Startup sediada no LinkLab, em Florianópolis, recebe investimento do fundo Canary e quer ser o “first mover” deste mercado no Brasil
O crescimento no número de obesos e sedentários no Brasil motivou um ex-atleta e ex-executivo a desenvolver uma plataforma que estimula a realização de atividades físicas nas empresas e, em troca, gera créditos para doação a ONGs.
Este é, em síntese, o propósito por trás da GoGood, uma startup incubada no LinkLab, laboratório de inovação aberta da Acate, e que conta com mais de 2 mil usuários na plataforma, construiu cases de sucesso em empresas como PayPal e a imobiliária Brognoli. Em julho passado, recebeu um aporte seed do fundo internacional Canary com valor estimado entre R$ 1 milhão e R$ 2 milhões e prepara a expansão dos atuais cinco para 12 colaboradores até o final do ano.
Mas a história começou com uma “crise hippie 2.0”, brinca o CEO e cofundador Bruno Rodrigues. Campeão sul-americano de karatê na adolescência, ele deixou o esporte depois de se formar em Direito e embarcar na carreira executiva atuando no departamento de marketing e inovação do Grupo RBS, onde começou como trainee.
Quando o filho Rafael nasceu, em maio de 2015, ele começou a se questionar sobre o legado da carreira e começou a buscar um propósito para, futuramente, empreender. “Eu sentia que não estava usando o esporte como fator para a melhoria de vida. Isso poderia ser feito nas empresas, estimulando os colaboradores a fazer alguma atividade física”, relembra. Durante três meses, naquele ano, ele participou de um programa de empreendedorismo e inovação da Stanford Ignite em São Paulo, onde começou a desenhar o projeto.
Foi a virada de chave de executivo para empreendedor: “eu não tinha todas as respostas, mas já sabia como perguntar até chegar lá”, conta. No ano seguinte ele se dedicou à transição profissional e se juntou a outros dois sócios na área de tecnologia. Um deles, Leonardo Borba, doutor em Ciências da Computação e com forte background acadêmico, continua na empresa e é o atual diretor de tecnologia (CTO).
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A ideia que eles foram validar no mercado era desenvolver um produto de promoção à saúde voltada ao ambiente corporativo. O crescimento em 60% no número de obesos no Brasil nos últimos 10 anos, além do sedentarismo e de doenças como diabetes era o alvo principal a ser atacado, destaca o CEO: “se as pessoas mudassem hábitos, seria possível levar mais qualidade de vida. então pensamos em softwares que se conectassem com aplicativos de condicionamento físico, tivessem gamificação e ainda gerassem recompensa com créditos para entidades sociais”.
Outro argumento que a GoGood levou ao mercado foi ajudar a reduzir problemas de engajamento de colaboradores. Segundo Bruno, desde o momento zero o software já atraiu clientes. Um dos mais importantes no começo foi o PayPal: por meio do software, a empresa desafiou os colaboradores a correrem um total de 2,5 mil km ao longo de um mês. “A adesão foi forte e alguns realmente deixaram de ser sedentários. Isso validou pra gente que uma plataforma poderia ajudar a mudar hábitos de saúde de maneira leve e divertida”. Depois dessa experiência, a GoGood recebeu um aporte de US$ 50 mil da aceleradora Oxigênio e contrataram os primeiros desenvolvedores.
“Entendemos que nós podíamos ser tanto uma healthtech quanto uma HRtech, atendendo demandas de saúde que o setor de Recursos Humanos não consegue atender”, resume Bruno.
PROGRAMA DE INOVAÇÃO ABERTA AJUDA A DESENVOLVER PRODUTO AO LADO DO CLIENTE
Em 2017, a GoGood foi uma das selecionadas para a primeira turma do LinkLab, um projeto da Associação Catarinense de Tecnologia para ajudar grandes empresas a buscar soluções inovadoras para seus mercados com o apoio de startups. Um processo de cocriação, sem regras muito rígidas, de forma que cada empresa mantenedora pudesse criar sua própria relação com as startups. Naquele momento, a GoGood já tinha a imobiliária Brognoli – uma das mantenedoras do LinkLab – como cliente, e a conexão se aprofundou a partir do LinkLab.
“Nós conseguimos testar mais as ideias, especialmente pela proximidade que tivemos com o CEO da Brognoli. Esse contato com o principal tomador de decisão ajudou a mudar algumas mecânicas do produto, com isso levamos para o mercado de uma maneira replicável e escalável”, explica.
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Surgiram então outros clientes, como Neoway e MaxMilhas, que além de ampliar a base de usuários e receitas – as empresas pagam um valor recorrente mensal de acordo com o número de usuários – validou a proposta de valor: mais do que ser um desafio fitness para quem já fazia algum tipo de exercício físico, a GoGood ia focar no funcionário sedentário, que precisava de ajuda no gerenciamento do bem-estar, o que inclui atividades físicas e melhoria da alimentação e sono. “Esse público representa 80% dos funcionários das empresas. O desafio fitness engajaria uns 10% dos colaboradores. Queremos aumentar a disposição diária, a felicidade e reduzir o absenteísmo com uma plataforma fácil e divertida”, resume.
E onde entra a doação para as ONGs?
Segundo o fundador, não há intermediação de valores nem obrigatoriedade de doações. A ideia é que a participação das ONGs aumente o impacto e o engajamento. “A decisão é sempre do cliente, de acordo com a política interna de quem eles querem ajudar. Nós temos uma rede de parceiros caso o cliente necessite de sugestões. Assim nós conseguimos conectar duas áreas que não se falavam, os Recursos Humanos e a Responsabilidade Social”.
FIRST MOVER NO MERCADO BRASILEIRO
Entre abril e maio de 2018, a GoGood passou por um período de aceleração na Plug&Play, onde Bruno pode comparar o desenvolvimento do mercado nos Estados Unidos: “eles já têm uma cadeia forte de plataforma de tecnologia para mudança de hábitos. E mesmo assim nós estamos bem competitivos dentro do padrão norte-americano. No Brasil, o mercado ainda está em desenvolvimento e queremos ser os primeiros”.
A oportunidade de tornar a startup em uma first mover motivou o investimento do fundo Canary. Recurso este que será utilizado no crescimento da equipe e também no desenvolvimento da plataforma: até julho, a equipe era de cinco pessoas e agora deve passar para nove, com expectativa de chegar a 12 até o fim do ano. Com a expansão, a GoGood deixa o LinkLab para ocupar um espaço no ParqTec Alfa, que abriga dezenas de startups da Capital.
“O atual modelo não está saudável pra ninguém. Os índices de sedentarismo e doenças são altos, o sistema de saúde é muito caro, com reajustes absurdos e as administradoras dos planos também estão perdendo rentabilidade. Uma plataforma de bem-estar no trabalho vai ser cada vez mais necessária no Brasil, também pela disputa de talentos nas empresas, que precisam estar se sentindo bem. É este o mercado que estamos puxando”, define Bruno.
Reportagem: Fabrício Rodrigues, scinova@scinova.com.br
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