Empresa, que tem 30% do portfólio investido no ecossistema de Santa Catarina e conta com base em Florianópolis, espera financiar até R$ 300 milhões neste ano em startups que têm receita recorrente. / Foto: SC Inova
[FLORIANÓPOLIS, 18.02.2020]
Redação SC Inova / Fabrício U. Rodrigues, scinova@scinova.com.br
Um modelo de financiamento para startups que confia no potencial de “receita recorrente” e crescimento do faturamento – e não em garantias que a empresa sequer tem. Resolver essa “dor” de empreendedores que estão em expansão, mas precisam de acesso a capital sem tanta burocracia, foi o ponto de partida para a criação da A55, uma fintech que começou como uma consultoria e hoje oferece, por meio de aplicativo, financiamento para empresas da Nova Economia com modelo de faturamento por recorrência.
“Viemos com a ideia de criar algum tipo de dívida que ajudasse as empresas a crescer, mas que coubesse naquele porte financeiro em que ela se encontra. A Nova Economia segue esse modelo de mensalidade e assinatura, então desenvolvemos algo adaptável às empresas de tecnologia no Brasil, que são muito carentes em crédito”, diz André Wetter, CEO e cofundador da A55 junto com o sócio Hugo Mathecowitsch.
Criada em 2018, a A55 tem sede em São Paulo e braço de atuação em Florianópolis, cobrindo a região Sul. Em pouco mais de um ano e meio de atuação, a empresa já financiou um total de R$ 70 milhões para cerca de 40 startups que atuam no modelo SaaS. Para 2020, prevê um volume de financiamento em torno de R$ 300 milhões para este perfil de empresa.
É o chamado “revenue-based financing“, como explica o CEO: “o que pedimos das empresas é previsibilidade de receita. Para estas startups, o modelo de crédito tradicional não funciona, pois muitas vezes o empreendedor não tem garantias reais, o tamanho do tíquete oferecido não é suficiente, entre outras dificuldades. Desenvolvemos tecnologia que consegue ver a base mensal de faturamento e a partir disso podemos ofertar novas linhas em tempo real”.
Wetter fez carreira no mercado de venture capital, atuando no primeiro fundo de risco para startups do país, o Criatec 1 gerido pela InSeed Investimentos e com recursos do BNDES. E desde então passou a conhecer algumas empresas inovadoras de Santa Catarina, como Arvus (atual Hexagon Agriculture), Cianet e Welle Laser, que receberam aportes do fundo.
Como ele lembra, naquela época “não havia muita oportunidade para os empreendedores crescerem sem buscar um capital que não era diluitivo. A maioria dos unicórnios e das empresas com alto valuation (valor estimado de mercado) tem os seus fundadores com pouca participação. “É difícil, nesses casos, o fundador ter mais do que 5% do próprio negócio”.
No modelo proposto pela fintech, as empresas que demandam crédito podem solicitar linhas diretamente pelo aplicativo. A taxa atual é de 2% ao mês – “com tendência de queda, em função do comportamento da Selic”, diz o CEO – e sem carência. Os valores podem ser retirados de uma única vez ou solicitado à medida que precisa de capital para giro ou outros investimentos.
Os financiamentos variam, em média, de R$ 500 mil a R$ 1,5 milhão, mas é possível captar até R$ 5 milhões neste modelo, dependendo do volume de faturamento. Uma startup com receita recorrente mensal de R$ 100 mil, por exemplo, pode solicitar um valor em torno de R$ 300 mil. Segundo os diretores, a ideia é oferecer a partir deste ano linhas ainda menores, para democratizar o acesso a capital com menos burocracia.
Em média, comenta o CEO, a média de crescimento mensal dos clientes é de 7% – “alguns empreendedores disseram que cresceriam só a metade disso se não tivessem acesso a esse tipo de recurso”.
Há tecnologia embarcada na plataforma. Como explica o diretor de tecnologia André Luiz Silva, o fluxo financeiro das empresas é acompanhado em tempo real: “alguns clientes conseguem entender até melhor seu fluxo de faturamento quando utilizam nossa plataforma. e, de nossa parte, entendemos o comportamento da empresa no dia a dia, a partir das receitas. Um banco tradicional monitora as garantias, os bens da empresa ou do sócio – nós avaliamos a performance em tempo real”.
COMUNIDADE FORTE DE STARTUPS AJUDA A DISSEMINAR CONCEITO
Santa Catarina foi a principal “prova de testes” da iniciativa. “Hoje, um terço da carteira investida foi para startups catarinenses, onde o modelo de SaaS é muito forte. E chegou a ser metade no início”, lembra André, que conhece bem a região. Ele morou cerca de um ano e meio em Florianópolis, onde foi responsável pela captação de empresas para investimento do fundo Criatec 3.
Uma das startups catarinenses que receberam aporte deste fundo, a Knewin – que desenvolve tecnologia para recuperação de informação – utilizou algumas das linhas de financiamento de recorrência para aquisição de empresas. Em outros casos, as startups usam os recursos para investimento em marketing, vendas ou mesmo um capital de giro a custo mais baixo. Entre outros clientes locais estão a Exact Sales e a Ahgora.
Este potencial levou a A55 a montar uma base para a região Sul justamente em Florianópolis, onde conta com equipe de captação, qualificação de pré-vendas e desenvolvimento. Na área de parcerias e novos negócios para a região está Renan Schaefer, que atuou que atuou nos últimos cinco anos na Fundação CERTI e CVentures, auxiliando empresas na busca de mecanismos de financiamento.
“Abrir Floripa”, diz André Wetter, “era uma decisão óbvia, pois há um grande volume de empresas de software usando esse modelo há alguns anos. O mercado também é menor e mais carente em opção de funding. Sem contar que a comunidade empreendedora é muito ativa aqui, mais forte do que qualquer outro estado do país”.
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