Programa de inovação da Unisul estimula estudantes a transformarem TCCs em startups

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Programa de inovação da Unisul estimula estudantes a transformarem TCCs em startups

Projeto TCC Startup e Laboratório de Inovação, criados em 2015, levam empreendedorismo na prática aos alunos – meta é ajudar a desenvolver 100 projetos neste ano.

Projeto TCC Startup e Laboratório de Inovação, criados em 2015, levam empreendedorismo na prática aos alunos – meta é ajudar a desenvolver 100 projetos neste ano.

 

Um programa de inovação iniciado há três anos na Grande Florianópolis – e que foi premiado em concurso nacional da Endeavor – é o responsável por gerar mais de 50 startups em um ambiente universitário, envolvendo 20 professores e outras 500 pessoas em projetos de extensão, pesquisa, ensino, empreendedorismo e eventos. Este é o resultado do programa TCC Startup, que junto com o Laboratório de Inovação (iLab), tem transformado o campus da Unisul na Pedra Branca, em Palhoça, em um ambiente de experimentação, formação de empreendedores e novos negócios.  

Se as primeiras incubadoras do Brasil nasceram no ambiente das universidades, durante a década de 1980, não seria uma evolução natural, na era das startups, que os centros de ensino superior também fossem alguns dos principais geradores de negócios inovadores no país?

Seria, se muitos dos projetos desenvolvidos por alunos recém-formados virassem de fato novas empresas e não apenas ideias encadernadas e guardadas nas bibliotecas universitárias. Ao perceber que havia muito potencial de negócios inovadores nos trabalhos de conclusão de curso (TCC) que lia, o professor Geraldo Campos, coordenador do Núcleo de Empreendedorismo da Unisul na Grande Florianópolis, viu a oportunidade (e a necessidade) de criar um programa para não só estimular os alunos a pensar os TCCs como uma startup mas também oferecer uma infraestrutura capaz de incubar e acelerar estas ideias.

Foi assim que nasceram, em 2015, iniciativas como o TCC Startup e o iLab, um laboratório de inovação para ajudar os estudantes naquilo que é a principal dor dos empreendedores: como validar as ideias, conquistar clientes e criar um modelo de negócios rentável.  “Queríamos trazer o movimento das startups para o ambiente da universidade. Mas para isso é preciso mudar a cultura dos estudantes e dar uma perspectiva de pensamento empreendedor, criando um ecossistema”, explica Geraldo, 42 anos, professor na Unisul desde 2000.

Empreendedor “de berço”, ele veio de uma família de comerciantes do Rio Grande do Sul que se estabeleceu em Santa Catarina há mais de três décadas. Com formação em Educação Física e mestrado em Administração, passou por várias áreas na universidade até chegar, em 2013, à Agência de Inovação e Empreendedorismo (Agetec), quando começou a se dedicar mais profundamente no ambiente de novos negócios e startups.  “Desde que comecei a lecionar, essa questão me preocupa: o aluno passa anos estudando um tema, defende e depois todo aquele conhecimento acaba como um projeto na biblioteca”.

“O que nos motiva é a capacidade de compartilhar conhecimento – isso transforma a vida das pessoas”, comenta o professor Geraldo Campos, coordenador do Núcleo de Empreendedorismo da Unisul na Grande Florianópolis. Foto: Divulgação iLab

Em 2014, ele apresentou um projeto, apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Santa Catarina (Fapesc), sobre ambientes de aprendizagem. A ideia era entender qual seria o melhor modelo para uma universidade criar um microecossistema de empreendedorismo e inovação, inserindo os alunos e estimulando novas ideias. Deste estudo, saíram algumas certezas: era preciso criar um modelo compartilhado, de conhecimento entre os diversos cursos e também dos espaços físicos da universidade; não basta organizar eventos para disseminar a inovação se não houver um programa e uma metodologia envolvendo alunos e professores.

Com o aval da diretoria da universidade, o piloto foi feito com 11 TCCs de cursos como Sistemas de Informação, Administração e Engenharias.  Nesse modelo, os alunos desenvolviam seus projetos ao longo de cinco fases: desenvolvimento da ideia e modelo de negócio; prototipação/produto mínimo viável (MVP); conquista dos primeiros clientes; estruturação do negócio; e ganho de escala e mercado. Ali, surgiram no primeiro ano ideias como um sistema rastreador de pets e uma mochila especial para recolher lixo em ambientes sem acessibilidade.

