Para líder da Rede de Investidores Anjo de SC, que já investiu R$ 1,1 milhão em cinco empresas nascentes, é preciso disseminar ‘cultura do capital de risco’ para atrair novos interessados
O fenômeno das startups se disseminou em Santa Catarina nos últimos anos: entre os 102 projetos aprovados para receber recursos do programa de fomento Sinapse da Inovação em 2018, há ideias de empreendedores de 30 cidades catarinenses. Além dos principais centros regionais, o programa financiado pela Fapesc e operado pela Fundação CERTI selecionou projetos vindos de pequenos municípios como Luzerna, Herval D’Oeste, Ouro, Pinheiro Preto, Otacílio Costa e Forquilhinha.
Se não faltam startups – ainda que em estágio embrionário – em diversas cidades do estado, o mesmo não se pode dizer de investidores dispostos a aportar recursos iniciais para ajudar a desenvolver esses projetos. A avaliação é do líder da Rede de Investidores Anjo de Santa Catarina, Marcelo Cazado: “apesar de termos muitas startups, o que é um bom sinal, não temos massa crítica de investidores em cidades menores. A falta de experiência neste mercado de inovação é um fator crítico”.
Criada em 2016, numa articulação entre a Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE) e a Anjos do Brasil, a RIA SC foi a rede regional de investidores que mais se destacou entre as 15 existentes no país no primeiro ano de atividades. Desde então, já realizou oito fóruns (quatro a cada ano), onde se apresentaram 33 startups. Cinco destas – Conpass, Geekhunter, epHealth, Viajo e Byond – já receberam aportes de seed capital que somaram R$ 1,1 milhão. Ao todo, são 45 investidores ativos na rede, que também se reúnem duas vezes ao ano em encontros mais despojados de relacionamento e troca de experiências.
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Em 2017, um dos projetos foi apresentar o RIA para cidades do interior catarinense. Foram 10 eventos, em cidades como Joinville, Criciúma, Blumenau, Tubarão, Itajaí, Chapecó e São Bento do Sul. Mas não se criam investidores com apetite para o capital de risco de uma hora para outra. “É preciso disseminar uma cultura sobre este perfil de investimento. É o que os americanos chamam de knowledge gap (vácuo de conhecimento), por isso tem que se divulgar os casos de sucesso, apresentar modelos que podem funcionar”, explica Cazado. E acrescenta: “há participantes da Rede que fizeram o ciclo completo: empreenderam seus negócios, venderam e agora reinvestem em novas startups”.
Ao longo de dois anos, a RIA SC investiu R$ 1,1 milhão em cinco startups: Conpass, Geekhunter, epHealth, Viajo e Byond
Segundo ele, cidades como Joinville e Blumenau estão mais avançadas para montar redes locais de investidores. Em fevereiro passado, um evento organizado pelo Instituto Gene e Prana Inovação e Recursos, com apoio do Núcleo de Inovação da Associação Comercial e Industrial de Blumenau (ACIB) e a Fundação Fritz Muller, entre outros, marcou o início de uma articulação local para criar uma rede de investidores dispostos a capitalizar as startups que estão surgindo na região. “Chapecó também é promissora, foi uma das cidades que mais enviou projetos para o Sinapse da Inovação neste ano”, comenta.
Investimentos em venture capital dobram no país em um ano
O momento econômico do país pode não ser o ideal para investimentos de risco, mas no ambiente das startups, a disponibilidade de recursos aumentou muito nos últimos anos. De acordo com dados do relatório trimestral do Transactional Track Record, no panorama de investimentos de venture capital, o mercado brasileiro registrou o melhor primeiro trimestre dos últimos três anos: as 46 operações registradas no ano somaram R$ 1,2 bilhão – uma alta de 137% frente ao mesmo período de 2017. Já a Associação de Venture Capital da América Latina (Lavca), calcula que o total de aportes em 2017 (R$ 2,86 bi) foi quase o triplo do que o registrado em 2016 (R$ 960 mi) – o número de startups aceleradas aumentou de 64 para 113.
“Vamos ver muitos investimentos nos próximos três a cinco anos”, prevê Cazado. “O movimento de startups ganhou tração no Brasil e há outros cenários positivos também, como a queda da taxa de juros e principalmente o ciclo de crescimento da economia do país previsto para os próximos anos. Com isso, sobra mais dinheiro no mercado e, aliado a uma taxa de juros mais estável, é natural que sobre recursos para investimento em capital de risco”.
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