Formação de mão de obra: como SC pode superar a falta de desenvolvedores com inclusão social

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Formação de mão de obra: como SC pode superar a falta de desenvolvedores com inclusão social

Participação do setor público na formação de base e investimento em educação continuada de juniores pela empresas são soluções apontadas por especialistas

Aumento da participação do setor público com formação de base e investimento em educação continuada de juniores pela empresas são soluções apontadas por especialistas para reduzir um dos principais gargalos de desenvolvimento do setor.  

Foto: turma do Tec Trampo, iniciativa da Involves e ICOM. Foto: Daniel Rodriguez 


[FLORIANÓPOLS, 08.09.2022]
Por Lúcio Lambranho, especial para o SCInova

O ecossistema de inovação tem a oportunidade de atender a demanda cada vez mais alta de mão de obra qualificada e ao mesmo tempo promover inclusão social de jovens em Santa Catarina. Nas listas de ações para que essa união de esforços seja efetiva nos próximos anos, segundo os especialistas ouvidos pelo SCInova, estão a participação maior do setor público, incluindo a formação de base nas escolas públicas, e a conscientização das empresas de que investir em novos talentos e na formação continuada de desenvolvedores juniores podem resolver um dos principais gargalos para o crescimento do setor. 

Segundo estimativa da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE), até 2023 o setor de tecnologia criará mais de 16 mil vagas de emprego e as oportunidades devem aumentar nos próximos dois anos em uma média de 5,5 mil novos empregos. É uma a tendência é nacional considerando os dados da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom). 

Entre janeiro de 2020 e setembro de 2021 foram criados mais de 120 mil vagas no Brasil nas carreiras de desenvolvimento de software, mesmo com a recessão econômica causada, principalmente, pela pandemia. E a projeção para os próximos anos é que mais de 700 mil novas vagas em carreira tech sejam criadas.

Para Jorge Mallet, diretor de RH na GeekHunter, antes de falarmos sobre o tema de educação de tecnologia voltada para a inclusão é muito importante lembrar dos principais pontos que estruturam o avanço do aprendizado por alguma pessoa de tecnologia: ensino básico de inglês e matemática, além do acesso a equipamentos/hardware e internet de qualidade. 

“O principal ponto que o setor público pode ajudar é repensar a formação básica que existe no Brasil hoje. Por exemplo, existem algumas escolas – falando especificamente em escolas privadas – que ensinam robótica, conceitos de programação, matemática e lógica desde os anos iniciais até o ensino médio. O setor público deveria pensar em dar acesso a esses conhecimentos mais cedo para as pessoas, criando uma boa base para o futuro profissional delas”, afirma.

Sem essa base, afirma Mallet, as pessoas, muitas vezes, chegavam para o curso sem saber os comandos básicos de um computador ou noções básicas de matemática e lógica. “Percebi que quando as pessoas não tinham acesso a essa base, elas se frustravam logo nas primeiras aulas e paravam de acompanhar o resto da turma, achando que não conseguiriam continuar. Mesmo ajudando de forma pontual, é um conhecimento que deveria fazer parte da educação básica”, avalia. Por isso, o diretor da GeekHunter acredita que setor público deve fomentar cursos, mas também garantir a base, a estrutura para que as pessoas estejam “minimamente preparadas para o mercado”. 

Inclusão social: "não podemos esquecer de outras diversas barreiras que existem como a da língua", diz Jorge Mallet, diretor de RH da startup de recrutamento Geekhunter.
Inclusão social: “não podemos esquecer de outras diversas barreiras que existem como a da língua”, diz Jorge Mallet, diretor de RH da startup de recrutamento GeekHunter.

“A jornada de desenvolvimento começa bem antes e ter uma educação básica de qualidade que contemple esses conhecimentos é fundamental para a formação profissional dos jovens. E falando em inclusão social, não podemos esquecer de outras diversas barreiras que existem como a da língua – já que o trabalho em tecnologia exige conhecimento em inglês – barreiras relacionadas à diversidade e inclusão de pessoas com deficiência”, afirma.

