De onde vêm as ideias que dão origem às inovações

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De onde vêm as ideias que dão origem às inovações

Iniciativas de sucesso e inovadoras podem ter origem na combinação de diferentes competências, de pessoas com origens e ideias distintas.

Iniciativas de sucesso e inovadoras podem ter origem na combinação de diferentes competências, de pessoas com origens e ideias distintas. / Foto: Mark Fletcher-Brown (Unsplash)


[01.02.2022]


Por Marcus Rocha, empreendedor e colunista SC Inova.
Escreve quinzenalmente sobre ambientes e ecossistemas de inovação

É certo que existem vários mitos sobre a inovação, especialmente nas histórias sobre as grandes inovações – e seus criadores. Especialmente nos dias de hoje parece que essas pessoas e organizações de referência possuem habilidades quase sobrenaturais, que permitiram criar produtos e serviços que são indispensáveis para nós, reles mortais. 

Talvez o primeiro mito sobre inovação vai na direção de que é um movimento novo, restrito às “empresas de tecnologia”. Na verdade, em toda a História Humana há vários exemplos de inovações, com maior ou menor impacto na vida das organizações e das pessoas. No entanto, percebe-se que nos últimos anos há um movimento mais forte do que nunca para o desenvolvimento de inovações, em todo o mundo, e com isso surge uma estruturação dos conhecimentos relacionados ao empreendedorismo inovador.

Outro mito é pensar que a maior parte das grandes ideias inovadoras surgiram na forma de uma epifania, um flash de genialidade, na qual a inovação surgiu “pronta” na cabeça da pessoa que idealizou e depois implantou, o que também claramente é uma falácia. Mesmo que em algum momento tenha acontecido uma ideia central disruptiva, até chegar ao produto inovador há muito trabalho envolvido. E, para cada sucesso, certamente muitos outros erros e fracassos.

A partir dos registros históricos e da consolidação dos conhecimentos sobre inovação, se sabe que os empreendedores bem sucedidos não esperam que as ideias inovadoras simplesmente caiam do céu, ou surjam em um momento especial de inspiração.

Essas pessoas estão constantemente se aprofundando em diversas áreas, para identificar com clareza desafios que podem ser resolvidos por meio de inovações. Com isso, várias organizações, especialmente as empresas, passaram a incentivar o desenvolvimento e a prática dessa competência nas suas equipes.

Mas quais áreas devem ser consideradas nessa busca pelas oportunidades para inovar? Um modelo bastante interessante foi sugerido ainda na década de 1980 por Peter Drucker e parece estar mais atual do que nunca. Ele sugere sete áreas genéricas que devem ser constantemente monitoradas para identificar oportunidades para o desenvolvimento de inovações.

1. Usos inesperados de produtos

Muitas vezes um produto lançado no mercado pode ter valor para outros públicos que vão muito além daquele alvo previamente definido. Há diversos registros de produtos que representaram grandes avanços para mercados que não haviam sido previstos no seu desenvolvimento. Um bom exemplo é a novocaína, que havia sido criada no início do século XX para uso em procedimentos médicos grandes, mas que acabou tendo sucesso nos procedimentos odontológicos, como anestésico local.

Portanto, muitas vezes, pode-se inovar buscando novos usos para produtos existentes, em novos mercados.

2. Incongruências ou inconsistências

Buscar inconsistências na lógica, métodos, ou velocidades em processos pode também trazer oportunidades para inovações. A partir do contato com os atores envolvidos em processos empresariais podem ser identificados riscos, desperdícios, ociosidade, prejuízos, quebras, entre outros problemas, que podem ser incompatíveis com a finalidade para os quais esses processos foram criados. 

Quando isso acontece, surgem oportunidades para mudanças que podem modificar algumas atividades ou tarefas (inovação incremental), ou até mesmo repensar totalmente o processo (inovação radical).

3. Necessidades de melhoria de processos

Nessa área o foco é bastante claro: a busca por inovações que provoquem maior eficiência, menores custos, melhor qualidade, ou maior produtividade. Para tanto, é necessário um aprofundamento nos processos que podem ser modificados, para verificar as oportunidades de melhoria ou de total mudança.

Buscar inconsistências na lógica, métodos, ou velocidades em processos pode também trazer oportunidades para inovações. Foto: Kaleidico/Unsplash

4. Mudanças em setores econômicos ou mercados

Aqui deve-se ter um olhar mais externo, atento a sinais de que determinados setores econômicos ou mercados estejam em movimentos de mudança. Com a globalização e o aumento da complexidade e da quantidade de relações comerciais, essa área traz um desafio relacionado à quantidade de informações disponíveis, mas ao mesmo tempo traz grandes oportunidades em diferentes regiões.

