O legado do cientista Russell Kirsch, criador da primeira imagem gerada digitalmente, que impactou desde o desenvolvimento de softwares até arte e cultura, passando por games e toda a criatividade online. / Imagem: I love pixel
[04.09.2020]
Por Alexandre Adoglio*
Em meados de 1957 o cientista da computação Russell Kirsch estava debruçado sobre um grande desafio: “o que aconteceria se os computadores pudessem ver o mundo como nós humanos o vemos?”
Como cientista do National Bureau of Standards, Kirsch trabalhava com o único computador programável dos Estados Unidos naquela época em que eles e os colegas, embora não soubessem da resposta naquele momento, lançaram as bases para imagens de satélite, tomografias, realidade virtual e as atuais redes sociais.
Kirsch criou um aparato que transformou a imagem do seu filho Walden em linguagem binária dos computadores, uma grade regular de zeros e uns. Com apenas 176 por 176 pixels, a primeira imagem foi construída a partir de cerca de um milésimo das informações em fotos capturadas com as câmeras digitais de hoje, pois a capacidade de memória do computador limitava o tamanho da imagem. Nascia ali a primeira imagem gerada por um Scanner e possível de ser vista na tela do computador e impressa na matricial, através da criação do Pixel.
Recém falecido, o cientista não poderia imaginar o quanto sua invenção contribui até hoje para o desenvolvimento do digital e como impacta os mais diversos setores da sociedade, desde o desenvolvimento de softwares até arte e cultura, passando pelos games e criatividade online.
APLICAÇÃO DO PIXEL NO DIA A DIA
Este formato para geração de imagens possibilitou uma série de oportunidades e aplicações, desde mapeamentos técnicos via escaneamento de pavimentos rodoviários até mensurações de gases em outros planetas da galáxia, tornando o pixel um padrão global de captação, armazenamento e visualização de imagens via dispositivos que agora disponibilizam interfaces em HD, 4K e muita resolução no futuro.
A EVOLUÇÃO DA IMAGEM
Com novas necessidades o pixel evolui naturalmente para melhorar a entrega de uma melhor resolução, através das novas tecnologias que surgiram. As câmeras e scanners ampliaram sua capacidade de captação e a resolução das imagens acompanhou o processo, saindo da primeira geração de imagens com 16 pixels, compondo atualmente imagens com mais de 10 milhões de pixels geradas pelo smartphone que você usa no seu dia a dia. Porém o pixel é tão flexível que pode variar de acordo com a aplicação que fazemos, seja resolução da tela do computador, na impressão ou no scanner, o código pode se adaptar de forma quase infinita.
E para reduzir o volume da informação, nós acabamos por categorizar os agora chamados megapixels em formatos de entrega condizentes com os softwares, como JPEG e suas variantes.
PIXEL ART E O RENASCIMENTO DOS VIDEOGAMES
Já em 1982, através do trabalho de Adele Goldberg e Robert Flegal no Xerox Palo Alto Research Center, obtivemos a Pixel Art, forma de construir imagens baseada em artes tradicionais como bordado de linha contada (incluindo ponto cruz) e alguns tipos de mosaico e contas, que constroem imagens de pequenas unidades coloridas semelhantes aos pixels da computação digital moderna.
A invenção da Pixel Art possibilitou o nascimento de uma nova indústria, a dos videogames, que já abordamos em outro artigo por aqui. A diferença nesta aplicação era a perspectiva diferente e segmentada possibilitada pela dinâmica da imagem nos jogos, além de oferecer certa liberdade aos criadores de jogos na manipulação de cenários e personagens. Com a necessidade de gerar imagens de maior resolução que a concorrência na época, a Nintendo Entertainment System se utilizou da tecnologia para seus primeiros games de sucesso, incluindo o épico Mario Bros.
Hoje em dia, com tutoriais básicos, você mesmo pode conceber seu avatar em pixel art e até mesmo ser desafiado no exame de vestibular.
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PIXELIZADO OR PIXELATED
Embora os computadores tenham se tornado exponencialmente mais poderosos e agora possam caber em nossos bolsos, desde sempre aceitamos que o formato do pixel quadrado. Esta forma quadrada dos pixels significa que os elementos da imagem podem parecer em blocos, desajeitados ou irregulares – apenas geralmente não tão suaves quanto na vida real.
Existe até uma palavra para esse efeito: “pixelado”. “Os quadrados eram a coisa lógica a fazer”, disse Russell Kirsch em uma entrevista de 2010. “É claro que o lógico não era a única possibilidade … mas usamos os quadrados. Foi algo muito tolo e todo mundo tem sofrido desde então”.
Obstinado como era, o cientista buscou uma forma de suavizar a consequência quadrada da sua invenção, escrevendo um novo programa que transforma os quadrados grossos e desajeitados de uma imagem digital em uma mais suave feita de pixels em formatos variáveis. Novamente ele aplicou o código na imagem do seu filho, que já tinha mais de 50 anos, para uma análise da revista Science News de 2010. “Finalmente”, diz ele, “na minha avançada idade decidi que, em vez de apenas reclamar do que fiz, deveria fazer algo a respeito”.
A dinâmica da imagem no digital é feita de muita pesquisa e consistente busca pela melhor resolução, com objetivo de entendermos a complexidade das atuais aplicações almejando novas e incríveis descobertas.
* ALEXANDRE ADOGLIO é CMO na Sonica e empreendedor digital.
Escreve semanalmente sobre Cultura Digital para o SC Inova.
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