Cultura: elemento-chave para a implantação da Inovação Aberta nas organizações

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Cultura: elemento-chave para a implantação da Inovação Aberta nas organizações

A empresa que adota este modelo precisa estar disposta a assumir riscos, experimentar novas ideias e adotar uma abordagem mais colaborativa – ou seja, se abrir a novas formas de trabalhar e de pensar.

A empresa que adota este modelo precisa estar disposta a assumir riscos, experimentar novas ideias e adotar uma abordagem mais colaborativa – ou seja, se abrir a novas formas de trabalhar e de pensar. / Foto: Annie Spratt (Unsplash) 


[16.05.2023]


Por Marcus Rocha, especialista em Ecossistemas e Habitats de Inovação e Gerente de Inovação e Startups do Sebrae/SC.
Escreve quinzenalmente sobre o tema no SC Inova. 

A inovação aberta tem se tornado uma tendência crescente nas organizações modernas, que buscam se manter competitivas em um mercado cada vez mais dinâmico e exigente. Ou seja, é um elemento cada vez mais relevante para a sobrevivência e o sucesso das empresas. A partir da abertura dos processos de inovação para parceiros externos, a inovação aberta possibilita a criação de novos produtos e serviços, além de aprimorar processos e melhorar a eficiência organizacional. No entanto, para que a implantação da inovação aberta seja efetiva, é necessário uma mudança cultural significativa dentro da organização.

Importante ressaltar que a Inovação Aberta evolui e complementa as práticas até então desenvolvidas nas organizações para criar soluções novas ou significativamente melhoradas em relação ao que existe no mercado, com o objetivo de desenvolver recursos estratégicos que promovam vantagem competitiva, o que atualmente é fundamental considerando o nível global e intenso da concorrência. Nesse contexto, cabe destacar o que o próprio criador da expressão Inovação Aberta, Henry Chesbrough, escreveu em um artigo na Revista Forbes em 2011:

  • Conceitualmente, [a inovação aberta] é uma abordagem mais distribuída, mais participativa, mais descentralizada da inovação, baseada no fato observado de que o conhecimento útil hoje é amplamente distribuído, e nenhuma empresa, não importa quão capaz ou grande, poderia inovar efetivamente por conta própria.

Claramente se percebe que um pressuposto básico para implantar estratégias, táticas e processos de inovação aberta é realizar a abertura das fronteiras das organizações para os ecossistemas de inovação. Isso, na maior parte delas, é um desafio e tanto, pois exige mudanças significativas na cultura, pois pode ser um fator decisivo para o sucesso ou fracasso dessas iniciativas.

Antes de avançar no assunto, é importante relembrar o que é cultura organizacional. A definição mais aceita foi criada em 1984 por Edgar Shein no artigo “Coming to a New Awareness of Organizational Culture” (“Chegando a uma Nova Consciência da Cultura Organizacional”), publicado na revista Sloan Management Review. Segundo ele, é um conjunto de pressupostos básicos que determina a maneira como os funcionários interagem entre si e com o ambiente de trabalho e, consequentemente, como a organização lida com mudanças e desafios. Com isso, cria-se uma espécie de ‘cola social’ que une as pessoas que fazem parte de uma organização, que expressa os valores, crenças e ideias que essas pessoas compartilham, e que se manifesta na forma de símbolos, linguagem, cerimônias, histórias, comportamentos, normas etc.

A implantação da inovação aberta requer uma mudança cultural para que a organização esteja preparada para lidar com a abertura de processos de inovação para parceiros externos. Isso significa que a organização precisa estar disposta a assumir riscos, a experimentar novas ideias e a adotar uma abordagem mais colaborativa. Além disso, a cultura organizacional precisa estar aberta a novas formas de trabalhar e a novas formas de pensar.

A inovação, por sua natureza, traz fricção para a organização, pois é um elemento de mudança. Foto: Diggity Marketing/Unsplash
A inovação, por sua natureza, traz fricção para a organização, pois é um elemento de mudança. Foto: Diggity Marketing/Unsplash

A MUDANÇA CULTURAL COMEÇA PELA LIDERANÇA 

Os líderes da organização precisam estar comprometidos com a implantação da inovação aberta e serem os principais promotores dessa mudança cultural. Eles precisam criar um ambiente propício para a inovação, incentivando o compartilhamento de ideias e a colaboração entre os funcionários e parceiros externos. E isso deve se traduzir não apenas no discurso, mas principalmente em estratégias traduzidas em ações efetivas.

