Para a professora Maria Cristina Zambon, coordenadora do curso de Administração na Faculdade Cesusc, em Florianópolis, é preciso desenvolver o empreendedorismo na graduação. Entidade inaugurou recentemente um centro de Gestão e Inovação.
Se formar em Administração de Empresas, até o início dos anos 2000, era como “ter um almoço garantido”, comenta a administradora e professora Maria Cristina Fleischmann Alves Zambon. “Na época haviam grandes corporações que dominavam a economia e parecia haver emprego para todo mundo nesta área, bastava ter um currículo que se encaixasse com o que as empresas queriam”, argumenta a professora.
Mas o mundo mudou um bocado desde então – assim como a lista das empresas globais mais valiosas – e, com isso, surgiu a necessidade de preparar alunos de Administração para uma nova realidade, baseada no empreendedorismo e na formação de negócios inovadores. Colocar o conceito em prática foi o desafio que Maria Cristina, também doutora em Engenharia de Produção, assumiu no ano passado, quando se tornou coordenadora do curso de Administração na Faculdade Cesusc, em Florianópolis. A proposta, a partir de então, seria focar em atividades “mão na massa”, mesclando conhecimento teórico e prático, nos moldes de programas que estimulam o empreendedorismo.
No último dia 29, a faculdade inaugurou no centro da Capital um centro de Gestão e Inovação, onde será a nova sede do curso de Administração e, a partir do segundo semestre, terá também uma pré-incubadora de startups que poderão fazer parte, posteriormente, do programa de inovação aberta Link Lab, na Associação Catarinense de Tecnologia (Acate), onde o Cesusc é um dos mantenedores desde o início de 2017.
Com esta iniciativa, a faculdade espera criar em casa ideias novas a serem incubadas e desenvolvidas até se tornarem startups com maturidade para o Lab. No final de maio, por exemplo, acontece a segunda edição do “Empreenda-se”, atividade anual do curso de Administração que espera reunir cerca de 200 alunos que vão criar, em grupos multidisciplinares, soluções e negócios com o tema Economia Criativa. A primeira edição, realizada em 2018, abordou ideias para cidades inteligentes.
“Na Administração de hoje, as pessoas têm que criar oportunidades de negócio e não estarem prontas apenas para as oportunidades que existem, porque elas não existem mais”, destaca a coordenadora do curso, que conversou com o SC Inova durante o lançamento da unidade, em Florianópolis.
SC Inova – O que mudou na perspectiva de trabalho de quem se forma em Administração?
Maria Cristina Fleischmann Alves Zambon – O mundo era completamente diferente nos anos 1990, quando eu estudei, até o início dos anos 2000. Até aquele momento a gente achava que o almoço estava garantido, porque as grandes corporações que haviam na época dominariam tudo e teria emprego pra todo mundo, bastava ter um currículo que encaixasse com o que essas empresas queriam.
Mas veio a crise financeira, a ascensão das empresas unicórnios e uma leva de startups que inverteram a lógica do mercado. Hoje há poucas pessoas com altíssimo poder criativo gerando muito dinheiro em um ambiente voltado à inovação. Então, a gente fala num contexto de administração hoje em que as pessoas têm que criar oportunidades de negócio, não estarem prontas apenas para as oportunidades que existem, porque elas não existem mais.
SC Inova – Falta uma cultura empreendedora dos egressos de Administração, na sua visão?
Maria Cristina Fleischmann Alves Zambon – Era uma formação muito isolada, em que havia uma visão que não precisava de ninguém nem mesmo botar a mão na massa. Hoje um administrador não pode mais ter essa concepção, tem que prototipar uma ideia, mostrar que aquilo é factível. Por isso estamos fazendo uma atividade anual do curso em formato de hackathon (maratona de desenvolvimento), unindo os alunos de todas as fases de graduação e também do curso de Tecnólogo em Administração e Sistemas para formarem equipes multidisciplinares em cima de um mesmo tema. Neste ano, será “Economia Criativa” e teremos 200 alunos pensando soluções e negócios para a cidade, com workshops com alguns expoentes da cidade nesta área. É uma lógica bem diferente da que se tinha antes.
SC Inova – A ideia então é usar também a cidade como um laboratório para futuros empreendedores?
Maria Cristina Fleischmann Alves Zambon – Queremos capacitar pessoas para viver experiências durante a graduação. E desenvolver também soft skills, como inteligência emocional, interação, criação de oportunidades, formação e trabalho em equipe, com a possibilidade de gerar negócios ao longo do processo. Esse é o legado que a gente quer deixar. E que esses alunos sejam também protagonistas de suas vidas.
Reportagem: Fabrício Rodrigues, scinova@scinova.com.br
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