“NÃO ADIANTA SÓ FORMAR O JUNIOR E NÃO DAR ACOMPANHAMENTO”

“As empresas têm que entender que esse é um give back para o mercado com todo mundo junto investindo na qualificação e formação dessa galera. Na absorção como estagiários e também de criar uma cultura de mentoria e acompanhamento deste pessoal. Não adianta só formar o júnior, mas é preciso acompanhar os juniores dentro das empresas de comprometimento com a formação continuada”, avalia Jefferson Lima, idealizador do Prototipando a Quebrada (PAQ), projeto social periférico de educação tecnológica criado na região metropolitana de Florianópolis em 2018.

Para Lima, no caso do setor poder público é necessário incorporar nos editais para área de tecnologia organizações do terceiro setor com novos processos e programas de formação de jovens para o setor. “Os editais de fomento a inovação de algumas cidades não preveem o processo de formação de jovens. Acho que acho que isso pode ser pensado a nível estadual, num estado que se coloca forte em inovação e tecnologia”, diz. 

Prototipando a Quebrada: programa social periférico de educação tecnológica foi criado em 2018 na Grande Florianópolis. Foto: Divulgação

Em 2022, o PAQ conseguiu formar oito turmas no seu processos de imersão, sendo quatro no espaço Primavera e cinco na unidade na Pedra Branca, em Palhoça. Ao todo foram 105 jovens foram impactados, além de 64 no processo de aceleração e 10 deles estão inseridos no mercado de trabalho. 

“O ecossistema de tecnologia em Florianópolis é uma potência. Por isso, tudo começa com o envolvimento e conexão para uma relação de troca, reunindo educação e conscientização entre as empresas para que possam compreender o contexto em que elas estão inseridas e a responsabilidade que possuem perante a sociedade. Afinal, não adianta ampliarmos a oferta, se não nos educarmos para promover um ambiente diverso em que as pessoas sintam que pertencem a ele”, avalia Ana Pires, culture partner da Involves, empresa que desenvolve o Tec Trampo.

O projeto criado pelo Involves Zero, fundo social da Involves, e o Instituto Comunitário Grande Florianópolis (ICOM) com o objetivo de transformar a realidade de jovens em situação de vulnerabilidade social, oportunizando renda, apoio e formação para que possam trilhar uma carreira no setor de tecnologia. 

O Tec Trampo atendeu até o momento 18 jovens, sendo 15 pessoas negras e 14 mulheres. A primeira turma do projeto aconteceu em 2021 e apoiou três jovens. A segunda turma, que iniciou em março deste ano, apoiou 15 jovens. E em uma nova turma em 2023 será formada com um terceiro edital.  

“É isso que gera inclusão. Por fim, fizemos um convite ao setor público e privado para se juntarem ao nosso projeto. Há espaço para que cada vez mais jovens, que sequer sonhavam com este cenário, mas lhes faltava a oportunidade de mostrar seu talento para suprir uma demanda que atualmente é um desafio para diversas empresas, que são as vagas nas áreas de desenvolvimento”, completa Ana Pires. 

Ana Pires, culture partner da Involves no TechTrampo
Ana Pires, culture partner da Involves no TecTrampo: “tudo começa com o envolvimento e conexão para uma relação de troca, reunindo educação e conscientização entre as empresas”

Neste cenário e falta de vagas, segundo Mallet, há um comportamento das empresas de buscarem o profissional sênior, que possui experiência na área, mas esquecem de formar as pessoas juniores, que estão em início de carreira e precisam aprender e se desenvolver. 

“Até percebemos um movimento de contratação de pessoas juniores, mas ou por big techs, que conseguem ter um time de seniores para acompanhar o desenvolvimento de quem está em estágio inicial da carreira, ou startups que não têm como pagar um salário de uma pessoa sênior. Mas, observamos que a maioria das empresas ainda busca o perfil sênior, são poucas as que estão pensando em formar as novas gerações”, diz. 

Como mostrou o SCInova em agosto, a criação e formação de um programa de formação profissional é um dos três temas que foram mantidos pelas entidades do setor entre as reivindicações aos candidatos a governador nas eleições de 2018 e agora nesta de 2022. 

