Tomorrow.Building(s): o prédio que melhora a rua, a rua que melhora o bairro, o bairro que melhora a cidade. Não se trata de prédios com fachadas compostas por plantas ou grandes jardins, mas sim de um conceito amplo sobre eficiência. / Fotos: Jean Vogel
[08.11.2023]
Por Jean Vogel, presidente da Câmara de Smart Cities da FIESC, direto de Barcelona (ESP)
Esta cobertura é um oferecimento da Câmara de Smart Cities FIESC e Bairru PARC / Pista Innovation Hub
Se há uma indústria que precisa muito de inovação é a da indústria civil. O crescimento das cidades é impulsionado pela construção de prédios, e estão neles (e em sua cadeia produtiva), a grande concentração de geração de CO2, devido ao grande consumo de matérias primas – construção, e em sua posterior operação.
Estudos do Green Building Council (GBC) Brasil estimam que a cadeia produtiva da construção civil seja responsável pelo consumo de cerca de 50% de todos os recursos naturais disponíveis, renováveis e não renováveis. No Brasil, os resíduos deste ramo são responsáveis por mais da metade do volume de resíduos sólidos gerados em meio urbano.
O tema é tão significativo e importante, que diversos painéis tratam do tema, de maneira direta ou indireta, durante os três dias do Smart City Expo World Congress 2023.
Ontem, durante um deles, ouvi a seguinte frase: “o novo normal dos prédios são os Green Buildings“. Não se trata de prédios com fachadas compostas por plantas ou grandes jardins, mas sim de um conceito amplo sobre eficiência, desde o processo de geração das matérias-primas, passando pela construção, reuso e descarte dos materiais, e operação.
No mesmo painel um dado me chamou a atenção: “Para cada euro investido em eficiência na construção, o retorno durante a operação do prédio é de 5 euros. Ou seja: 1 Euro em CAPEX, resultam em 5 Euros em OPEX”.
Algumas das vantagens de um Green Building:
- Redução do consumo e dos custos de matérias-primas
- Redução na produção de resíduos sólidos e seu descarte correto
- Obras mais ágeis
- Otimização de investimentos e gastos energéticos com iluminação e climatização
- Redução de custos e facilidade da operação e manutenção do empreendimento
- Maior valorização em comparação a empreendimentos convencionais, com taxas de vacância até 7% menores.
Mas se estes dados são verdadeiros, porque temos pouquíssimos prédios aplicando estes conceitos?
- Porque não temos uma legislação ampla sobre o tema. Bastaria que municípios condicionassem as licenças de construção à aplicação dos conceitos (reuso e coleta de água da chuva, eficiência energética etc.). Se nossos eletrodomésticos e carros possuem selo que aponta sua eficiência, porque não nos prédios, que consomem centenas de vezes mais recursos?
- Quem constrói, via de regra, não é o dono do prédio, logo, o foco está apenas no custo de construção, sem se preocupar com sua eficiência na operação.
- O mercado não exige. Como consumidores somos pouco exigentes, quem aqui já investigou o tema ao comprar ou alugar um apartamento ou sala comercial?
Agora vamos analisar o tema sobre diferentes perspectivas:
GESTÃO PÚBLICA
Prédios eficientes (Green Buildings) tornam a cidade mais eficiente, consumindo menos recursos naturais (água e energia) e ajudam na gestão e “smartização” da cidade, pois podem servir como um ativo tecnológico para captar informações e transmitir ao gestor – lembra do data-driven de ontem?
E se… houvesse um concurso municipal, onde os moradores votassem todo ano no prédio mais bonito e eficiente da cidade, conferindo a ele, X% de desconto no IPTU? Gamificar a construção civil, incentivando uma corrida pelo prêmio – e consequente valorização. Que efeito isso geraria na cidade em 5, 10, 20 anos?
EMPRESAS
Se sua empresa está em um Green Building, além de um custo menor de condomínio, água, energia e manutenção, você provavelmente estará oferecendo um local de trabalho muito mais atrativo e inspirador para seu time, que terá menos resistência a sair do home-office, permitindo uma maior convivência física e consequênte engajamento com a cultura da empresa
RESIDÊNCIAS
Quem não quer morar e um apartamento bem construído, eficiente, que garanta uma boa qualidade do ar, de luz e de som – sem ouvir aquele seu vizinho de cima como se estivesse do seu lado? Pagar uma menor taxa de condomínio? Ter menos chamadas de capital, para constituir em um fundo para pintura e recuperação do prédio (que foi mal construído três anos atrás)? Tudo isso e muito mais está incluso no pacote de efeitos colaterais dos Green Buildings.
ECOSSISTEMA DE TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
Quantas startups da construção civil você conhece, as Construtechs? Isso aqui é um oceano azul de oportunidades, seja na cadeia de materiais, construção ou operação. E o Brasil tem tudo para ser um líder mundial nesse tema! (ok, sou bairrista)
CIDADES
Ah, como diz meu amigo e CEO da maior especialista brasileira em Green Building, Petinelli, vamos fazer o prédio que melhora a rua, e uma rua melhor torna o bairro melhor, que por sua vez, também melhora a cidade.
PARA CONCLUIR…
Se você é gestor público pode estar aí o ponto de partida para transformar sua cidade em uma Smart City (e melhor, sem investir nada!): promova leis que incentivem os prédios eficientes e veja a mágica acontecer.
Se você é empresário da construção civil, investigue o tema e você verá que a aplicação dos conceitos não torna a obra mais cara, pelo contrário, além disso, irá valorizar e acelerar a curva de vendas do seu empreendimento (avisa o pessoal do marketing!)
Se você é profissional ou estudante de arquitetura ou engenharia, let’s do it! procure um HUB de inovação e crie sua startup, as oportunidades são imensas.
Se você é investidor, invista no pessoal da linha de cima (com money e smart money) e be happy!
Se você vai comprar um imóvel, pergunte sobre os materiais utilizados, pela qualidade e durabilidade, pelo conforto térmico e acústico, pelo reuso de água e tratamento do esgoto… Vou parar por aqui, porque já fiquei com pena do corretor.
Em resumo: Green Buildings Make Smart Cities!
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