O incentivo ao uso compartilhado do automóvel é fundamental no pós-Covid, antecipa o secretário de Mobilidade Michel Mittmann, em live promovida pela Acate, com participação do head de Parcerias do Waze.
[FLORIANÓPOLIS, 29.09.2021]
Por Lúcio Lambranho, especial para a Agência SC Inova
O uso dos dados da Waze, empresa de tecnologia especializada em aplicativos de tráfego, e que foram reunidos durante a pandemia será analisada pela Prefeitura de Florianópolis em seu novo plano de mobilidade. O anúncio foi feito durante a live organizada pela Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE) para discutir o tema, nesta quarta-feira (29).
Durante o debate, Michel Mittmann, secretário de Mobilidade e Planejamento Urbano, destacou que essa possibilidade está sendo avaliada diante dos novos desafios que a cidade deve enfrentar para reduzir os efeitos negativos da pandemia, especialmente no transporte coletivo com novos custos gerados diante da redução no número de passageiros apesar da volta da oferta de ônibus ao mesmo patamar de antes da crise sanitária.
O gestor municipal também afirmou que serão apresentadas sugestões de mudanças no Plano Diretor para atrair novos moradores de várias classes sociais para cidade com a redução dos preços dos imóveis e dos aluguéis. Os novos projetos devem passar por incentivos a projetos que tornem a cidade mais sustentável e inteligente na área de mobilidade urbana, incluindo mais autonomia aos bairros diante do aumento do trabalho remoto e da redução de deslocamentos mais longos na capital.
Uma das possibilidades de soluções apresentadas no evento é o aumento do uso compartilhado de carros. O aplicativo de mapas Waze lançou ainda em 2018, o Waze Carpool, voltado a caronas. Em Florianópolis, a solução está sendo testada por nove empresas da região em soluções corporativas de retorno ao trabalho presencial de seus funcionários.
Antes da pandemia cada carro levava praticamente apenas uma pessoa, 1,29 pessoa por carro, uma média bastante baixa, segundo os dados apresentados pelo secretário da Prefeitura. Nas contas da gestão municipal, o dado equivale a 10 carros no trânsito transportando apenas 13 pessoas. “Isso é um número absurdo, ainda se pensar que a maioria dessas viagens é com destino ao centro, que ainda é o maior polo de atração, e gera conflitos urbanos de toda ordem”, apontou Mittmann.
Serão apresentadas sugestões de mudanças no Plano Diretor para atrair novos moradores de várias classes sociais para cidade com a redução dos preços dos imóveis e dos aluguéis
“Se a gente pensar que, se dois carros pudessem oferecer carona e o projeto Ponte Viva queria motivar e ainda motiva essa discussão, a gente reduziria em 20% o número de veículos no trânsito. Se quatro carros também estivessem com caronas, essa redução seria de 40% naquela região”, avalia o gestor ao citar o projeto da Prefeitura para a Ponte Hercílio Luz, que foi reinaugurada em dezembro de 2019. O desincentivo ao uso do automóvel individual passa a ser “fundamental”, segundo Mittmann, em um novo contexto de pós-pandemia, assim com a valorização dos modais coletivos para pedestres e ciclistas.
De acordo com o secretário, os dados apontam que o transporte coletivo já tem uma oferta quase igual a antes do começo da pandemia, mas o número de passageiros ainda é a metade dos que usavam este meio de transporte na capital apesar do avanço da vacinação e redução de casos de contaminação e mortes provocadas pela Covid-19. “Temos uma dificuldade tremenda de manutenção do sistema. Foi a nossa maior batalha, e ainda vamos sofrer por bastante tempo os efeitos da pandemia sobre o transporte coletivo. Isso vai gerando custos complexos que vão ter que ser equacionados”, aponta.
Entre as soluções apontadas pelo secretário para equalizar estes novos custos sem repassar os valores ao preço da tarifa do transporte coletivo, que também afastaria ainda mais os usuários, passam por uma nova gestão do sistema de estacionamento rotativo e valorização do deslocamento coletivo na cidade. “Outras formas de financiamento do transporte coletivo devem ser discutidas como busca de solução. Motivar outras formas solidárias, como o compartilhamento de automóveis também passa a ser fundamental”, diz.
Os problemas apresentados pelo secretário da Prefeitura no transporte coletivo foram confirmados por estudo divulgado em agosto pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Segundo os dados, em 2018, a quantidade diária de passageiros transportados por ônibus em grandes cidades brasileiras foi aproximadamente 60% do que era registrado em meados da década de 1990.
Essa redução, diz o Ipea, revela a fragilização dos sistemas de transporte coletivo em favor de um padrão de mobilidade individual. Realizado em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), o estudo mostra que, em 2018, 70,4% das famílias brasileiras realizaram gastos com transporte urbano, sendo que menos da metade (45,5%) das famílias teve despesas com transporte coletivo, enquanto que 71,4% tiveram gastos com transporte individual motorizado.
