Criada pelos sócios Gabriel Accetta e Arthur Estrella (foto), startup catarinense reforma imóveis para alugar e usa tecnologia para “match” entre usuários e para simplificar rotina de dividir o lar. / Fotos: Tiago Azzi
[FLORIANÓPOLIS, 19.08.2020]
Redação SC Inova, scinova@scinova.com.br
Quem já precisou dividir um apartamento ou casa com outras pessoas sabe bem das dificuldades e peculiaridades desta situação: o imóvel tem alguma mobília mínima e está em boas condições? Se um(a) colega for embora como fica o rateio das contas? E como encontrar alguém com perfil parecido para dividir o dia a dia?
Problemas como estes, tão comuns para estudantes como também para profissionais que mudam de cidade e precisam compartilhar a residência, começam a ser resolvidos por meio de tecnologias e novos modelos de negócio. Como o da startup Divid, de Florianópolis, que começou desenvolvendo um produto para as imobiliárias prospectarem o público de estudantes e qualificarem o atendimento a este público que, só na capital catarinense, soma cerca de 25 mil pessoas interessadas em dividir o lar.
Os sócios – e amigos de longa data – Gabriel Accetta e Arthur Estrella começaram a criar o projeto no início de 2019, com investimento da Brognoli Negócios Imobiliários, que conta com um núcleo de Venture Builder (desenvolvimento de novos negócios) e um braço de inovação no LinkLab, da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate). A ideia era desenvolver uma maneira eficiente de prospectar a massa de estudantes que, pela natureza digital das novas gerações, começava a se desprender das imobiliárias. E o mercado, por sua vez, tinha dificuldade em atender com excelência esse perfil de locatário.
“Em alguns meses, lançamos um produto tecnológico para imobiliárias romperem a barreira de prospecção e encontrar esse público digital: era um plataforma customizável com um algoritmo de match para recomendação entre pessoas e imóveis, que começou a rodar na Brognoli e em outras imobiliárias, para quem entregávamos também uma estratégia de marketing e comunicação para gerar valor”.
Desde que foi lançada, a startup já teve mais de 1.600 imóveis anunciados na plataforma, mais de 800 usuários cadastrados e 500 matches realizados.
Ainda que a ideia do produto fosse escalável e que já tivesse gerando alguns resultados práticos, havia uma série de barreiras que dificultavam o fechamento de negócios: necessidade de contratos individuais de locação (por dormitório), garantias, análise de crédito proporcional ao espaço, entre outras.
Para a Brognoli, uma das maiores do setor na Grande Florianópolis, a solução desenvolvida pela startup ajudou a simplificar a “jornada” dos clientes. “A maioria dos estudantes que alugam conosco de alguma maneira mais informal já dividiam o aluguel. E muitos deles precisavam trocar os contratos quando um dos colegas saía, geralmente quando era o fiador. Essa inovação da Divid, que permite um match melhor desde o início, promove uma relação muito mais duradoura, uma rotina de locação mais tranquila e estável, além de gerar uma experiência positiva a quem aluga. E essa é a proposta de valor mais importante”, resume Eduardo Barbosa, CEO da Brognoli.
DURANTE A PANDEMIA, UM “PIVÔ” PARA O MODELO DE HOUSING AS A SERVICE
Em plena pandemia, com o mercado imobiliário diretamente afetado pelo isolamento social e a queda na atividade econômica, a Divid pivotou seu modelo de negócio e, em vez de fornecer a plataforma a terceiros, ela se tornou uma empresa de housing as a service (HaaS). Em resumo: é a Divid quem fica responsável pelo imóvel, reforma e mobília, além de estruturar serviços como wi-fi, entregando um “pacote completo” a quem pretende alugar uma residência compartilhada.
A primeira experiência foi com um imóvel de três dormitórios no bairro universitário da Trindade, onde está o campus da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Com tíquete médio de R$ 1,2 mil, o locatário tem um quarto individual em imóvel compartilhado e mobiliado (cozinha, sala e lavanderia), no modelo de coliving. Os demais custos estão incluídos (internet, água, luz, IPTU, condomínio e limpeza mensal) e o valor do aluguel é fixo, mesmo que os demais colegas precisem se mudar e o espaço fique desocupado por um tempo.
A plataforma tecnológica entra para fazer o match entre os moradores e também para a comunicação com a empresa. “Além destas facilidades no serviço, buscamos entregar um senso de comunidade e pertencimento aos locatários, por meio do compartilhamento de experiências, momentos e do dia a dia no lar”, acrescenta Arthur, engenheiro químico de formação, que é diretor de Operações e responsável pelo trabalho de “comunidade” da startup.
“Em muitos casos, as pessoas entram em um mercado informal, sem contrato, incertezas e frustração. Se alguém resolve sair, tem que arcar com custos. Nós usamos o algoritmo de recomendação para reduzir riscos e problemas nesse processo, ao combinar pessoas com momentos de vida semelhante e valores alinhados, e elas também se conhecem antes de dividir o imóvel”, explica.
CONFIRA NOSSO CANAL PROPTECHS & CONSTRUTECHS
Os contratos são flexíveis, embora o prazo mínimo seja de seis meses de aluguel. Para reformar os imóveis, a Divid estima custos entre R$ 7 mil e R$ 10 mil, de acordo com o tamanho e o estado de conservação. Na operação, há uma rede de parceiros, desde o escritório de arquitetura (a startup paulista Arquitetos do Bolso), fornecedores de mobiliário, profissionais de manutenção e serviços gerais, advogados e artistas responsáveis pela decoração e pintura nos espaços.
Atualmente a empresa conta com três imóveis (dois deles em reforma e que devem ser entregues em breve) e espera fechar o ano com até 7 apartamentos completos, em geral com três dormitórios e dois banheiros.
A Brognoli deve ampliar o investimento na empresa para acelerar o desenvolvimento da startup. Um dos objetivos, nesta expansão, é obter um nível de flexibilidade na locação que permita um contrato focado para estudantes, em geral de março a dezembro, e outro para short stay, para a temporada de verão em Florianópolis (janeiro e fevereiro), o que garante uma rentabilidade maior aos proprietários.
“O coliving é mais do que uma tendência, é uma certeza”, ressalta Barbosa. “Por isso, queremos conectar a Divid a outros investidores para ampliar a aquisição de imóveis e ter uma grande disponibilidade a partir de janeiro. Estamos olhando também outras frentes de capitalização, como fundos de investimento e crowdfunding, por exemplo”, ressalta Barbosa.
Para os empreendedores, o modelo não só é rentável como também pode atender outro perfil de público com esta demanda na capital catarinense. “Nosso payback é relativamente rápido, em torno de sete meses, e temos fila de espera para os próximos. Além do público universitário, Florianópolis conta com um grande volume de profissionais que vêm de outras cidades, especialmente para trabalhar em empresas de tecnologia, então há uma demanda forte na cidade”, comenta Gabriel. A perspectiva é fechar 2021 com pelo menos 70 quartos em oferta na cidade.
LEIA TAMBÉM:
SIGA NOSSAS REDES