[CULTURA DIGITAL] Desenvolvedores Indie: a solução para a escassez de profissionais?

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[CULTURA DIGITAL] Desenvolvedores Indie: a solução para a escassez de profissionais?

Os devs independentes subvertem processos estabelecidos e tiram o sono das big techs – e muitos são seniores cansados da vida corporativa

Os devs independentes subvertem processos estabelecidos e tiram o sono das big techs – e muitos deles podem ser profissionais seniores que cansaram da vida corporativa. / Imagem: Impulse


[07.10.2022]


Por Alexandre Adoglio, CMO na Sonica e Diretor no grupo Marketing&Vendas/ACATE Startups.
Escreve quinzenalmente sobre Cultura Digital para o SC Inova.

Em novembro de 2016, a Gemalto, multinacional de segurança eletrônica digital para dispositivos móveis, recebeu um subsídio de US$ 5 milhões do governo norte-americano para desenvolver o piloto de uma carteira de motorista digital (DDL) baseada em smartphone, para quatro jurisdições dos EUA. Após alguns anos de trabalho e muito burburinho da imprensa local pelo estouro de orçamento, a empresa alegou problemas imprevistos e largou o projeto em stand by. Nada muito estranho quando tratamos das inúmeras POCs corporativas.

Porém, e do nada, um sujeito completamente fora do contexto ouviu falar do assunto e resolveu meter a mão na massa. Seis meses depois, em seu tempo livre e de casa, ele lançou on-line e gratuitamente a mesma aplicação digital, utilizando-se das informações públicas disponíveis sobre motoristas e documentos de automóveis. E, mesmo tendo investido seu próprio dinheiro no processo, foi preso e acusado de violar leis da privacidade de dados, por ter oferecido uma solução gratuita baseada em dados de pessoas que não autorizaram a fazê-lo.

Após alguns anos, 2020 especificamente, o que sobrou da Gemalto conseguiu entregar a aplicação “oficial”, sendo o estado do Colorado o primeiro a ter carteira de motorista no país, seguido por Idaho, Maryland e Washington D.C. E neste ano de 2022, após muito lobby no Congresso, o estado do Colorado colocou em prática a sua versão instalada dentro da Apple Wallet e válida somente dentro deste dispositivo. 

História fascinante que nos dá um caminho para este novo mundo, onde os desenvolvedores Indie subvertem processos estabelecidos e tiram o sono das big techs.

BORN TO BE REBEL

Nascidos em primeira instância como desenvolvedores de games, os Indie são aqueles que têm uma ideia em mente e colocam a mão na massa para criar, divulgar e distribuir seus softwares por conta própria. A palavra em inglês indie é a abreviação de independent – o termo se aplica ao processo cultural de desenvolver algo de forma independente, sem ter um contrato com empresa ou estúdio.

Os videogames se tornaram mais populares nos últimos anos, com o cenário geral dos jogos se tornando significativamente maior. E com mais jogadores vem uma maior demanda e interesse no desenvolvimento, surgindo vários estúdios de desenvolvimento independente, cada um querendo criar seus próprios videogames.

Obviamente, isso é uma coisa boa, pois ajuda a diversificar o mercado de videogames e oferece aos jogadores mais opções de jogos, mas também apresenta mais desafios para desenvolvedores independentes menores. 

Mas, como toda ideia que adquire tração, o mercado Indie para games começou a ficar saturado e estes começaram a olhar para “fora do muro”, observando e apostando em outras áreas que poderiam se beneficiar com a rapidez e baixo custo de suas entregas.

Como por exemplo a Oculus, startup indie de realidade virtual comprada pela Meta, então Facebook, em 2014 pelo valor de US$ 2 bi. Duvida? Olha o Kickstarter deles aqui.

UMA BOA IDEIA (?)

É sabido há muito tempo no mundo das startups que uma boa ideia por si só não vale praticamente nada. O conhecimento técnico e acesso a informação está horizontalizado como nunca e isso faz com que cada vez mais pessoas possam empreender em tecnologia sem grandes investimentos no desenvolvimento de soluções, utilizando serviços gratuitos, serviços low code a frequentando os hackathons do ecossistema.

