Laboratório de Inovação Urbana, o primeiro passo para transformar Florianópolis em smart city

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Laboratório de Inovação Urbana, o primeiro passo para transformar Florianópolis em smart city

Projeto que nasceu em reuniões da Vertical Conectividade da ACATE une prefeitura, entidades e empresas com o propósito de levar a tecnologia desenvolvida na cidade diretamente aos cidadãos

Projeto que une Vertical Conectividade da ACATE, ACIF, prefeitura da Capital e empresas privadas tem como propósito levar a tecnologia desenvolvida na cidade diretamente aos cidadãos

Florianópolis tem se estabelecido como um dos mais fortes polos tecnológicos da América do Sul nos últimos anos. Um ecossistema diversificado, que reúne milhares de empresas, startups, centros de inovação, universidades, aceleradoras, fundos de investimento mas que ainda não transforma todo o potencial das inovações desenvolvidas na cidade em serviços aos cidadãos.

Se a tecnologia já é o principal motor da economia local  – responsável por um faturamento de R$ 6,2 bilhões em 2017, segundo o Observatório ACATE – o que falta então para que ela faça da cidade um celeiro de soluções urbanas inovadoras?

“Florianópolis é um polo de inovação, tem que ser referência. Só que de certa forma vivemos em uma bolha, muitos cidadãos não sabem o que é desenvolvido na sua cidade”, comenta Diego Ramos, CEO da Teltec Solutions e diretor da Vertical Conectividade da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE), que reúne dezenas de empresas que oferecem soluções de telecomunicações, cloud computing e acesso à internet.

Foi em uma reunião desse grupo que surgiu a ideia de um projeto que levasse soluções das empresas locais diretamente aos cidadãos. “Pensamos o seguinte: temos que fazer a população participar, ele tem que ser o protagonista. Mas não dava pra vir com um plano mirabolante, começa com uma rua, envolve o comércio e vamos testando”, conta Diego.

Assim surgiu o embrião do Laboratório de Inovação Urbana, fundado conjuntamente pela Vertical da Acate, a ACIF e prefeitura da Capital e que pretende transformar a pequena e revitalizada rua Vidal Ramos, no centro de Florianópolis, em um espaço para experimentação de ideias e projetos que levem conectividade a comerciantes e quem circula no local.

“Temos que fazer a população participar, mas não dava pra vir com um plano mirabolante: começa com uma rua, envolve o comércio e vamos testando”, explica o diretor da Vertical Conectividade, Diego Ramos, sobre o início do projeto. / Foto: Divulgação ACATE

O primeiro passo foi um sistema de videomonitoramento compartilhado, com câmeras, software e aplicativo mobile pronto para uso de lojistas e moradores da região, integrando serviços oferecidos por algumas das empresas participantes da Vertical Conectividade: a provedora Unifique cedeu o link, as câmeras são da Intelbras, o serviço de instalação foi feito pela Khronos, a Teltec ofereceu a conectividade wi-fi e a Seventh entrou com o software. Entre as entidades, a coordenação técnica é da Acate, a Associação Comercial e Industrial (ACIF) faz a articulação entre os lojistas e o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) auxilia na condução do projeto.  “Não foi preciso nenhum investimento da Prefeitura. Nos reunimos e montamos a infraestrutura junto com os parceiros”, detalha o diretor da Vertical.

O foco do sistema é levar mais segurança à região, principal queixa de lojistas e moradores. Mesmo reurbanizada há alguns anos em projeto liderado pela ACIF, a Vidal Ramos sofre com os mesmos problemas de furtos, arrombamentos de lojas e outros delitos comuns nas demais ruas do centro da cidade. Na visão da consultora e gestora do projeto Thais Nahas, o sistema de videomonitoramento “é uma evolução da rede de vizinhos. Os lojistas e moradores já podem acessar as imagens das câmeras instaladas, que funcionam 24 horas por dia. Também será disponibilizado acesso gratuito à internet para as pessoas que passam ou permanecem lá”. O sistema começou a funcionar no final de junho deste ano. Quem também participa do projeto é a Secretaria de Segurança Pública (SSP) de Santa Catarina, que integra suas imagens da Vidal Ramos ao seu sistema e também compartilha suas imagens com quem utiliza a tecnologia. 

“Sabemos que as cidades brasileiras não irão adotar as inovações tecnológicas da noite para o dia. É necessária uma transição gradual, um entendimento dos reais benefícios que inúmeras soluções podem entregar. E o Lab serve como uma plataforma para que os inovadores demonstrem seus produtos e criem indicadores de desempenho em um ambiente real. Além disso, queremos mostrar que a cidade tem um ambiente favorável à inovação”, ressalta.