“Teoria o aluno pode encontrar em qualquer lugar. O momento mais crítico é quando ele precisa começar a vender. Por isso, começamos a fortalecer o processo de mentorias ao longo do TCC para ajudá-lo a entender como monetizar o projeto”, lembra o professor. Segundo ele, apesar de existirem outras iniciativas semelhantes em universidades do país, o modelo da Unisul se difere pela fase de captação de clientes que é obrigatória nos TCCs.  

Desde então, o programa já ajudou a desenvolver mais de 50 startups na Unisul: após os 11 primeiros projetos em 2015, foram 25 em 2016 e 30 no ano passado. Entre os cases de destaque estão o aplicativo SOS Eleitor, uma rede social que permite ao cidadão fiscalizar as atividades do legislativo municipal, denunciar irregularidades e fazer solicitação de melhorias; o Interagir, plataforma de automação de marketing digital; e o Anunciei, um modelo de anúncio de empresas usando adesivos em carros particulares, entre outros.

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Para 2018, a meta é transformar 100 TCCs em futuras startups. “Conseguimos otimizar o ciclo de desenvolvimento e vamos fazer duas edições neste ano. Quanto mais rápido e consistente for o projeto para o ecossistema, maiores as chances do empreendedor validar e transformar em negócio”, comenta o coordenador do iLab.  

Em 2016, o projeto do TCC Startup foi o vencedor do prêmio Educação Empreendedora da Endeavor, concorrendo com outras 117 iniciativas do país. A premiação foi uma imersão de três semanas no Babson College, em Boston, uma das principais referências em desenvolvimento de novos empreendedores nos Estados Unidos. “O grande objetivo, desde então já claro para nós, era preparar o aluno não somente para um diploma, mas para um projeto de vida”, escreveu o professor em relato publicado no portal da Endeavor.

Além de uma metodologia para os TCCs, a universidade iniciou no mesmo ano a criar o laboratório de inovação para servir como suporte aos empreendedores. Ao longo de três meses, foram organizados vários eventos de co-design para montagem do espaço, envolvendo mais de 300 participantes, entre alunos, professores e empreendedores de fora. “A ideia era criar um hub de pessoas e projetos”, lembra Geraldo. O iLab, um espaço de aproximadamente 80 metros quadrados com perfil de coworking, é aberto para os empreendedores e também recebe diversos encontros da comunidade local de startups.

O Laboratório de Inovação é uma espécie de spin-off da Universidade: “tudo vira insumo de pesquisa e experimentação”, diz o coordenador. / Foto: Divulgação iLab

O laboratório conta com uma média de 8 a 10 professores-mentores por semestre, de diferentes cursos mas que compartilham perfil empreendedor e vivência de mercado, que auxiliam os alunos em temas como modelagem de negócio, plano de marketing, tecnologia, economia e internacionalização. Além disso há os mentores convidados, palestrantes, empreendedores e executivos, escolhidos para auxiliar com visão de negócio, operação e também um pouco de inspiração. “Mentoria não é só contar vivência, escolhemos quem instiga os participantes e também dão tarefas”, destaca.

O iLab, explica Geraldo, funciona também como uma spin-off da universidade. Além do que é feito pelos empreendedores há projetos dos professores: “tudo vira insumo de pesquisa e experimentação. Já tivemos até um Shark Tank (programa de TV em que empreendedores pedem investimento às suas startups para grandes empresários) em sala de aula”.

E como é o vínculo com a universidade depois que o empreendedor apresenta o TCC e conclui a graduação? Funciona como um investimento semente: é feito um contrato de três anos, no qual a empresa pode utilizar a estrutura e alguns serviços e, a partir do segundo ano de faturamento repassa um percentual em parcelas (2% do total no segundo ano e 3% no terceiro).

“O que nos motiva é a capacidade de compartilhar conhecimento – isso transforma a vida das pessoas. O aluno que nos escolhe é cheio de sonhos, então a gente tem que ajudar esse cara. Não é que educação empreendedora seja importante, ela é fundamental”, atesta.

Reportagem: Fabrício Rodrigues, scinova@scinova.com.br