IA e geopolítica: as forças que estão redefinindo os ecossistemas de inovação pelo mundo

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IA e geopolítica: as forças que estão redefinindo os ecossistemas de inovação pelo mundo

A IA pode redefinir economias enquanto a globalização dá lugar a blocos regionais – e isso muda todo o cenário da inovação nos próximos anos

De um lado, a IA pode redefinir economias em uma velocidade nunca antes vista; de outro, um novo paradigma em que a globalização dá lugar a blocos regionais – e isso muda todo o cenário da inovação nos próximos anos, de acordo com o Startup Ecosystem Index 2025. / Foto de Jack Stapleton (Unsplash)


[28.05.2025]
Por Ecosystems Builders

Na corrida global pela inovação, os ecossistemas de startups estão passando por uma verdadeira reorganização. O Startup Ecosystem Index 2025, elaborado pela StartupBlink, traz uma fotografia detalhada desse cenário — e aponta movimentos que devem moldar o futuro da economia digital no mundo.

Com dados de 1.473 cidades e 118 países, o relatório revela que os centros tradicionais, como os Estados Unidos, seguem na liderança, mas perdem tração diante do crescimento acelerado de ecossistemas na Ásia, Oriente Médio e Europa. A América Latina, embora avance, ainda enfrenta desafios para acompanhar o ritmo dos hubs mais dinâmicos do planeta.

O relatório é construído a partir de centenas de milhares de dados, organizados em três pilares: Quantity, que mede o volume de atividade no ecossistema; Quality, que avalia o impacto e a performance das startups; e Business Environment, que analisa a qualidade do ambiente de negócios, incluindo acesso a capital, políticas públicas e infraestrutura.

Para Eli David Rokah, CEO da StartupBlink, 2025 marca um ponto de inflexão para os ecossistemas globais. Segundo ele, duas forças estão redesenhando o cenário da inovação: de um lado, a inteligência artificial, que tem potencial para “redefinir economias em uma velocidade nunca antes vista”; de outro, a nova configuração geopolítica, em que a globalização dá lugar a blocos regionais. Nesse contexto, alerta, os fundadores precisam ser “mais estratégicos do que nunca” na escolha dos setores e mercados onde vão operar.

O CEO reforça ainda que poucos governos investem, de fato, no desenvolvimento de seus ecossistemas. Mas, quando isso acontece, os impactos são claros: geração de empregos, atração de investimentos, retenção de talentos e fortalecimento da economia. “Ecossistemas de startups são motores de crescimento e resiliência — e isso nunca foi tão necessário quanto agora.”

Onde o mundo cresce mais rápido

O relatório confirma que o centro de gravidade da inovação global está claramente se deslocando para a Ásia-Pacífico, que lidera o crescimento regional com +27,4%. Europa (+26,2%) e Oriente Médio e África (+24,9%) vêm logo atrás. Enquanto isso, América do Norte (+15,7%) e América Latina (+19,1%) apresentam expansão abaixo da média global (21%).

Sub-regiões como Ásia Central (+43,3%), Leste Asiático (+34%) e Oriente Médio (+28,8%) são as que mais se destacam. Na outra ponta, o Caribe foi a única região do mundo a apresentar retração (–2,4%).

Os sinais de alerta dos EUA

San Francisco segue como líder absoluta, mas relevância das cidades norte-americanas começa a cair no ranking. Foto: Shen Pan (Unsplash)
San Francisco segue como líder absoluta, mas relevância das cidades norte-americanas começa a cair no ranking. Foto: Shen Pan (Unsplash)

Apesar de manter a liderança, os EUA apresentam queda no número de cidades no ranking, menor crescimento do top 10 e dificuldades para sustentar a hegemonia. Grandes centros como San Francisco e Seattle perderam posições, e o país hoje representa apenas 22% das cidades no top 1000 — o menor percentual desde o início da série histórica do estudo.

Ecossistemas latino-americanos: crescimento, mas ainda fora da elite

A América Latina, embora avance, segue distante da elite global dos ecossistemas de inovação. O Brasil se mantém na 27ª posição, com um crescimento de 15,2%, abaixo da média global. São Paulo continua sendo o principal hub da região, na 23ª posição mundial, mas também dá sinais de perda de fôlego, crescendo apenas 15,6% no último ano.

Por outro lado, Colômbia e Chile são os protagonistas de um movimento ascendente dentro do continente. A Colômbia sobe duas posições, chegando ao 36º lugar global, impulsionada por um crescimento robusto de 22,3%. Medellín, em especial, se destaca com um avanço superior a 40%, consolidando-se como o hub que mais cresce na América do Sul dentro do grupo das 200 maiores cidades do mundo. O Chile segue na mesma trilha, agora na 37ª posição, também ganhando duas colocações no ranking.

México e Argentina, dois mercados historicamente relevantes na região, vivem momentos mais desafiadores. O México caiu para a 43ª posição, puxado por um crescimento bem abaixo da média, de apenas 2,6%. A Cidade do México, que vinha se consolidando como um dos grandes hubs latino-americanos, sai do top 50 global, ocupando agora a 58ª colocação. A Argentina, na 46ª posição, praticamente estagnou, crescendo 6% no período. Buenos Aires segue como principal centro do país, mas sem grandes avanços no cenário global, agora na 77ª posição.

Entre os mercados emergentes da região, Uruguai, Peru, Costa Rica e Paraguai aparecem no radar, ganhando posições e fortalecendo seus ecossistemas locais, mas ainda com impacto bastante modesto na economia digital global.

Para a América Latina, o desafio é claro: apesar dos avanços, o ritmo ainda é insuficiente para competir de igual para igual com os grandes hubs globais. / Foto: Greg Rosencke/Unsplash

O mapa da inovação está mudando

Se há um recado claro no relatório de 2025, é que nenhum ecossistema está garantido no topo indefinidamente. A ascensão meteórica de Cingapura, o crescimento acelerado da Ásia e do Oriente Médio, e os desafios dos Estados Unidos mostram que a nova economia digital será mais distribuída e menos concentrada.

Para a América Latina, o desafio é claro: embora haja avanços, o ritmo ainda é insuficiente para competir de igual para igual com os grandes hubs globais. A janela de oportunidade está aberta, mas exige mais políticas, mais investimentos e mais integração dos ecossistemas regionais.