[Cultura Digital] WEB 3.0 Tomo 4 | Descentralização

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[Cultura Digital] WEB 3.0 Tomo 4 | Descentralização

Qual o propósito original da internet? Certamente não é sobre a exploração gananciosa de alguns sobre muitos, modelo antigo e insustentável

Qual o propósito original da internet? Certamente não é sobre a exploração gananciosa de alguns sobre muitos, um modelo antigo que já percebemos ser insustentável à sociedade e ao planeta.


[20.05.2022]


Por Alexandre Adoglio, CMO na Sonica e empreendedor digital.
Escreve quinzenalmente sobre
Cultura Digital para o SC Inova


ATENÇÃO: Nada neste artigo é uma recomendação de investimento, este conteúdo tem apenas fins educativos e exprime a opinião do seu autor. Faça sempre sua própria pesquisa para qualquer tipo de investimento financeiro.

Desde que nossos ancestrais desceram das árvores e começamos a nos unir em detrimento de objetivos comuns como bando, adotamos como modelo de convivência social a coletividade via liderança e decisões centralizadas.  

Porém, nos primórdios das tecnologias do que hoje chamamos “internet” a simples ideia de centralizar algo causava aversão. A base conceitual que levou pessoas como Tim Berners-Lee a pensarem em se dedicar a este desenvolvimento foi justamente a possibilidade em democratizar ao máximo a informação, tanto no seu acesso como em sua propriedade. 

Na verdade, isso remonta à filosofia original por trás da internet, que foi criada para descentralizar as comunicações dos EUA durante a Guerra Fria para torná-las menos vulneráveis ​​a ataques. Tanto que neste início as ferramentas online funcionavam de forma gratuita sem necessidade de compartilhamento de dados, como por exemplo na tecnologia BBS dos chats online e nos torrents que conectavam inúmeras máquinas para disponibilizarem arquivos em rede para download.

Após este primeiro período de liberdade acadêmica vieram os empreendedores de tecnologia (muitos deles financiados pelo governo norte-americano) que se empenharam em desenvolver ferramentas para tornar a internet onipresente mundo afora, com os primeiros serviços de e-mail, depois navegadores, aplicativos e outras funcionalidades on-line. Surgiam aqui as Big Fucking Tech Corps, movimentando trilhões nos dias atuais e ditando as regras de como devemos pensar, interagir, ganhar e perder.

Vamos escolher as plataformas de mídia social como exemplo, onde seus dados (todas as suas fotos, mensagens, etc.) são salvos em servidores centralizados de propriedade exclusiva dos provedores da plataforma. Eles controlam o acesso a essas informações, ou seja, se eles usarem seus dados para algo que você desaprova você nunca saberia. O mesmo também vale para os bancos e nosso atual sistema monetário. É um sistema centralizado em que uma pequena parcela das instituições toma as decisões.

Fluxo da vida, pandemia colocando todos de joelho e consternados perante este modelo que submete muitos à vontade de poucos, herança de uma revolução industrial que muito beneficiou a humanidade, mas que parece não fazer mais sentido quando gera movimentos como a grande resignação, que levou milhões de pessoas a pedir demissão buscando um novo modelo de sobrevivência.

Agora, com o advento da tecnologia blockchain a informação passou a ser compartilhada em cadeia e armazenada em um livro público descentralizado que registra o estado de qualquer tipo de informação. Isso pode ser transações em dinheiro, mas também quaisquer outras formas de informação que mudam seu estado ao longo do tempo. Um blockchain é mantido em vários computadores conectados em uma rede aberta ou fechada ponto a ponto, onde qualquer pessoa pode ingressar. Isso também significa que qualquer pessoa pode escrever (e ler) informações no blockchain.

Para garantir que as novas informações gravadas estejam corretas e não corrompidas, e as entradas mais antigas não sejam alteradas ou manipuladas, um mecanismo de consenso torna a rede blockchain muito cara para ser corrompida. Atualmente, os mecanismos de consenso mais usados são Proof-of-Work (utilizado para validar Bitcoins) e Proof-of-Stake (utilizado para validar Solana por exemplo). Todo esse processo geralmente é chamado simplesmente de “proteger a rede”.