Nesse sentido, quanto mais fechada e formal for a organização, maior será este desafio. Primeiramente, como já dizia Peter Drucker “a cultura come a estratégia no café da manhã“, então o esforço para implantar as mudanças precisa ser trabalhado com muita atenção e com prioridade total. Também é importante considerar que a inovação, por sua natureza, traz fricção para a organização, pois é um elemento de mudança. Esse assunto inclusive já foi tratado nesta coluna, a partir do provocativo artigo de Steve Blank que fala sobre o ‘teatro da inovação nas organizações’.

Outro fator importante para a mudança cultural é a comunicação. É importante que a organização se comunique claramente com os funcionários sobre os objetivos e benefícios da inovação aberta, e sobre o papel que cada um pode desempenhar nesse processo. A comunicação deve ser transparente e aberta, e deve incentivar o feedback e a participação dos funcionários. Outro ponto importante é o incentivo ao compartilhamento de conhecimento entre as equipes, além de criar incentivos para que as pessoas se envolvam na inovação aberta.

Nota-se aqui que vários aspectos da cultura organizacional passam a ser impactados. Ao incorporar a inovação aberta, novas expressões e cerimônias passam a ser utilizadas, incluindo cada vez mais parceiros externos. Com isso, novos desafios surgem, exigindo inclusive o ajuste das normas da organização, equilibrando a abertura dos canais com uma quantidade cada vez maior de parceiros, com questões práticas tais como compliance, segurança das informações, propriedade intelectual, entre outros.

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DESAFIOS DEMANDAM CAPACITAÇÃO À EQUIPE

Outro aspecto fundamental diz respeito à própria relação da empresa com seus funcionários. Claramente, é importante que a organização invista em treinamento e desenvolvimento das pessoas, pois a inovação aberta requer habilidades e conhecimentos específicos, como a capacidade de colaborar com parceiros externos e a habilidade de trabalhar com novas tecnologias e metodologias de trabalho. A organização precisa investir em programas de capacitação e desenvolvimento para garantir que os funcionários estejam preparados para lidar com esses novos desafios.

Para incentivar a inovação aberta, é possível que algumas organizações também necessitem rever seus mecanismos de incentivo aos funcionários. É necessário prestar atenção àquelas pessoas empreendedoras que tiverem boas ideias e a capacidade de colocá-las em prática, transformando-as em inovações. Caso a organização não lide adequadamente com esses talentos, a probabilidade de perdê-los, seja para a concorrência ou até mesmo para as empresas que eles possam criar, pode aumentar significativamente. Com isso, pode-se perder não apenas um funcionário de alto valor, mas também uma inovação com potencial para trazer vantagem competitiva para a organização.

A criação de uma cultura de experimentação é uma outra questão que precisa ser trabalhada. A inovação aberta envolve a experimentação constante de novas ideias e soluções, então é importante que a organização crie ambientes seguros, para que testes e validações de inovações sejam realizados com qualidade, preservando os negócios atuais, e ao mesmo tempo gerando aprendizado quando erros e fracassos acontecerem. Nesse sentido, a adoção de sandboxes corporativos pode ser uma boa alternativa, assunto já tratado nesta coluna. Aquelas inovações que passarem com sucesso pelo processo de validação, precisarão ser incorporadas no cotidiano da organização, a partir da adequada gestão das mudanças que ocorrerão.

Por fim, a mudança cultural para a inovação aberta deve ser contínua e adaptativa, pois é um trabalho contínuo. A cultura da empresa está em constante evolução e é importante que a empresa esteja sempre avaliando e ajustando sua cultura para garantir que ela esteja alinhada com os objetivos da inovação aberta. A empresa também deve estar disposta a aprender com as experiências anteriores e a ajustar sua abordagem de acordo com os resultados obtidos.

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