Oportunidades e desafios do IPO: a oferta de ações é a estratégia ideal para crescimento das empresas?

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Oportunidades e desafios do IPO: a oferta de ações é a estratégia ideal para crescimento das empresas?

A “febre dos IPOs” no Brasil atrai também negócios de médio porte e empresas de tecnologia com alto potencial de crescimento em escala.

A “febre dos IPOs” no Brasil atrai não apenas empresas tradicionais de grande porte, mas negócios de médio porte e empresas de tecnologia com alto potencial de crescimento em escala. / Foto: B3, Divulgação


[12.07.2021]
Redação SC Inova, scinova@scinova.com.br 

O ano de 2021 tem tudo para superar 2007 como o “maior ano dos IPOs no Brasil”. Há 14 anos, as 64 operações de oferta pública de ações (IPOs) levantaram um capital de R$ 56 bilhões para companhias brasileiras. No ano passado, foram 28 IPOs e um total de R$ 43 bilhões movimentados – e os números em 2021 seguem em crescimento.

A “febre dos IPOs” no Brasil atrai não apenas empresas tradicionais de grande porte, mas negócios de médio porte e empresas de tecnologia com alto potencial de crescimento em escala – uma cenário que está atraindo a atenção de investidores estrangeiros. 

“Muitos veem glamour ao iniciar um processo de IPO, mas ele muda definitivamente o dia a dia da companhia e também dos administradores”, comenta Paulo Junqueira, executivo com experiência em quatro processos de IPO de empresas brasileiras e que preside o Grupo de Funding e M&A, iniciativa do Programa de Competitividade do WTC de Curitiba, Joinville e Porto Alegre

O grupo foi lançado em junho passado durante evento online com participação de empresários e executivos de grandes e médias empresas, nacionais e multinacionais que debateram as oportunidades – e os riscos – ao optar pela estratégia de IPO. 

“As duas principais perguntas que o empreendedor deve responder são: qual o objetivo do IPO e qual o uso do recurso. Isso vai aparecer em todas as interações com investidores”, explicou Junqueira. “Além disso, é preciso ter controles, políticas de gestão de caixa, hedge, RH, financeiro. Os empreendedores tendem a minimizar controles e processos, mas em muitos casos é na falta dessa governança que os IPOs não dão certo”. 

O encontro de lançamento do Grupo de Funding e M&A contou com a apresentação do case da Neogrid, empresa de sistemas de gestão para supply chain com sede em Joinville (SC) e que levantou R$ 486 milhões em sua oferta inicial de ações, em dezembro de 2020 – recursos que serão utilizados para estratégias de crescimento orgânico e inorgânico (aquisições), além de desenvolvimento de tecnologia.   

“Na área de TI, há quem pense que o IPO é uma estratégia de saída da empresa. Mas essa visão é um grande erro, pois na verdade é um recomeço. Outros sócios, outra realidade”, comenta Thomas Demareck Black, Head de Relações com Investidores na Neogrid.

“A COMPANHIA TEM QUE MOSTRAR QUE O IPO É A ACELERAÇÃO DA ESTRATÉGIA”

A Neogrid foi a última empresa a tocar a campainha da bolsa brasileira no ano passado. Fundada em 1999 por Miguel Abuhab, fundador da Datasul (comprada pela Totvs em 2008), a empresa tem faturamento relativamente modesto para o padrão da B3 (cerca de R$ 200 milhões em 2020). 

“O grande ponto é que a Neogrid está muito inserida no mercado supermercadista, e esse mercado não parou, continuou muito forte e precisou de nossas soluções. Conseguimos mostrar que, na digitalização das empresas, nossos produtos seriam fundamentais”, destaca. Do total captado, 80% será destinado a aquisições (como da startup Smarket, que desenvolve tecnologia para o setor de supermercados) e 20% para o desenvolvimento de tecnologia e novos produtos. “Deveremos ter muitas aquisições nos próximos períodos – e temos track record em investimentos, isso dá segurança pro mercado. Estamos apenas no começo”.

Na visão do CFO Thiago Grechi, no contato com investidores, “a companhia tem que mostrar que o IPO é a aceleração da estratégia, uma ‘avenida de crescimento’, e não fator-chave para se criar uma estratégia”. Entre a decisão de fazer o IPO até a precificação do valor das ações, o processo durou quatro meses – em alguns casos, pode durar até um ano ou mais, dependendo do nível de governança corporativa da empresa. 

“O que foi determinante é que a Neogrid foi fundada por alguém que já fez IPO e algumas partes desse processo já estavam organizadas. Como ter um conselho, fundo dos investidores, número pequeno de acionistas, políticas estabelecidas e auditoria. Mesmo assim, é algo que consome 24 horas por dia e sete dias por semana. Tem muito sangue e suor”, detalha. 

O Grupo de Funding e M&A do Programa de Competitividade do WTC terá reuniões fechadas mensais, com debate de temas pertinentes ao universo do mercado de capitais e também de gestão corporativa. “Vivemos um cenário de muitas oportunidades. Por isso, o networking, a troca de conhecimentos e experiências é fundamental para a sustentabilidade de nossos parceiros – e esta é o propósito deste fórum”, finaliza Paulo Junqueira, presidente do grupo.