Quais os principais entraves para tornar Florianópolis uma cidade inteligente?

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Quais os principais entraves para tornar Florianópolis uma cidade inteligente?

Estudo Smart City Floripa 2030 evidencia os desafios que a capital catarinense tem pela frente se quiser se tornar uma referência internacional em inovação.

Estudo “Smart City Floripa 2030” evidencia os desafios que a capital catarinense tem pela frente se quiser se tornar uma referência internacional em inovação nas próximas décadas. Entre eles, a necessidade de olhar a inovação além do desenvolvimento tecnológico. 


[FLORIANÓPOLIS, 30.07.2020]
Fabrício U. Rodrigues, editor SC Inova, scinova@scinova.com.br    

O desenvolvimento do setor de tecnologia e a construção de um “ecossistema” de inovação tem atraído cada vez mais olhares à Florianópolis ao longo dos últimos anos: eventos, investimentos em startups locais, fortalecimento de entidades associativas e programas empreendedores comprovam o upgrade da capital catarinense de mero destino turístico e de estudo como uma promissora cidade para negócios da Nova Economia.

Mas o quão distante esta cidade de pouco mais de 500 mil habitantes – que também convive com uma série de problemas urbanos e sociais – está para ser considerada uma “smart city”? Perto de outras referências globais, quanto tempo levaria e, mais importante, o que precisa ser feito para efetivamente ser reconhecida como uma cidade inteligente?

Um panorama dos avanços regionais e dos desafios que setor público e privado precisam encarar conjuntamente está registrado no estudo Smart City Floripa 2030, apresentado nesta quinta, 30.07, pela Câmara de Tecnologia e Inovação da Fecomércio-SC. A pesquisa, que envolveu entrevistas com representantes da “quádrupla hélice” (governo, academia, mercado e sociedade civil) iniciou em 2018 e trouxe uma perspectiva de Florianópolis comparada ao Índice Global de Inovação, no qual o Brasil ocupa a 64a. colocação.

Os entrevistados avaliaram a categoria “Sofisticação dos Negócios” como a área com o melhor desempenho em Florianópolis, sendo que 75,3% a consideraram acima da média nacional.

Já o “desenvolvimento institucional” foi percebido como o mais desafiador da cidade, pela falta de características ideais de governança, instituições, parcerias e relações internacionais, mecanismos de apoio e ambiente regulatório, segundo menção da maioria dos participantes da pesquisa. Com relação a governo, as principais preocupações referem-se à não-continuidade das ações e projetos, além de ineficácia dos órgãos públicos e falta de gerenciamento adequado da inovação.

A íntegra da pesquisa pode ser baixada neste link.

DESAFIOS: INOVAÇÃO ALÉM DA TI, PROTAGONISMO FEMININO, MUITAS IDEIAS E POUCA AÇÃO 

Ainda que o estudo reconheça uma série de pontos positivos para que a capital catarinense possa futuramente se tornar uma “smart city” – como uma crescente cultura de empreendedorismo, formação de talentos e atração de pessoas criativas, qualidade de vida e um ecossistema de inovação em desenvolvimento – o caminho pode ser mais longo do que muitos entusiastas pensam. No “curto prazo”, há ações mais urgentes que podem gerar resultado até 2030, enquanto o “médio prazo” estimado é o ano de 2050 e as ações de longo prazo citadas devem prever um cenário de desenvolvimento até 2100.  

Incentivar outros segmentos econômicos fortes na Ilha a inovar e investir em arte e cultura fazem parte da lista de desafios locais, aponta estudo. / Foto: Divulgação PMF

Entre os principais desafios (a lista é longa) que gestores públicos, academia, setor privado e sociedade têm pela frente na cidade são:

  • Universidades resistentes à mudança;
  • Muitas ideias e pouca ação: projetos não são colocados facilmente em prática;
  • Há barreiras na mudança de mentalidade tornar o setor de turismo de lazer em turismo inovador e de experiências;
  • Setor de turismo e inovação desconexos;
  • Falta de mulheres empresárias em um ecossistema de governança de negócios dominado por homens;
  • Falta de mulheres interessadas em áreas como engenharia e desenvolvimento de softwares e sistemas;
  • Pouca retenção de força de trabalho qualificada;
  • Falta de uma agência de desenvolvimento urbano que atue como um “orquestrador de ecossistemas”, integrando de maneira neutra os interesses da cidade;
  • A inovação é restrita ao setor tecnológico. É preciso perceber o potencial da inovação em todos os setores;
  • Falta de planejamento e burocracia;
  • Setor público precisa aprimorar a capacidade de planejamento estratégico de longo prazo;
  • Ausência de cultura de internacionalização
  • Os clusters da cidade precisam ser melhor estruturados, e pensar em inovação como algo além do setor de tecnologia da informação;
  • Falta de reconhecimento claro da mentalidade de empreendedor como algo positivo;
  • Falta de investimento em arte e cultura para “tirar as pessoas da caixa” e promover a inovação.

O estudo, contudo, aponta uma série de outros pontos positivos na região que, se desenvolvidos, poderiam resolver parte dos desafios acima listados, como:

  • A cidade é diversa e oferece uma qualidade de vida que atrai pessoas, principalmente para a base de talentos;
  • Muitos destes talentos são qualificados em instituições educacionais e de pesquisa de qualidade, com destaque para a Universidade Federal de Santa Catarina e para a Universidade do Estado de Santa Catarina;
  • Há a oportunidade de atrair meninas e mulheres para a ciência e tecnologia a fim de possibilitar aumento da mão de obra para suprir as demandas das empresas;
  • A cidade abriga duas das principais incubadoras do país que também são premiadas e servem como referência em termos de Brasil;
  • O associativismo é forte, os empreendedores estão conectados e se protegem, inclusive na contratação de funcionários;
  • O Centro da cidade apresenta potencial para se tornar um cluster de inovação;

Alguns exemplos de ações realizadas na cidade – como o projeto de laboratório urbano Living Lab – foram tema de debates em Florianópolis em novembro passado, durante o Knowledge Cities World Summit (KCWS), promovido pela Fecomércio-SC e que trouxe mais de 30 palestrantes nacionais e internacionais. 

“O cenário da capital catarinense é favorável a esta transformação, pois reúne instituições educacionais de ponta, tem capital humano e uma base de talentos invejável, carrega um dos melhores indicadores de qualidade de vida e abriga um polo tecnológico robusto. Esperamos que o diagnóstico apresentado nesta pesquisa seja um guia para os tomadores de decisão”, comenta o presidente da Fecomércio-SC, Bruno Breithaupt.

O estudo Smart City Floripa 2030 foi realizado em parceria com a UFSC, a Queensland University of Technology (Austrália), prefeitura de Florianópolis, Governo do Estado, Sebrae/SC e entidades como Instituto Lixo Zero e FloripAmanhã. 

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