[OPINIÃO] Informação é importante, mas não a qualquer preço

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[OPINIÃO] Informação é importante, mas não a qualquer preço

Obter informações de Inteligência é crucial para o negócio, mas deve ser feita de forma ética, para não expor a empresa a prejuízos de imagem.

Obter informações de Inteligência é crucial para o negócio, mas deve ser sempre de forma ética, para não expor a empresa a prejuízos de imagem. / Imagem: SC Inova+DALL-E


[30.04.2024]

Por Giancarlo Proença, diretor executivo da Link Estratégia, CI Director da Software Pricing Partners e LATAM Regional Manager do Bennion Group. Escreve mensalmente sobre Inteligência Competitiva. 

O The Wall Street Journal publicou em abril uma matéria investigativa expondo práticas antiéticas empregadas pela Amazon para obter informações sobre concorrentes. O artigo detalha como a gigante do varejo online criou empresas de fachada para descobrir como marketplaces concorrentes atuam. 

Os empregados das empresas de fachada participavam de eventos dos concorrentes escondendo que trabalhavam para a Amazon. Nesses eventos e outras interações com os competidores, coletavam informações que eram repassadas para os times de estratégia da varejista global. 

Em um caso similar, uma corte no estado americano da Virginia deu ganho de causa para a Appian, uma empresa de software de automação de processos, contra sua concorrente Pegasystems. O tribunal entendeu que a Pegasystems obteve segredos comerciais de forma ilegal e concedeu US$ 2,036 bilhões para a Appian como compensação (sim, bilhões, com B). 

Em ambos os casos, as informações foram obtidas por empregados da Amazon e da Pegasystems que se identificaram de forma desonesta ou esconderam sua afiliação com as empresas para obter informação. A prática é antiética e vai contra o código da SCIP (Strategic Consortium of Intelligence Professionals). 

No caso da Appian versus Pegasystems, o funcionário claramente mentiu ao aceitar os Termos de Uso do software, já que o documento explicitava que o acesso ao sistema não poderia ser feito por competidores. Creio que ressalvas semelhantes existam nos termos de uso dos concorrentes investigados pela Amazon (que incluem o japonês Rakuten, o indiano Flipkart e o americano Walmart).

O resultado foi que ambas as empresas tiveram que lidar com uma crise de comunicação porque decidiram coletar informações de Inteligência Competitiva e de Mercado (IC&M) de forma antiética e até ilegal. Um barato que sai caro. 

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As mesmas informações poderiam ser obtidas de forma ética e legal. Em vez de mentir para obter acesso às plataformas, elas poderiam ter contratado uma empresa de IC&M para entrevistar clientes e usuários das plataformas. Salvo em mercados muito fechados (segurança, defesa, farma, por exemplo) os clientes não são protegidos por acordos de confidencialidade de revelarem suas opiniões e percepções a respeito do produto que estão usando. 

Profissionais de Inteligência Competitiva e de Mercado sérios buscam obter informações de forma ética. Uma das perguntas que vale muito a pena se fazer antes de definir o modo de obter informações de concorrentes é “isso rende matéria? Se alguém ficar sabendo vai pegar mal para a empresa”? A resposta a essa pergunta sempre deve balizar a coleta de informações. Ainda mais em tempos de ESG e governança transparente, em que um deslize já leva a cancelamentos em mídias sociais e matérias em jornais e portais. 

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