No caso dos estacionamentos rotativos, Mittmann afirmou durante o debate que a gestão municipal está organizando um Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) para revisar todo o modelo deste serviço na cidade e devem ir além da organização das vagas. “Soluções que possam inclusive financiar o transporte coletivo e a sinergia da mobilidade tem que acontecer e passando por qualificação de linhas de ônibus em estudos e números”, afirma.
WAZE: TRÂNSITO ESTÁ VOLTANDO AO NORMAL EM FLORIANÓPOLIS – E O NORMAL NÃO É BOM
Douglas Tokuno, head de Parcerias Waze Carpool para a América Latina, apresentou dados do aplicativo que mostram a tendência de que os problemas de mobilidade na capital podem retornar com a redução das restrições impostas pela pandemia.
Os números apresentados por Tokuno mostram que no dia 22 de março de 2020, quando começaram as restrições de deslocamento por conta da crise sanitária, Florianópolis registrou 93% de nível de parada do uso da ferramenta, enquanto cidades maiores como São Paulo e Porto Alegre, registraram 72% de redução.
Mas no Ano Novo, quando as pessoas achavam que a pandemia já estava perto do fim, Florianópolis teve uma movimentação duas vezes maior de uso do Waze do que no período pré-pandemia.
Em agosto e setembro deste ano, São Paulo e Porto Alegre estiveram com fluxo de média de 40% mais alto do que antes da pandemia, enquanto a capital de Santa Catarina está com comportamento estável com média de 25% em comparação com pré-pandemia. “Apesar da sensação de o trânsito ter voltado ao normal, esse normal é ruim. Ninguém está mais disposto a perder uma hora do seu dia para se locomover”, avalia.
Um dos exemplos de possibilidade de integração de mobilidade citados pelo diretor da empresa é o do usuário que deu carona pelo aplicativo ter descontos ou até mesmo não pagar a taxa de estacionamento num deslocamento da área continental para os bolsões de vagas no centro da cidade ou nos rotativos.
“A integração das modalidades de transporte, de acordo com horário e naquele dia específico, é o futuro da mobilidade. E para que essa integração aconteça é importante que os entes trabalhem juntos e que os incentivos sejam corretos”, destacou Tokuno.
Como mostrou o SC Inova em novembro do ano passado, a empresa já tem duas parceiras pelo mesmo aplicativo. Um exemplo de parceria entre setor público e privado é o projeto em Joinville com o Waze Carpool. Uma iniciativa foi usar os dados de tráfego da empresa de tecnologia para redefinir o sentido em ruas da cidade que tinham problemas crônicos de engarrafamento, com objetivo de reduzir o tempo das viagens.
Em outra ação, o Perini Business Park – parque empresarial pelo qual circulam cerca de 10 mil pessoas por dia – criou um programa de incentivo à carona compartilhada que, entre setembro e novembro de 2019, gerou um total de 13.970 caronas, com uma economia de 54,4 toneladas de emissão de CO², segundo dados do Waze Carpool.
PLANEJAMENTO URBANO DEVE INCLUIR NOVAS FORMAS DE MOBILIDADE
Outro ponto destacado na live pelo secretário de Florianópolis é a conexão das novas formas de mobilidade com projetos de cidades inteligentes e sustentáveis. Segundo Mittmann, será preciso a revisão do Plano Diretor de Florianópolis, pois o modelo atual “trava muito”, principalmente, a autonomia dos bairros.
“Temos grandes áreas residenciais de baixa densidade. Isso é um modelo completamente equivocado de desenvolvimento. Provocamos mudanças pontuais no que já existe para promover uma cidade mais sustentável e que ofereça essa nova modalidade de trabalho. Se as pessoas não vão sair de casa para o trabalho, elas vão utilizar mais os seus bairros e vão ter o direito de encontrar novos serviços. Hoje o Plano Diretor não permite isso. Então estamos provocando sugestões de planejamento urbano com solução também de mobilidade”, ressalta.
Neste mesmo sentido, afirma o secretário, as mudanças sugeridas passam por mudanças que possam reduzir o preço dos imóveis e atrair ou permitir que pessoas de diferentes classes sociais vivam na cidade. “Não podemos perder a oportunidade de perder pessoas e talentos sem dar o direito de moradia. Que as pessoas possam trabalhar aqui numa empresa de tecnologia, mas também possam morar em Florianópolis”, diz.
“Temos um grande caminho a ser percorrido, mas o fato de estarmos aqui reunidos novamente, é importante para tornar Florianópolis, um smart destination, uma cidade muito agradável para se visitar. E iniciativas como a do Waze Carpool são extremamente importantes para este tipo de visão”, avaliou Diego Brites Ramos, vice-presidente de relacionamento e diretor da Vertical Smart Cities da ACATE.
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