Estes ambientes criam negócios e cadeias produtivas que crescem rapidamente. Além disso, os territórios que atraem startups e investidores criam um círculo virtuoso de desenvolvimento sustentável que traz ganhos para a sociedade local.
Foto: Startup Summit 2022, evento do ecossistema tech em Santa Catarina (Agência SC Inova)
[16.08.2022]
Por Marcus Rocha, Conselheiro e Especialista em Ecossistemas e Habitats de Inovação.
Escreve quinzenalmente sobre o tema no SC Inova.
Com o desenvolvimento bem sucedido de ecossistemas de inovação no Brasil, o conhecimento adquirido nesses processos começou a ser registrado e sistematizado. É bem verdade que, mesmo com alguns referenciais disponíveis a partir de experiências em outros países, as particularidades brasileiras exigiram uma boa dose de criatividade das lideranças de cada ecossistema, que muitas vezes precisaram desenvolver seus trabalhos na base da tentativa, com erros, correções e acertos.
Mesmo ainda sem haver uma diretriz clara sobre como dimensionar o território de um ecossistema, assunto já abordado nesta coluna, o fato é que diferentes atores locais já perceberam a importância de desenvolver seus próprios ecossistemas de empreendedorismo inovador. E os motivos são bastante práticos.
Ecossistemas de inovação de sucesso criam negócios e cadeias produtivas que crescem rapidamente. Independentemente se as empresas geradas no local são altamente inovadoras ou não, com ou sem modelos de negócio altamente escaláveis, quando um território começa a gerar e/ou atrair um volume expressivo de startups, scale-ups, ou empresas de base tecnológica de sucesso, cria-se um círculo virtuoso de desenvolvimento sustentável – econômico, social e ambiental – que traz ganhos para toda a sociedade local e que permanece por longos períodos de tempo.
Há um senso comum de que um dos principais indicadores de sucesso de um ecossistema de inovação é a “emissão de notas fiscais pelas empresas inovadoras”. Um ponto a ser lembrado é que a maior parte das empresas inovadoras busca modelos de negócios escaláveis, baseados na prestação de serviços. Aqui no Brasil, isso se traduz no aumento da arrecadação do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza, um tributo municipal popularmente conhecido como ISS.
Quando o ecossistema começa a ter empresas inovadoras muito bem sucedidas, com faturamento anual na casa de milhões ou bilhões de reais, elas mesmas começam a criar suas próprias cadeias produtivas, gerando uma série de outros negócios. Importante haver articulação para que isso ocorra preferencialmente no próprio território. Além disso, dada a natureza inovadora dessas empresas, a tendência é que elas também passem a investir em outros empreendimentos inovadores para manter sua posição competitiva no mercado, criando um efeito multiplicador que dá maior robustez ao ecossistema.
AMBIENTES INOVADORES AMPLIAM ARRECADAÇÃO E GERAÇÃO DE EMPREGOS
Portanto, um ecossistema de inovação bem sucedido disponibiliza um aumento significativo na arrecadação do próprio município. Assim, as Prefeituras passam a ter mais recursos para investir em Educação, Saúde, Saneamento, Infraestrutura, entre outras atividades importantes, sem depender tanto de repasses dos Governos Estadual e Federal. Além disso, cidades que possuem bons serviços nessas áreas passam a ter melhores indicadores de Qualidade de Vida, e tendem a atrair mais negócios e mais profissionais qualificados.
O sucesso na geração e atração de negócios inovadores também traz um outro componente interessante para o território: a geração de oportunidades de trabalho e emprego de qualidade. É bem verdade que, quanto maior o sucesso nesse quesito, maior será a pressão pela formação de talentos, pois a demanda por profissionais capacitados aumenta rapidamente.
