelecida, recomenda-se que a startup avalie o seguinte:

  1. ORÇAMENTO: o orçamento disponibilizado pela empresa estabelecida, junto com os recursos disponíveis pela própria startups, são suficientes para entregar os produtos/serviços solicitados de forma bem-sucedida e sustentável?
  2. PROTEÇÃO: a pessoa que assinará o contrato pela empresa estabelecida possui autonomia e comprometimento para proteger o projeto dos riscos do próprio ambiente corporativo?
  3. APOIO: quem é o principal apoiador que ajudará a concretizar a parceria, os negócios e a colaboração com a empresa estabelecida?
  4. MÉTRICAS: quais são os indicadores chave de desempenho e as metas para avaliar uma parceria de sucesso?
  5. OBJETIVOS: quais são os objetivos da empresa estabelecida para o projeto? Por que essa empresa quer trabalhar com a startup?

Ao somar essa avaliação com os pontos de atenção descritos, a startup terá melhores chances de entender a empresa estabelecida. Ao expor suas dúvidas, preocupações e ideias, as startups também tendem a construir, desde o início, uma relação franca e aberta com a empresa estabelecida. Destaca-se que o processo de inovação está longe de ser simples ou totalmente harmônico, principalmente quando diferentes organizações estão envolvidas.

No entanto, quando o objetivo mútuo é inovar, levando ao mercado novos produtos, serviços e modelos de negócio cada vez mais criativos e bem-sucedidos, o processo de inovação aberta construído por meio do entendimento entre as partes e a busca do sucesso com equilíbrio, tende a desenvolver parcerias sólidas, de longo termo.

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