Laboratório pioneiro de testes e prototipagem de motores-foguete foi inaugurado neste mês no Ágora Tech Park e pode representar um novo direcionamento econômico e de inovação para a região. / Fotos: Divulgação
[23.07.2025]
Redação SC Inova, scinova@scinova.com.br
Uma iniciativa inédita no Sul do Brasil acaba de sair do papel e promete colocar Joinville na rota da indústria aeroespacial. Foi inaugurado no dia 10 de julho, no Ágora Tech Park, o Lab Foguetes — o primeiro laboratório do Sul do Brasil dedicado a testes e prototipagem de motores-foguete.
Concebido como um living lab, o projeto une pesquisa aplicada, experimentação prática e desenvolvimento tecnológico, com um objetivo ambicioso: lançar, até 2030, o primeiro foguete joinvilense capaz de atingir 100 km de altitude — a chamada Linha de Kármán, considerada a fronteira oficial do espaço.
Os recursos para construção e aquisição de equipamentos, no valor de R$ 488 mil, foram viabilizados por meio de emenda parlamentar apresentada pelo deputado federal Coronel Armando (PL-SC) e aprovada em outubro do ano passado. A estrutura foi montada a partir de contêineres reaproveitados e instalada em área próxima aos prédios do Ágora Tech Park.
Entre os espaços funcionais, destacam-se a Área de Teste de Queima, onde ocorre a ignição dos motores com coleta de dados de pressão, temperatura e força; a Área de Controle e Operação, equipada para monitoramento remoto com apoio de sensores e impressoras 3D; e a Área de Manufatura e Preparação, voltada à manipulação segura de propelentes e montagem dos motores. Uma área externa aberta garante o isolamento necessário para testes, priorizando segurança e distanciamento de estruturas civis.
Além dos motores, o laboratório se dedica ao desenvolvimento de sistemas de propulsão para missões científicas e educacionais. As linhas de pesquisa incluem testes em bancada estática, desenvolvimento de combustíveis inovadores e simulação de sistemas propulsivos sólidos, híbridos e líquidos.

“Joinville forma, todo ano, engenheiros aeroespaciais que acabam indo para São Paulo ou para fora do país. O laboratório é uma forma de reter e ativar esses talentos aqui”, explica João Pedro Golynski, coordenador do Lab Foguetes. Em 2020, ainda estudante da UFSC, João apresentou durante a edição online da Expoinovação a palestra “O caminho para uma empresa aeroespacial catarinense”. A partir dali, participou do programa de desenvolvimento empreendedor JEDI em 2021, fez parte da equipe Kosmos — única do Brasil a competir em um concurso de foguetes nos EUA em 2022 — e iniciou a concepção do laboratório, ideia que apresentou ao então ministro de Ciência e Tecnologia, Paulo Alvim, que estimulou o projeto.
Segundo João Pedro, a primeira etapa do Lab é montar uma equipe sólida. “Queremos atrair mais pessoas, garantir todas as certificações de segurança e começar o desenvolvimento do primeiro propulsor híbrido privado do Sul do Brasil. Somos uma geração de engenheiros aeroespaciais que quer tornar o Brasil uma potência no setor, seja para desenvolvimento de pesquisas, novos materiais ou produtos”, aponta.
A iniciativa já desperta interesse estratégico e pode impulsionar um novo ciclo de inovação em Joinville. “É um projeto que fortalece nossa indústria local de usinagem e atrai startups e subsidiárias de grandes corporações”, comenta Emerson Edel, diretor-presidente do Instituto Ágora. Para Fabiano Dell Agnolo, diretor executivo do Ágora Tech Park, “o laboratório chega em um momento em que o ecossistema busca transformar conhecimento acadêmico em negócios concretos para o país”.
CRONOGRAMA E PRÓXIMOS PASSOS
O cronograma prevê para 2026 o lançamento de um foguete híbrido de menor alcance (entre 7 e 10 km), servindo como etapa de treinamento operacional. A partir de 2027, os protótipos devem alcançar altitudes progressivamente maiores até chegar ao espaço em 2030.
Além da ambição técnica, o projeto aposta em uma forte colaboração regional. “A ideia é que Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul desenvolvam módulos diferentes para o foguete, em uma missão colaborativa. As universidades ajudam a criar, as empresas entregam partes, e nós concentramos a integração e os testes. Isso aproxima ciência, educação e mercado”, afirma João.

No meio acadêmico, o Lab Foguetes deve estimular pesquisas, fomentar novos cursos e atrair investimentos. A UFSC Joinville, por exemplo, já forma engenheiros aeroespaciais, mas carecia de infraestrutura prática — o que contribuía para o êxodo de talentos.
O impacto, porém, vai além da formação. Os motores-foguete têm aplicações que envolvem defesa, agricultura, sondagens atmosféricas, drones, mísseis e satélites, diretamente a cadeia produtiva local e empresas com base tecnológica como materiais compósitos, sensores e instrumentação e também de manufatura pesada, CNC, impressoras de metal e centros de usinagem, explica o coordenador do Lab Foguetes.
“Não vamos depender apenas de editais. Precisamos ser sustentáveis desde o início. O laboratório deve vender serviços, desenvolver tecnologia e ir além do científico puro. Esse é o diferencial que pode colocar o Brasil na frente”, defende João.
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