Para que não haja um “apagão” de talentos, é fundamental que os atores do ecossistema locais articulem ações de educação em diferentes frentes. Primeiro, a formação em nível local, desde a educação fundamental, básica e média, visando a excelência nas disciplinas STEAM (Ciências, Tecnologia, Engenharias, Artes e Matemática), Lógica, Língua Portuguesa e Língua Estrangeira. Segundo, também em nível local, a capacitação profissionalizante com foco principalmente em pessoas em idade produtiva e que estejam sem trabalho ou que queiram se reposicionar no mercado de trabalho.
O ensino em nível superior também é importante, lembrando inclusive que inovação e tecnologia não estão apenas restritas às Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC), mas também em áreas como química, bioquímica, genética, materiais, eletrônica, mecânica etc. Para isso, é fundamental a articulação entre as empresas dos principais setores da economia da região, e as universidades, para que haja foco na formação dos profissionais e empreendedores da inovação, além do desenvolvimento de atividades de pesquisa de novas tecnologias e talentos de acordo com a demanda local.
Por fim, muitas vezes também é necessário atuar na atração de talentos de outros locais. A soma dessas ações, caso bem-sucedidas, tendem a gerar uma situação futura de pleno emprego no território, o que ajuda a resolver uma série de desafios sociais, tais como pobreza, habitação, saúde e segurança, principalmente. Ou seja, outro ponto de extremo interesse.
Outro ponto de destaque em ecossistemas locais de inovação bem sucedidos é a geração e distribuição de riquezas no território. De início, nota-se a geração de oportunidades de trabalho e emprego nas empresas inovadoras com remuneração em valores mais altos, dado o nível de qualificação profissional e a própria competitividade nacional e mundial existente hoje por profissionais qualificados.
DISTRIBUIÇÃO DE RIQUEZAS EM VEZ DE CONCENTRAÇÃO
O sucesso das empresas também cria um aumento do seu valor de mercado, fazendo com que os acionistas, tipicamente empreendedores que iniciaram a empresa no território ou que levaram seus negócios para o local, passem a ter seu patrimônio aumentado. Práticas de retenção de talentos baseadas na distribuição de cotas de capital das empresas, usando mecanismos como vesting ou stock options, além da instalação de fundos de investimentos no ecossistema, passam a distribuir riquezas localmente. Ou seja, cria-se um modelo econômico que distribui mais do que concentra riquezas e, quando há movimentos de liquidez, o dinheiro recebido também tende a ser reinvestido no próprio território.
Quando bem sucedido, o ecossistema passa a também criar um ciclo de fortalecimento quando as empresas estabelecidas passam a comprar os produtos ou serviços inovadores desenvolvidos no próprio ecossistema. Isso, de imediato, torna as demais empresas da região mais competitivas pela própria incorporação de inovações, o que pode ser fortalecido com movimento de fusões ou aquisições das empresas inovadoras pelas empresas estabelecidas.
Certamente há muitos outros motivos para que as cidades ou regiões metropolitanas invistam no desenvolvimento dos seus ecossistemas e empreendedorismo inovador. Os bons exemplos existentes no Brasil, que ainda precisam evoluir bastante em vários quesitos, já demonstram resultados bastante positivos, que tendem a se fortalecer de forma proporcional ao próprio fortalecimento da participação e das ações práticas dos diferentes atores dos ecossistemas locais, vindos das Empresas, Entidades Empresariais, Prefeitura, Câmara de Vereadores, Colégios, Escolas Técnicas, Universidades, Instituições de Ciência e Tecnologia, Centros de Pesquisa, Organizações da Sociedade Civil e quem mais quiser participar.
Exemplos das principais frentes de atuação, bem como os resultados esperados caso o trabalho seja bem executado, estão disponíveis em muitos materiais públicos para quem quiser consultar. O desafio é articular os atores, criar redes, e criar um movimento contínuo de planejamento, execução e avaliação de ações, pois é a prática coletiva e intensiva de todos os atores envolvidos que faz um ecossistema local de inovação prosperar. E quanto mais ecossistemas de sucesso existirem no Brasil, melhor será o país para as pessoas que vivem, trabalham e empreendem aqui.
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