Operações de compra pouco prováveis – ou agressivas, como a de Elon Musk para obter a rede social – podem se tornar realidade num piscar de olhos. Imagem: Edgar Moran (Unsplash)
[28.04.2022]
Por Alexandre Constantini, partner no Newton Tech Fund/Catarina Capital
A aquisição do Twitter pelo bilionário Elon Musk traz à tona diversos pontos interessantes para debate. Primeiro, M&A é parte constante do jogo no mundo tech, e gigantes em segmentos específicos também podem ser alvo de aquisições de grupos maiores (Microsoft comprando Activision e a Salesforce comprando Slack são outros bons exemplos recentes). Além disso, o tema de uma regulamentação mais severa para grandes conglomerados tech vai ganhar ainda mais força, tema este que já vem sendo debatido ao redor do globo há longos meses, mas ainda com pouca efetividade prática.
Por fim, o preço pago por Elon Musk pelo Twitter de USD 54,20 por ação embute um prêmio interessante de 38% sobre o preço de mercado em 1º de abril (quando Musk anunciou que já havia comprado um stake de 9% no Twitter). Ou seja, tal prêmio inegavelmente sugere que a correção de ações de tecnologia pode ter sido exagerada com os recentes receios de juros maiores, mas escancara também que o valuation de USD 73 por ação atingido em julho de 2021 no auge da pandemia pode ter sido um ponto fora da curva (o que pode ser aplicado à realidade de outras empresas tech que amargaram grandes correções em suas ações nos últimos meses).
Simplificadamente, quais lições e conclusões podemos tirar da transação do Twitter com base nos pontos acima?
No que se refere a seara de possíveis M&As, salientamos o risco de ter posições à descoberto em ações tech. Deals “pouco prováveis” podem tornar realidade num piscar de olhos (Paypal comprando Pinterest – ainda que nao tenha sido concluído – é um bom exemplo). Temos uma preferência clara por posições “long” em ações de tecnologia ao invés de operar “short” estes papéis.
No quesito regulamentação, fica claro que a pressão de órgãos reguladores, juristas, congressistas e até mesmo de parte da sociedade civil, por uma maior limitação do poder de atuação das Big Techs vai aumentar. Tal sentimento vem ganhando terreno com depoimentos contrários aos impérios de Facebook, Google, Amazon, no sentido de enfraquecê-los e fomentar mais competição.
A senadora democrata Elizabeth Warren já ganhou os holofotes novamente pedindo urgência em regras mais duras para as Big Techs nos EUA. Vale ressaltar que em nossas análises já penalizamos fortemente tais empresas neste quesito, embora inegavelmente a pressão negativa sobre estes papéis pode pesar na performance de curto prazo.
Já os valuations, após uma sangria desatada nos primeiros meses de 2022, apresentam vários papéis despencando 30%, 40%, 50% até 70% desde seus highs – como Paypal, Shopify, Roku, Twilio, entre tantos outros. Fica a dúvida se houve exagero no otimismo antes, ou se há exagero no ceticismo agora. Certamente parte dos valuations pagos estão relacionados ao momento macro global, levando-se em conta liquidez, crescimento econômico, perspectivas de investimentos e consumo, mas nos parece claro que um meio termo seria a resposta mais coerente agora.
E o preço pago por Musk, mais uma vez, ilustra bem isso. Ou seja, empresas que atualmente negociam a múltiplos níveis pré-pandemia nos parecem atraentes num horizonte de médio-longo prazo, principalmente se levarmos em consideração que muitas delas multiplicaram suas receitas por 2, até 3 vezes, e em vários casos, deixaram de ser empresas deficitárias na geração de caixa e passaram a gerar caixa de fato.
No curto prazo, o sentimento negativo vindo das pressões inflacionárias, das sanções em função da guerra na Ucrânia, do ciclo de aumento de juros já em curso – e agora – de novos receios de lockdowns na China afetando a cadeia de suprimentos pesam contra uma rápida recuperação. Soma-se a isso uma safra de balanços que aparentemente terá poucos recursos para acalmar e animar o mercado, ainda que em vários casos, alguns números batam as estimativas dos analistas.
Mas num horizonte de médio-longo prazo, analisando um cenário de recuperação gradual e a solidez das operações das empresas que compõem nosso portfólio, acreditamos que exista uma janela de oportunidade bastante interessante para aportes graduais em ações com bons fundamentos.
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