Novas tecnologias ajudam a navegar cenários complexos e guiar decisões estratégicas e estabelecem novos paradigmas e desafios aos governantes. / Foto: Marco Mora (Unsplash)
[09.02.2024]
Por Lúcia Mees, engenheira eletrônica, engenheira da computação e empreendedora graduada pela Duke University (EUA). Atualmente é vice-presidente da IPM Sistemas.
A mudança parece ser a única constante do mundo atual. Em poucas décadas, fomos dos primeiros computadores pessoais para mais de 10 bilhões de dispositivos conectados à internet. Entretanto, até recentemente as tecnologias existiam de forma dependente ao trabalho humano, funcionando por regras definidas e limitadas, e sempre com uma pessoa por trás. Com velocidade impressionante e impacto além da imaginação coletiva, a Inteligência Artificial pôs em xeque todas essas premissas, e promete desafiar outras mais.
Apesar da magnitude da evolução tecnológica dos últimos 30 anos, a inteligência artificial nos coloca diante da maior revolução até então. Pela primeira vez, entram em cena ferramentas que funcionam de forma mais autônoma, simulam a inteligência humana, e radicalmente redefinem o panorama socioeconômico. E a gestão pública, como responsável pelos serviços mais essenciais do país e presente na vida de todos os brasileiros, fica no centro dessa mudança.
Duas estatísticas ajudam a explicar tamanho frenesi: de um lado, 85% dos líderes reportam estresse elevado na tomada de decisões (Oracle); do outro, apenas 21% dos municípios utilizam sistemas de apoio à tomada de decisão (TIC Governo Eletrônico). Essa é uma conta que a inteligência artificial ajuda a fechar, impulsionando o setor público em uma jornada de inovação de magnitude inédita.
De forma acessível e prática, as tecnologias de IA são capazes de navegar um cenário cada vez mais complexo de dados, identificando conexões e conclusões que podem passar despercebidas ao olhar humano. Com isso, são aliadas poderosas na tomada de decisão – especialmente nas situações críticas e de alta pressão do governo.
PARA ONDE CAMINHA A INOVAÇÃO
O universo de ferramentas de IA é tão vasto e diversificado como os desafios que se propõe a abordar. Há algoritmos para predição das doenças que mais tiram vidas no Brasil, ferramentas que enxergam gargalos de infraestrutura com anos de antecedência, assistentes virtuais para resolução das demandas da população, e tecnologias para combater problemas tão diferentes como a evasão escolar e as filas de espera do SUS. É uma multitude de soluções que tornam cada passo da rotina no governo mais eficiente e mais inteligente, e há muitas mais vindo por aí.
Na era atual da IA, motivada por esses avanços tão diversos, dois aspectos têm potencializado os resultados e comprometimento com sua adoção no governo. Primeiro, mais do que apoiar o trabalho dos gestores e servidores, a IA têm cada vez mais focado no impacto final no cidadão, seja na saúde, na educação, ou nos tantos outros serviços essenciais. Segundo, há um enfoque em tornar mais precisa e proativa a atuação do setor público, trazendo mais ciência às políticas e ações que durante muito tempo foram pautadas em percepções mais ambíguas ou, em muitos casos, influência política.
Um exemplo disso é o impacto da IA no planejamento, pilar da administração, onde ela pode entender os efeitos de cada mudança de pessoal – por exemplo, em planos de cargos e salários -, indicar hoje as necessidades de infraestrutura para os próximos anos, e conectar vastas quantidades e tipos de dados para sugerir melhorias na operação.
Construir um ecossistema que permita aos serviços públicos chegar a esse estágio de transformação digital, entretanto, não é algo que se faça de um dia para o outro. Muitos órgãos públicos ainda veem sua operação dependente em centenas de ferramentas diferentes, o que torna sua integração em plataformas únicas o primeiro passo crítico. Outros, mesmo com dados integrados e acessíveis em tempo real, ainda veem na expressão “inteligência artificial” uma nuvem cinzenta de soluções das mais variadas maturidades técnicas.
No mercado, há muita gente falando em IA, mas são variados os graus de correspondência à definição e resultados esperados desse tipo de tecnologia. As tecnologias especializadas com resultados comprovados em aplicações mais complexas, ou seja, que realmente potencializam o trabalho humano de forma inédita, têm despontado e conquistado espaço na rotina do setor público.
Acima de tudo, é nítido que o cenário da gestão pública nunca foi tão complexo e desafiador: líderes são apresentados com fontes de dados diferentes e realidades contrastantes, cidadãos estão mais conectados e exigentes (com razão), e a continuidade de gargalos históricos torna cada vez mais crítico que as decisões sejam tomadas da forma certa, e de maneira ágil. A inteligência artificial pode até não ser uma solução mágica, mas seu impacto profundo em tempo recorde em todos os setores da sociedade certamente a coloca como a definição atual mais próxima disso.
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