Com a difusão cada vez maior de programas de inovação aberta, as startups começaram a enxergar riscos importantes nessas relações. É fundamental que os gestores das empresas estabelecidas entendam esses riscos, para que seja possível gerenciá-los.
[22.06.2021]
Por Marcus Rocha, CEO do 2Grow Habitat de Inovação.
Escreve quinzenalmente sobre ambientes e ecossistemas de inovação no SC Inova.
Para ser consistente e estratégica, a Inovação Aberta precisa considerar uma série de ações e frentes de trabalho. No entanto, é bastante claro que hoje a maior parte das empresas que adota esse método para inovar busca trabalhar em conjunto com empresas inovadoras nascentes, principalmente aquelas que possuam altos níveis de inovação em seus produtos/serviços e que desenvolvam modelos de negócios altamente replicáveis e escaláveis; ou seja, as startups.
Primeiramente é importante que os gestores das empresas estabelecidas compreendam que haverá diferenças culturais significativas em relação às startups. Ao criar um trabalho em conjunto, essas diferenças podem representar oportunidades para que ambas as partes aprendam e evoluam, porém esse aprendizado precisa ser gerenciado para que não se transforme em atritos geradores de problemas.
Segundo estudo do Fórum Econômico Mundial é importante que organizações que desejam trabalhar com inovação aberta entendam quais benefícios as startups buscam nesse tipo de relacionamento. Também é necessário compreender quais riscos e desafios as startups percebem quando iniciam um processo de trabalho com um parceiro muito maior e mais experiente. Ou seja, para que a parceria seja bem-sucedida, a empresa estabelecida precisa ter uma boa dose de empatia, compreendendo a visão dos seus parceiros.
Startups que buscam participar de programas de inovação aberta procuram, antes de mais nada, uma relação de apoio junto a um parceiro que possui melhor conhecimento do mercado e, por isso, tem condições de proporcionar mentoria e suporte, além de acesso a conhecimentos e recursos que seriam praticamente inalcançáveis sem a parceria. Portanto, é fundamental que a empresa estabelecida segure seus ímpetos de dominância, para que não sufoque a startup, principalmente em condições contratuais abusivas e processos excessivamente burocráticos.
Importante compreender que a startup também busca nesse tipo de trabalho um parceiro que representa uma oportunidade de um relacionamento de negócios mais estável e longevo. Dessa forma, além de garantir uma fonte de receitas mais segura, proporcionando menor dependência de capital externo, a startup vê na empresa estabelecida uma espécie de embaixador, cuja história de sucesso poderá alavancar mais negócios e, assim, aumentar o potencial de escalabilidade da sua base de clientes.
Com a difusão cada vez maior de programas de inovação aberta, as startups começaram a enxergar riscos importantes nessas relações. É fundamental que os gestores das empresas estabelecidas entendam esses riscos, para que seja possível gerenciá-los e, assim, aumentar as chances de sucesso dos projetos de inovação em parceria.
RISCOS E PRESSÕES DE UM PARCEIRO GRANDE PODEM ACABAR COM UMA STARTUP
Antes de mais nada, é importante perceber que startups consomem muito capital, sendo que a maior parte delas – especialmente aquelas que estão no early stage – não acessa os grandes volumes de investimentos de risco que são publicados nos grandes portais de notícias (esses casos são a exceção, principalmente no Brasil). Portanto, as empresas estabelecidas não podem envolver as startups em negociações intermináveis, ou colocá-las em provas de conceito longas, sem nenhuma remuneração ou sem uma perspectiva de fechamento efetivo de negócios. Mesmo que seja para dizer “não” para uma startup, a empresa estabelecida deve fazer isso da forma mais rápida possível, pois a falta de receitas ou o desperdício de recursos pode, literalmente, acabar com uma startup, por mais promissora que ela seja.
Startups também vêem que a relação com uma empresa maior, mesmo com todos os potenciais benefícios, podem fazer com que elas percam o foco no mercado, caso as demandas solicitadas façam com que praticamente toda a sua energia seja direcionada para o parceiro. Tal risco pode vir acompanhado de pressões para escalar prematuramente o produto/serviço da startup, principalmente quando a prova de conceito é bem-sucedida. Por mais que isso possa ser financeiramente atrativo para a startup em um primeiro momento, essas pressões podem prejudicar a sustentabilidade dos seus negócios, seja pela excessiva concentração e dependência de receitas de uma só fonte, ou pela exigência de entregar rapidamente grandes volumes de um produto ou serviço que talvez ainda não esteja maduro o suficiente.
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Outro grande risco percebido por startups que buscam trabalhar em programas de inovação aberta é a possibilidade de perda da sua cultura, ou do seu “espírito de startup”. Novamente, a empresa estabelecida deve segurar seus ímpetos de dominância e entender que não se deve tratar/pressionar a startup como se fosse um fornecedor qualquer. Para que a inovação aberta funcione nesses casos é importante que todos os envolvidos percebam que estão em uma relação de parceria equilibrada, na qual as ideias são discutidas e executadas em benefício de ambos os lados.
Esses pontos representam os principais pontos de atenção a serem observados por empresas estabelecidas que querem desenvolver programas de inovação aberta com startups, especialmente aquelas que estão no início dessa jornada. Ao compreendê-los, a organização poderá criar iniciativas e proporcionar resultados muito mais sustentáveis e que, ao mesmo tempo, crie uma imagem positiva da sua marca perante o ecossistema, fazendo com que seja cada vez mais atrativa para novas parcerias.
Considerando a premissa de que a relação entre as partes envolvidas em programas de inovação aberta precisa ser equilibrada, é necessário também que as startups compreendam como as empresas estabelecidas pensam. Portanto, o próximo artigo irá discutir o outro lado da moeda, ou seja, os pontos de atenção que as startups precisam ter quando buscam se relacionar com as organizações que promovem esses programas, compreendendo os benefícios pretendidos, além dos riscos e desafios percebidos.
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