Startup Summit: os desafios para desenvolver a inovação no interior de SC

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Startup Summit: os desafios para desenvolver a inovação no interior de SC

Empreendedores, investidores e representantes do poder público avaliam como os municípios menores podem criar seus ecossistemas locais e estimular novos negócios

Empreendedores, investidores e representantes do poder público avaliam como os municípios menores podem criar seus ecossistemas locais e estimular novos negócios. Foto: Elis Pereira / Divulgação Startup Summit

O desenvolvimento econômico de Santa Catarina se caracterizou, historicamente, pela ascensão de polos regionais. Ainda é fácil referenciar o Oeste em função do agronegócio e o Norte pela indústria metalmecânica, mas mesmo estes setores economicamente fortes no PIB local encontram desafios em função de novas tecnologias e processos de inovação.

Enquanto Florianópolis conseguiu reinventar sua economia graças ao potencial de diversos empreendedores somado à presença de universidades e outras entidades públicas e privadas, quais os caminhos para que desenvolver a inovação no interior do estado? Este foi um dos temas debatidos durante o Startup Summit, evento promovido pelo Sebrae Nacional em parceria com a Acate, nos dias 12 e 13 de julho, em Florianópolis.

A resposta, segundo alguns dos participantes dos paineis, passa pela construção de redes de apoio e desenvolvimento ao empreendedorismo. Um caso emblemático é o da região Oeste catarinense. Há alguns anos, ao voltar para Chapecó, o advogado Andrei Bueno Sander perguntou a um amigo o que poderiam fazer para estimular novos negócios na cidade. Decidiram se tornar investidores em projetos locais, com base nas incubadas da Unochapecó. “Não tínhamos experiência em MVP, valuation, mas descobrimos algumas empresas prontas para receber investimento. Criamos então uma aceleradora para que as investidas pudessem se desenvolver” comenta Andrei, fundador da 1BI Capital, que além de aporte financeiro fornece orientação estratégica e operacional às startups. Uma delas, a Hub2b, espera dobrar o faturamento neste ano e chegar aos R$ 2 milhões de receita anual. Ao desenvolver uma plataforma de integração e gerenciamento de marketplaces utilizada por grandes grupos de e-commerce do país (Via Varejo, Americanas.com e Mercado Livre, por exemplo), a Hub2b se tornou uma da startups referência do Oeste e já prepara expansão comercial para São Paulo, onde estão grande parte dos clientes.

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A falta de cultura em investimentos de risco é um dos fatores cruciais para desenvolver o setor de tecnologia na região, comenta Andrei: “A cidade é rica, mas as pessoas preferem gastar milhões em um imóvel do que colocar R$ 100 mil em investimento anjo. É preciso que os investidores formem grupos, reduzam riscos e aprendam a lidar com esse tipo investimento. Até porque hoje já temos algumas startups locais que participam de aceleradoras nacionais, como o Darwin Startups e a ACE”.  

O movimento empreendedor no Oeste ganhou um impulso com a criação do Desbravalley, uma comunidade envolvendo profissionais, empreendedores, investidores e representantes de entidades e universidades para estimular eventos e iniciativas de inovação. “Fomos juntando todo mundo que queria se engajar neste propósito. E isso gerou um movimento forte: a comunidade de designers fez um DNA da marca, organizamos vários Startup Weekend, um deles só focado em soluções para agronegócio e batemos o recorde de público dos Meetups do programa StartupSC, com mais de 900 participantes em Chapecó”, resume Andrei. A preocupação, afirma, é envolver as demais cidades do Oeste neste movimento, sem se limitar à cidade polo da região.

Um movimento semelhante aconteceu nos últimos anos no sul de Santa Catarina, lembra o empreendedor Gelio Junior, que fundou a Simples Dental na pequena cidade de Praia Grande e, quando precisou expandir, se transferiu para Criciúma. Ao longo dos últimos três anos, a empresa que desenvolve um sistema de gestão para dentistas cresceu de 50 para 2,4 mil clientes, recebeu investimento de uma grande empresa do setor de saúde e emprega hoje mais de 20 pessoas.

“Quando mudei a empresa para Criciúma, não havia nenhum movimento de comunidade. Depois do Startup Weekend é que o pessoal começou a se empolgar e se reunir periodicamente. Nos últimos dois anos já aconteceram mais de 70 encontros de desenvolvedores e empreendedores. Em cada evento a gente deixa a porta aberta para que mais pessoas venham fazer parte”, comenta.

A PARTE QUE CABE À GESTÃO PÚBLICA

A criação de uma rede de Centros de Inovação em 13 municípios de Santa Catarina se tornou uma das principais bandeiras da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável do Governo do Estado nos últimos anos. “Quando se procura uma informação ou ajuda para criar um projeto de inovação, onde é que a pessoa vai? Na Capital é fácil, mas no interior não. Esse é o propósito de criarmos os centros”, explica Jean Vogel, diretor de Ciência e Tecnologia da SDS, “mas o prédio sozinho não vai gerar inovação e não é o governo quem vai empresas lá pra dentro. O ecossistema tem que funcionar”.

Em Florianópolis, a prefeitura precisou correr na velocidade do setor privado para responder a algumas demandas locais, como a criação da Lei da Inovação e de um fundo específico para investimento nesta área. “Como órgão público, precisamos dar um caminho reto e seguro para quem quer fazer coisas dentro da legalidade. Estamos passando, por meio do programa Cidade Empreendedora, do Sebrae, de uma revisão de 20 anos de legislação. São muitos debates, o processo é mais lento do que gostaríamos, mas precisamos desenvolver as bases de um ecossistema seguro”, resume Marcus Rocha, Superintendente de Ciência, Tecnologia e Inovação na Prefeitura de Florianópolis.

Reportagem: Fabrício Rodrigues, scinova@scinova.com.br