No documento, a ACATE e suas parceiras regionais argumentam que o  como as profissões tecnológicas demandam conhecimento de matemática e raciocínio lógico, é “fundamental” um esforço dos poderes públicos nessas matérias e na formação do ensino médio e no ensino técnico-profissionalizante nas áreas de conhecimento que a tecnologia utiliza.

CAPITAL DA INOVAÇÃO LANÇA PROGRAMA DE FORMAÇÃO PARA JOVENS E ADULTOS

Uma iniciativas mais recentes nesta área com envolvimento do setor público é o Floripa Mais Tec, programa que pretende formar jovens e adultos em uma parceria entre Prefeitura de Florianópolis, Senai/Fiesc, Sebrae/SC e ACATE. Lançado em agosto, durante o Startup Summit, a iniciativa quer atingir mais de 15 mil pessoas dentro deste público da Grande Florianópolis. A próxima etapa do programa será no dia 24 de setembro, no Aulão do Futuro, em que são esperadas mais de 3.500 pessoas para acompanharem os profissionais renomados do setor de tecnologia que irão detalhar as oportunidades e particularidades de cada uma das nove trilhas de formação que serão disponibilizadas. 

Programa Floripa Mais Tec pretende atingir mais de 15 mil pessoas
Programa Floripa Mais Tec, lançado durante o Startup Summit 2022, pretende atingir mais de 15 mil pessoas. Foto: Divulgação

Para Luc Pinheiro, diretor-técnico do SEBRAE/SC, o programa vai oportunizar aos jovens novas perspectivas de futuro, sendo um primeiro e importante passo para o acesso ao mercado de trabalho. “Ao mesmo tempo, vai ajudar a suprir uma demanda da capital, a falta de mão de obra qualificada para o setor de tecnologia, um dos que mais cresce na cidade. Para nós do Sebrae apoiar uma iniciativa como essa é apostar no futuro desses jovens e estimular em cada participante a cultura da inovação e do empreendedorismo”, afirma Pinheiro. 

Já o vice-presidente de Talentos da ACATE, Moacir Antônio Marafon, destacou que a iniciativa é importante não apenas para suprir a demanda de profissionais no setor. “Florianópolis é a cidade do Brasil com o maior número de empreendedores por mil habitantes. Cada empresa tem em média três a cinco executivos empreendedores. Não param de surgir e de crescer startups”, disse.

CONHEÇA OUTROS PROJETOS DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL 

MEU APLICATIVO 
Ao longo dos próximos três meses, 20 alunos da Escola Básica Municipal Intendente Aricomedes da Silva (EBIAS), no norte de Florianópolis, serão os primeiros a participar de um programa de tecnologia voltado a crianças consideradas superdotadas ou com “altas habilidades” (AHS). O projeto é uma parceria entre a Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE) e o Comitê para Democratização da Informática (CPDI), teve início na semana passada e tem como objetivo despertar em estudantes a partir de oito anos o interesse pelo desenvolvimento de apps mobile. 

DEV THE DEVS
Destinado a jovens do ensino médio da rede pública estadual a partir dos 16 anos. As inscrições para etapa deste ano foram encerradas no dia 28 de agosto. Nesta edição estão sendo ofertadas 2.100 vagas, divididas em 700 para cada estado da Região Sul (RS, SC e PR). Metade das vagas são destinadas a meninas. Para participar, não é preciso ter conhecimento prévio de programação, porém é necessário acesso a um computador com aproximadamente 8GB de memória e internet capaz de reproduzir as vídeo aulas. O programa é realizado pelo BRDE (Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul), pelo CAF (Banco de Desenvolvimento da América Latina) e pelo Tecnopuc (Parque Científico e Tecnológico da PUCRS), com apoio de governos e organizações. Em Santa Catarina recebe o apoio da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE) e da Secretaria do Estado da Educação.  

DEVinHouse
Iniciativa da ACATE e do SENAI Santa Catarina. Tem participação da Philips como parceira desta edição. Ao final do programa, os alunos terão a possibilidade de serem contratados para trabalhar na unidade da empresa em Blumenau. Estão sendo ofertadas 45 vagas, todas com bolsas de estudo integrais. As inscrições vão até dia 11 de setembro pelo site do programa.