Porém no mundo Indie esta premissa não é válida, pois as iniciativas se baseiam na pureza de uma ideia que é colocada em prática de forma orgânica, muitas vezes por uma pessoa só. De seu home-office nasce o MVP, protótipo, validação e lançamento de mercado, em uma jornada simples e constrangedora para quem coloca seus milhões visando criar o próximo unicórnio. Pior, estas soluções Indie muitas vezes são oferecidas de forma gratuita, ou baixo custo, sinalizando este ao mercado que este valor é atingido por ser uma empresa de uma pessoa só e seu customer success se baseia em disparos automáticos de e-mail e bot programado no próprio site. Customização? Esquece.

E muitos destes Indies podem ser considerados desenvolvedores seniores que cansaram da vida corporativa e do jugo de prestarem serviço para outrem que comanda suas vidas e suas agendas. Tem como objetivo uma vida mais independente, criando algo que gire por si só nas engrenagens tecnológicas da vida. Não é raro fóruns de debates sobre o tema, como este, em que desenvolvedores se apoiam nesta decisão.

Em seu livro, “Going Indie: A complete guide to becoming an independent software developer”,  o Indie Dev e autor Brian Schrader aponta caminhos, desde abrir uma empresa e manter-se motivado, até projetar, construir e lançar o primeiro produto. E reforça que iniciar um negócio exige muito mais do que saber escrever um bom código mas também tanto perspicácia comercial e liderança de times.

HARD SKILLS + SOFT SKILLS = HAJA SKILL

Fato é que com apenas uma ideia na cabeça e um notebook num coworking perto de casa os indies estão fazendo história e desenvolvendo aplicações melhores que as big techs, para desespero de alguns segmentos da indústria. Fazendo seu próprio caminho a parte do mundo corporativo com suas regras e “gestão da felicidade” pós pandemia, o grupo só cresce e já é tido como segmento de mercado a ser atendido. Alguns cases e seus autores já são notórios no mundo Indie:

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Avatron of “Air Display”
A Avatron lançou um aplicativo que permite que você use seu iPad como um segundo monitor para o seu computador. É um aplicativo secundário perfeito para o seu tablet e é apenas uma das ofertas da empresa.

SayHi of “SayHi Translate”
Aqui está um aplicativo óbvio, mas excelente – um que permite que você fale palavras nele e retorne uma frase traduzida. SayHi Translate foi lançado em 2012 e hoje tornou-se uma potência de aplicações da Amazon.

Tapbots of Tweetbot
A Tapbots reuniu um dos clientes do Twitter mais amados para iPad e iPhone. Hoje é um app essencial rodando no iOS com bots para várias finalidades.

Dermandar of “DMD Panorama”
Dermandar ganhou fama como um dos lugares para criar panoramas impressionantes usando nada mais do que a câmera do seu iPhone. O aplicativo lindamente projetado foi o precursor das fotos 360 graus.

Marco Arment da Instapaper
Arment foi o principal desenvolvedor do Tumblr, mas fez seu nome como o cérebro por trás do Instapaper, o serviço popular para ler artigos da web enquanto estiver offline. O Instapaper tem alguns milhões de contas registradas e o blog pessoal de Arment, Marco.org, é sucesso entre os Indies.

Mojang de “Minecraft”
A popularidade do Minecraft varreu o mundo à medida que os usuários colaboram online para construir novos ambientes no jogo juntos. Este jogo foi originalmente desenvolvido por uma única pessoa e agora é o oitavo jogo de computador mais vendido de todos os tempos.

Tomando o mundo tech de assalto nos últimos anos, os indies vêm atuando de forma contundente em vários mercados, se especializando em suas áreas e se capacitando em habilidades como gestão, time e marketing para colocar seus projetos no ar. Onipresentes no nascente mercado Web 3.0 estes profissionais se tornam empreendedores em série, lançando e conectando soluções através de hubs próprios, como o HubWeb3 em Floripa, onde colaboração e integração entre seus membros podem ser úteis para corporates de vários níveis se conectarem nestes tempos quiet quitting e escassez de mão de obra.

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