PROJETO QUE NASCE A PARTIR DA CONEXÃO ENTRE “CONCORRENTES”

Debates durante reunião da Vertical Conectividade. / Foto: Divulgação ACATE

O Laboratório de Inovação Urbana é hoje o principal projeto da Vertical Conectividade, criada originalmente com o nome de Telecom, dentro de uma iniciativa da Acate de reunir empresários de um mesmo segmento para debater problemas e soluções comuns do mercado. Considerado um dos projetos mais bem sucedidos da entidade nos últimos anos, por meio das Verticais de Negócios surgiram uma série de novos produtos, serviços e até mesmo fusões e aquisições de empresas.

O setor de telecomunicações foi um dos mais afetados pela disrupção de modelos de negócio dos últimos anos – empresas que tinham como foco a oferta de grandes projetos e instalação de parques de hardware tiveram que se reinventar como fornecedoras de serviços em nuvem, como aconteceu com a própria Teltec Solutions, fundada no início dos anos 1990. Esse cenário fez com as Verticais de Telecom e Cloud da Acate se transformarem uma só, a Conectividade, reunindo cerca de 60 associadas, entre empresas de maior porte e startups.

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No projeto do Laboratório de Inovação Urbana, outras verticais estão envolvidas, como Internet das Coisas (IoT) e Segurança. “A gente tenta conectar o máximo possível de pontos, pois cada um pode colaborar de alguma maneira. Isso é muito bom pois traz um viés de inovação. No futuro queremos colocar mais serviços, como um sistema de reconhecimento facial, para qualificar a questão da segurança, por exemplo. Há uma demanda para criarmos, por meio da Acate e envolvendo outras entidades, um cluster de smart city na cidade”, comenta Diego.

O PRIMEIRO DESAFIO É CRIAR A INFRAESTRUTURA 

No dia 28 de agosto, a Prefeitura de Florianópolis anuncia a empresa vencedora do edital para implantação e operação do programa Floripa Wi-Fi Livre, que vai oferecer acesso gratuito em pelo menos 147 pontos da cidade (avenidas, praias, espaços públicos, postos de saúde etc) e que deve ser implantada em até um ano. Nos pontos com maior densidade, o serviço deve permitir o acesso de pelo menos 500 pessoas simultaneamente a uma velocidade mínima de 2 mbps e, nos locais com menor densidade, garantir pelo menos 100 acessos simultâneos. “A questão principal é oferecermos a infraestrutura. Depois começamos a pensar em outros projetos”, comenta Marcus Rocha, superintendente de Ciência, Tecnologia e Inovação de Florianópolis.

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Segundo ele, o Laboratório de Inovação Urbana vai ser o espaço preferencial mas a tendência é que testar novos serviços em vários pontos da cidade, como um controle de semáforos que será testado pela Engie, por exemplo. Em paralelo, o grupo de pesquisa VIA, da UFSC, vai desenvolver um diagnóstico das necessidades de inovação na região e, em seguida, a Prefeitura pretende criar um desafio de startups para desenvolver projetos de acordo com as demandas levantadas.

Marcus destaca a importância da iniciativa da Vertical Conectividade para essa série de ações para tornar a cidade mais inteligente. “O projeto do Lab de Inovação não teria acontecido sem a união das empresas. E sem elas não há inovação, por isso elas tem que levar novas soluções ao mercado”.

Na visão da gestora Thais, desenvolver um trabalho com inúmeros stakeholders é desafiador, “mas gerenciar as expectativas e fazer com que cada um contribua com sua especialidade para obter um objetivo em comum é o que faz deste projeto tão especial.

“Tem muita coisa que pode ser feita a partir disso: o smart traffic, que identifica uma batida no trânsito e muda a rota do ônibus; o sensoreamento em postes, bueiros, indicando problemas como falta de energia, alagamento, alertas em áudio por meio de antenas wi-fi… os gestores públicos precisam de informações para atuar com análise preditiva”, enumera Diego Ramos.

Para ele, mais do que tecnologia, há um desejo particular, como manezinho, de ver a cidade mais inteligente: “meu sonho é um dia levar a família e caminhar a pé e jantar no centro da cidade, mas a gente não consegue fazer isso aqui por falta de segurança. Uma smart city vai trazer, acima de tudo, desenvolvimento econômico”.

Por Fabrício Rodrigues, scinova@scinova.com.br


Reportagem especial produzida para