Quando um setor econômico cresce rapidamente – algo em torno de 40% ou mais em um período de 10 anos ou menos – a sua estrutura muda e diferentes mercados podem ser impactados ou até mesmo criados. Nesses casos, os então líderes do setor, felizes com os resultados positivos, tendem a não se incomodar com novos concorrentes.

Nesses casos grandes oportunidades aparecem, principalmente para aqueles que buscam novas formas de abordar o mercado, seja com novos produtos, serviços, ou modelos de negócio. Nesse cenário, os inovadores podem operar por um bom tempo sem que sejam vistos como ameaças pelos líderes do setor.

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5. Mudanças demográficas

Considerando as fontes de informação para identificar oportunidades de inovação, com certeza aquelas relacionadas às características das populações são as mais fáceis de encontrar. Ao estudar a evolução de taxas de migração, mortalidade, natalidade, expectativa de vida, além de aspectos relacionados a hábitos de saúde, educação, segurança, habitação, entre outros, pode-se obter insights valiosos para o desenvolvimento de inovações.

Um bom exemplo é demonstrado no livro “No Ordinary Disruption“, que indica que o envelhecimento saudável da população mundial trará muitas oportunidades para novas soluções, que ainda não existem, em setores como saúde, moradia e turismo.

6. Mudanças de percepção

Grupos de pessoas, ou até mesmo populações inteiras, podem mudar suas percepções sobre determinados aspectos da vida, seja profissional ou pessoal. Opiniões sobre comportamentos, fenômenos, locais, marcas, etc. podem variar ao longo do tempo. O que um dia já foi bom ou importante, pode ter se tornado ruim, ou simplesmente insignificante.

A partir de pesquisas bem direcionadas podem ser identificadas tendências mais positivas ou negativas relacionados a assuntos que podem impactar de forma relevante diferentes mercados. Isso pode representar oportunidades para o desenvolvimento de inovações na forma de produtos, serviços, modelos de atendimento, tecnologias, que podem ter maiores chances de sucesso.

Não basta dominar um novo conhecimento científico, técnico ou social: é necessário criar algo que tenha valor para um ou mais públicos-alvo. Foto: Andy Kelly/Unsplash

7. Novos conhecimentos

A maior parte das inovações que tiveram destaque na História foram baseadas em novos conhecimentos que foram desenvolvidos, principalmente nas esferas científica, técnica ou social. Elas se tornam as grandes referências quando o assunto é inovação, porém são aquelas que possuem as maiores incertezas.

Essa área chave normalmente precisa ser combinada com conhecimentos das outras áreas já mencionadas. Isso ocorre porque não basta dominar um novo conhecimento científico, técnico ou social: é necessário criar algo que tenha valor para um ou mais públicos-alvo, criando mercados.

Outro ponto importante é que essas inovações necessitam de novos conhecimentos de várias fontes e tipos. É necessário criar todo um novo arcabouço, combinando diferentes disciplinas, para que invenções ou protótipos passem a ter alto valor percebido pelos mercados, se tornando inovações.

Atualmente, conhecimentos em campos como física quântica, genética, química, novos materiais, energia, internet das coisas, metaverso, entre tantas outras novidades, certamente irão gerar grandes inovações no futuro.

Todos podem ser inovadores de sucesso

No atual tempo da hipercompetitividade em nível mundial e da busca frenética por novas soluções disruptivas, muitas pessoas em cargos de liderança, especialmente nas empresas, podem questionar suas características pessoais, ou achar que as inovações de sucesso são apenas desenvolvidas por “super-humanos”.

No entanto, os registros das empresas inovadoras bem sucedidas que seus empreendedores e lideranças possuem um elemento fundamental e bastante “normal”: um grande comprometimento com a busca sistemática por ideias úteis e criativas, a partir de um processo consciente de identificação de oportunidades dentro da própria empresa e do seu mercado.

Portanto, inovações de sucesso podem ter origem na combinação de diferentes competências, de pessoas com origens e ideias distintas, a partir de uma compreensão unificada e detalhada de uma oportunidade cuja origem está em uma ou mais áreas-chave que foram descritas neste artigo. A grande questão é ter a disciplina para uma vigilância constante de informações, para a validação de fatos, e para o aprofundamento do conhecimento.

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