Com esta tecnologia emergente nos últimos anos, tornou-se possível o desenvolvimento de aplicações que não necessitam estarem armazenadas em um único local, ou seja, podemos desenvolver um software e, em vez de  alocarmos seus arquivos em um único servidor, podemos dividir suas partes em vários locais, os Dapps.  

É uma prática comum que os usuários deste software sejam também seus proprietários, ou seja, você pode utilizar sem dar em troca seus dados pessoais e, além disso, ganhar dinheiro com a performance da ferramenta, através de mecanismos automatizados (smart contracts) para gestão de comunidade e participação via tokens (NFTs, operacionais, participação, sociais, etc).

P2P | TECNOLOGIA PONTO A PONTO

Quando acessamos a web atualmente, nossos computadores usam o protocolo HTTP na forma de endereços da web para encontrar informações armazenadas em um local fixo, geralmente em um único servidor. Em contraste, com os Dapps se encontraria informações com base em seu conteúdo, o que significa que poderia ser armazenado em vários lugares ao mesmo tempo. Como resultado, essa forma da web também envolve todos os computadores que fornecem serviços, bem como acessá-los, conhecido como conectividade ponto a ponto.

Esse sistema nos permitiria quebrar os imensos bancos de dados que atualmente são mantidos centralmente por empresas de internet em vez de usuários (daí a web descentralizada). Em princípio, isso também protegeria melhor os usuários da vigilância privada e governamental, pois os dados não seriam mais armazenados de maneira fácil para terceiros acessarem. 

As tecnologias para permitirem este tipo de atividade á estão em pleno vigor, como o Cos.tv a primeira plataforma de vídeo impulsionada pelo blockchain da Contentos aonde Você pode assistir vídeos, compartilhar conteúdo e obter recompensas no token/moeda COS, uma ótima alternativa descentralizada ao You Tube, que vez ou outra bloqueia conteúdos relevantes devido a políticas de uso pouco transparentes. Zeronet é uma alternativa à web existente, onde os sites são hospedados por uma rede de computadores participantes em vez de um servidor centralizado, protegido pela mesma criptografia usada para Bitcoin. 

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Os sistemas descentralizados tendem a ter acesso mais aberto à informação e, o mais importante, não dependem de uma entidade. Isso é crucial quando os maus atores começam a subir no poder, pois nunca controlarão um sistema inteiro controlando apenas uma entidade. Na mesma lógica, uma estrutura descentralizada é mais difícil de derrubar, pois não há um único ponto de falha.

A desvantagem do sistema descentralizado é a dificuldade em coordenar os processos para chegar a um consenso de decisão, pois a responsabilidade está distribuída a todos participantes de determinada rede.

PERMISSIONLESS

A Web 3.0 não requer “permissão”, o que significa que as autoridades centrais não decidem quem acessa quais serviços, nem exige “confiança”, o que significa que um intermediário não é necessário para que as transações virtuais ocorram entre duas ou mais partes. Como essas agências e intermediários estão fazendo a maior parte da coleta de dados, a Web 3.0 protege tecnicamente melhor a privacidade do usuário. O que significa que em vez de os consumidores acessarem a Internet por meio de serviços mediados por empresas como Google, Apple ou Facebook, os próprios indivíduos possuem e governam seções e aplicativos utilizados.

Um conceito poderoso que acaba de ser explorado no evento homônimo ocorrido recentemente na Florida (EUA) com um cunho um tanto liberalista econômico, mas que explora de forma técnica as mais recentes tecnologias no setor, em especial o DeFi que já falamos anteriormente, consolidando o quanto a descentralização está beneficiando a sociedade. Alguns destes conteúdos estão disponíveis aqui.

E é neste ponto que começamos a entender o verdadeiro impacto que a Web 3.0 está trazendo para a vida de milhões de pessoas, buscando o verdadeiro propósito inicial da internet, através do compartilhamento ilimitado de informações, valorização individual, distribuição equalitária de resultados, democratização de acesso e, principalmente, liberdade de expressão. Não é sobre ser contra empreendedores fazerem dinheiro com seus negócios online, mas sim sobre a exploração gananciosa de alguns sobre muitos, em um modelo antigo de atuação que já percebemos ser insustentável para nós, a sociedade e o planeta.

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