Mundo online gerou ainda mais relevância para as ações de marketing de baixo custo e alto impacto, seja para o navegador do Google ou para o Menino do Acre.
[18.09.2020]
Por Alexandre Adoglio*
Vésperas da Copa do Mundo de 1994, partida preparatória da Seleção Brasileira contra a Seleção Canadense no Commonwealth Stadium, cidade de Edmonton, Canadá. Embora tenha iniciado o jogo com vantagem, a seleção canarinho obteve somente o empate contra os canadenses ao fim do 2º tempo, em um jogo muito estranho para quem assistiu ao vivo pela TV.
Em determinados ângulos, os enquadramentos das câmeras cortavam os jogadores da cintura pra cima, focando somente nos pés e gramado como se fosse uma transmissão de jogo da várzea. Mesmo a genialidade do gol de Romário não foi completamente captada pela transmissão de então.
Motivo?
Cartazes da cerveja Brahma espalhados pelas laterais do campo não podiam ser enquadrados pois uma das emissoras brasileira estava “vendida” no patrocínio para a cerveja concorrente Kaiser, propriedade da Coca-Cola, patrocinadora master da Copa daquele ano. Complementando a ação, alguns jogadores brasileiros contratados pela cervejaria mostravam o indicador em riste quando marcavam gols, num eternamente memorável no. 1
Provavelmente uma das primeiras ações de marketing de guerrilha de alcance global, que não só incomodaram os executivos parceiros da época como também levou a um redesenho completo da forma de patrocínio das etapas da FIFA e outros organizadores de esportes.
Primórdios do digital, quando a internet era só mato, a ação foi coordenada justamente para gerar um buzz no mercado e consumidores, compartilhada à exaustão pelo boca a boca e offline, mostrando um verdadeiro olé da marca B contra as demais no mercado.
Cunhada pelo escritor Jay Conrad Levinson no livro homônimo, Marketing de Guerrilha desvenda as possibilidades de estratégias de baixo custo e alto impacto, que fazem marcas e negócios de menor porte desafiarem as grandes corporações. Tática que passou a ser acessível a todos tamanhos de empresas e empreendedores, ganhando muitos adeptos e fazendo parte do nosso dia a dia digital.
QUEM INSTALA O CHROME? O EXPLORER!
Uma das estratégias que mais nos impactou no modo online foi o aparecimento do navegador Google Chrome em setembro de 2008. Com o mercado completamente tomado pela Microsoft e seu horrendo navegador Explorer, os growth hackers do buscador optaram por sinalizar ao usuário a existência de um novo navegador quando acessávamos seus serviços como Gmail, Drive ou Docs nos navegadores da concorrência.
A despeito da qualidade do Chrome, que impressionava pela sua rapidez de acesso e também pela simplicidade na interface com o usuário, a tática de mandar uma mensagem ao usuário durante o uso dos serviços levava o mesmo a baixar e experimentar o novo navegador em menos de 2 dois minutos. Mesmo com retaliações, a ação tornou-se um sucesso.
Se no início dos anos 2000 o Explorer nativo Windows dominava completamente o mercado, a estratégia Google levou o Chrome a obter hoje 65,99% do mercado mundial de navegadores, bem acima da concorrência do Safari: 16,82%, Firefox: 4,09% e Edge: 2,3%.
GUERRILHA DEU RUIM!
O Menino do Acre ficou conhecido mundialmente após o desaparecimento do estudante Bruno de Melo Silva Borges, deixando a comunidade local, familiares e a internet em polvorosa devido a misteriosa instalação feita pelo jovem em seu quarto, com livros criptografados, mensagens e símbolos nas paredes e até uma estátua do filósofo Giordano Bruno.
Alguns meses depois, inclusive já constando como desaparecido pela Interpol, Bruno retorna ao lar dizendo ter passado algum tempo em retiro para um entendimento mais profundo da humanidade. Detalhe, durante seu sumiço o estudante lançou um livro “TAC: Teoria da Absorção do Conhecimento” com uma tiragem inicial de 20 mil exemplares chegando a figurar entre os mais vendidos em um levantamento do site especializado PublishNews.
Mesmo sendo um fracasso de crítica, e o escritor negar que seu sumiço fosse uma estratégia de divulgação, a obra foi amplamente divulgada e gerou retorno do “investimento” feito pela família do rapaz, que hoje transformou o tal quarto em espaço para visitação pública.
MAGIA DIGITAL
J.K. Rowling é outra que se vale muito da guerrilha digital para gerar demanda, porém com um amplo suporte de relações públicas. Chegando ao fim da sua aclamada criação Harry Potter, a autora pretendeu extrair um pouco mais de resultado desta saga, soltando “iscas” no seu twitter sobre os personagens tão queridos por todos.
Desde “revelar” que Hermione seria negra até afirmar que Albus Dumbledore mantinha um relacionamento homoafetivo com Gellert Grindelwald, fato é que J.K. utiliza seu Twitter de forma bem assertiva para capitalizar assuntos que envolvam suas obras, como no lançamento do seu último livro “Trouble Blood”, no qual está sendo acusada de transfobia por colocar um personagem transgênero como um degradado moral assassino na trama.
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GUERRILHA + DIGITAL = !
No meio online o marketing de guerrilha ganhou ainda mais relevância, com muitas marcas se apoiando na disseminação de redes sociais para bombarem suas mensagens nos consumidores. Escorregador no metrô alemão para lançamento de uma nova funcionalidade da Volkswagen, Unicef distribuindo água suja engarrafada em NY para conscientização dos problemas de países pobres, e o épico viral do canal TNT da Bélgica que coloca o expectador no centro da ação.
Astroturfing, Culture Jaming, Eventos, Flashmob, Intervenções Urbanas, Marketing Invisível, Marketing Viral, as ações de guerrilha podem ser colocadas em prática de várias maneiras, utilize sem moderação e com baixo investimento!!!
* ALEXANDRE ADOGLIO é CMO na Sonica e empreendedor digital.
Escreve semanalmente sobre Cultura Digital para o SC Inova.
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