“Desenvolver software é também um processo artístico, que deve ser feito com dedicação, empatia e organização, agregando metodologias colaborativas que criem um ambiente propício para a inovação”
Por Pascoal Vernieri*
Um dos maiores dilemas das empresas na hora de iniciar o desenvolvimento de um novo projeto de software é se utiliza o tempo da equipe interna de TI ou se adota desenvolvedores externos, terceirizados. Os dois caminhos apresentam vantagens e desvantagens evidentes.
Quem opta por aproveitar novos projetos com a equipe própria de TI confia na capacidade de seus desenvolvedores – que já conhecem bem a empresa, sua cultura e o perfil de clientes – para criar um produto complementar ou inovador em relação ao que já oferece ao mercado. A dúvida é se vale a pena investir o tempo e os recursos necessários deslocando parte do time – que em princípio deveria cuidar daquilo que gera receita para a empresa – para algo que ainda é apenas uma central de custos.
A alternativa, terceirizar o desenvolvimento, pode ser mais vantajosa em termos financeiros, mas requer um acompanhamento muito rigoroso do processo, com risco de gerar um produto final muito distante do que foi planejado – e aí ter que começar tudo de novo, o pior dos mundos.
Minha experiência como desenvolvedor de sistemas, consultor e gestor de projetos levou a experimentar um modelo híbrido, baseado em uma metodologia que une práticas ágeis e design thinking para casar os benefícios do desenvolvimento interno e da terceirização. Para isso, é preciso mesclar times (internos e externos) e usar alguns indicadores específicos para medir o sucesso do projeto. Mas como?
Medir sentimento de entrega e não só performance
Entendo que uma das maiores dores das empresas e empreendedores que optam pela terceirização seja o envolvimento dos profissionais com o projeto, muito mais que uma entrega técnica ou performance. Chamo isso de “sentimento de entrega”, algo que parece intangível mas que faz toda a diferença durante o processo pois gera engajamento e criatividade na resolução de problemas.
Desenvolver software é também um processo artístico, que deve ser feito com dedicação, empatia e organização, agregando metodologias colaborativas – como design thinking, canvas, agile – que criem um ambiente propício para a inovação. Não à toa, a expressão “ateliê de software” vem se popularizando entre empreendedores e grandes corporações que precisam de modelos mais personalizados de desenvolvimento.
Mais do que desenvolver: criar e gerenciar times
Outro fator crítico no processo de desenvolvimento externo de softwares está na falta de uma metodologia para construção conjunta dos projetos. Tudo começa no desenho dos processos: qual é a demanda que o cliente pretende resolver? Quais as restrições orçamentárias ou necessidades do time comercial? A partir disso, cria-se grupos multidisciplinares – com pessoas da empresa contratante e do contratado – que interagem ao longo do desenvolvimento do projeto, como se fossem um time só. Um exemplo recente: desenvolvemos sob medida uma plataforma educacional com monitoria de inteligência artificial ao longo de oito meses, com entregas periódicas. Para isso, construímos o time e definimos o Product Owner, um profissional da empresa que nos contrata que irá acompanhar o projeto durante todo o período, fazendo especificações e entregas a cada 15 dias.
Um detalhe fundamental está na criação de dinâmicas para que o time absorva de forma mais rápida e produtiva todas as dores e quais seriam as soluções mais assertivas. Não basta ser consultor e entregar um playbook – a proposta de valor é entrar nas dinâmicas, colocar a mão na massa e construir em conjunto.
Fique aberto para testar novos modelos
Não adianta buscar soluções inovadoras em modelos pré-estabelecidos. Abraçar incertezas e não ter medo de mudar conceitos, pivotar ideias, fazem parte do processo de desenvolvimento de novos produtos. Os riscos, porém, são mitigados quando a empresa (ou o empreendedor) entende que é possível trazer novas visões e modelos de co-criação ao seu projeto. Por outro lado, da parte de quem é contratado para desenvolver em conjunto, o comprometimento é peça-chave: o projeto tem que ser visto como se fosse seu, portanto, entregue o melhor!
O mercado – seja o corporativo ou o consumidor final – saberá reconhecer um produto inovador. E é isso que fará sentido para seu negócio.
*Pascoal Vernieri, empresário e gestor de projetos, é fundador da Plathanus Consultoria e Gestão
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