Smart City Expo Curitiba: como a crise climática impacta o planejamento nas cidades

Evento trouxe exemplos de como o semiárido nordestino vem criando projetos para gerar energias renováveis – e de como estamos nos tornando mais notívagos nas cidades por conta do calor. / Foto: Agência SC Inova

[CURITIBA, 22.03.2024]
Por Fabricio Umpierres, editor SC Inova – scinova@scinova.com.br 

Depois do ano mais quente da história, e da possibilidade que 2024 seja ainda mais extremo, os efeitos da crise climática global se tornam um desafio cada vez mais presente para gestores públicos e planejadores urbanos, como ficou claro em diversos paineis do Smart City Expo Curitiba, que encerra nesta sexta (22). 

Isso significa buscar soluções para que as cidades reduzam desde emissões de gases e destinação de resíduos, desenvolvimento de matrizes energéticas sustentáveis e a forma de transformar regiões inóspitas em ambientes inovadores e propensos a novos negócios. 

No semiárido nordestino, por exemplo, um projeto tem levado conceitos de sustentabilidade e de smart cities a diversas cidades na Paraíba, como detalhou André Agra, professor e coordenador do Espaço Cidadania Digital do Tribunal de Contas do Estado, que desenvolve ideias e experimentos em favor do controle social dos atos e gastos públicos.

“A distribuição de água no Brasil é extremamente desigual, o que mostra que nosso modelo de exploração é equivocado. O Nordeste tem apenas 3% da água disponível do país para um total de 27% da população. Vivemos no semiárido mis povoado do planeta, composto por 1,4 mil município e com 28 milhões de habitantes. Água pra gente é ouro”, destacou. Uma das solução tem sido a exploração de áreas de caatinga (a “floresta branca”) para instalação de usinas de energia solar e eólica, como na cidade de Santa Luzia, que tem 15 mil habitantes. “O sol, que tanto castigou o sertanejo, agora é nosso aliado”.

Agra destacou outro ponto central no planejamento das cidades, que é a mobilidade urbana e o excesso de carros e motos nas ruas. “Só na Paraíba, que tem 3,5 milhões de habitantes, há mais de 1 milhão de motos. Os hospitais estão lotados de pessoas acidentadas, que ficam 50 dias em UTI e geram um custo social altíssimo. Há um fetiche de asfalto no Brasil, mas o ritmo das cidades deve seguir o ritmo das pessoas e não dos carros”, concluiu.

Na Argentina, a RAMCC, uma rede que congrega 274 municípios de 19 províncias do país, está se valendo de uma metodologia para enfrentar os desafios das mudanças climáticas. Com o objetivo de neutralizar as emissões de carbono até 2050, a coordenadora de alianças e projetos internacionais Valentina de Marco deu o passo a passo desta iniciativa, que passa pelo planejamento climático, a validação internacional, a implantação de um plano de ação, que deve ser constantemente monitorado e atualizado. “Há o plano de mitigação e o de adaptação, e em ambos nós partimos do diagnóstico, definimos os objetivos e as estratégias para a ação”, detalhou.

AQUECIMENTO GLOBAL CRIA NOVOS HÁBITOS NOTURNOS

O aquecimento global é também um dos aspectos presentes nas pesquisas realizadas por Andreína Seijas Jaspe, partner do conceituado escritório do urbanista dinamarquês Jan Gehl, sobre governança e planejamento noturnos, um novo campo de pesquisa e prática. A pesquisadora e consultora venezuelana começou a estudar os hábitos noturnos de pessoas nas cidades há 15 anos, e como isso pode ajudar a definir políticas urbanas inteligentes. 

Em entrevista ao SC Inova, ela lembrou que do ponto de vista climático, a noite é um espaço muito importante em uma cidade. “A crise climática não termina às 18 horas, quando a maioria das pessoas vai do trabalho pra casa. Estamos vendo agora, em cidades do mundo todo, diferentes tipos de usos tradicionais durante o dia acontecendo à noite, como exercícios físicos, pic nics, frequentar parques. Por quê? Por causa do aumento das temperaturas. E como elas vão ficar cada vez mais altas, as cidades e os governos se perguntam: devemos fazer festivais no verão, já que tivemos tragédias como no show da Taylor Swift aqui no Brasil no ano passado”.

Ela destaca também o impacto das atividades noturnas para o cotidiano das mulheres. “Na América Latina, de onde venho e onde comecei a fazer as pesquisas, as mulheres deixam de trabalhar à noite, elas preferem ficar em casa a aceitar um determinado trabalho à noite ou pegar o metrô ou o ônibus. Elas gastam mais dinheiro do que os homens para se mobilizarem à noite apenas por causa do medo”. 

LEIA TAMBÉM: