[Cultura Digital] Vou mandar um áudio que é mais fácil…

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[Cultura Digital] Vou mandar um áudio que é mais fácil…

“Estamos ansiosos demais para perceber entre o que são reais oportunidades e o que é purpurina causada pelo excesso de informação”. Ética, Etiqueta e bom senso em tempos online.


[11.10.2020]

Por Alexandre Adoglio

Em tempos de interação remota o que mais vemos por aí é nossa falta da habilidade no convívio social. Parece que devido ao distanciamento causado pelo home office estamos lentamente nos afastando daquilo que nossos pais tanto nos ensinaram sobre relacionamentos pessoais e profissionais, sobre o espaço do outro e tratar o próximo como gostaríamos de ser tratados.

Existe hoje uma pressa louca e uma urgência do nada, em que as pessoas querem intercalar reuniões online com o almoço das crianças e uma live de meditação do guru com 100k de seguidores. Quase como se a pandemia não estivesse dando um recado de exatamente o contrário.

Calma pessoal…

Não é porque estamos em uma “crise segundo a mídia” que o desespero deve sabotar o bom senso. É importante nos reinventarmos perante qualquer dificuldade, porém é mais importante ainda terminarmos o processo de forma saudável, principalmente para que nossa mente possa aproveitar o sucesso ao fim da jornada.

No meu dia a dia, como mentor de negócios, venho percebendo um comportamento errático de alguns clientes, que desmarcam reunião em cima da hora, revertem o planejamento no meio do caminho, mudam de foco na primeira “tendência” que aparece e por fim enviam loooooongos áudios de WhatsApp no meio da madrugada.

Calma pessoal…

O fato é que estamos ansiosos demais para perceber entre o que são reais oportunidades e o que é purpurina causada pelo excesso de informação que está tomando nossas mentes nos últimos tempos.

Repare que qualquer forma de interface online no seu dia já vem recheada de conflitos, raiva, ódio e medo, sempre te pressionando para uma decisão rápida e com poucos cliques, pois as inscrições são limitadas, os palestrantes são top e o conteúdo inédito imperdível!

A pauta sempre é o medo, principal ferramenta do transtorno moderno.

Medo de ficar desatualizado, compre informação.

Medo do desemprego, compre capacitação.

Medo de ficar sozinho, compre relacionamentos.

Calma pessoal…

Estou envolvido com alguns dos grandes eventos do momento na região, desde o Festival de Cucas de Joinville até o Oktober Tech Week em Blumenau. Independente do resultado que terei ou teremos nestas iniciativas, o que realmente fica como legado é o relacionamento produzido entre as pessoas envolvidas.

Nestes tempos, que temos o inevitável stress causado pelas mortes, falta de habilidade nas lideranças públicas e uma mídia para-raio de desgraçado, precisamos atentar para que nosso bom senso esteja ainda mais acurado na tratativa com os outros, que nossa bondade esteja no nível mais alto mesmo em um momento ruim. E que a tal “etiqueta” ainda prevaleça no nosso comportamento com todos.

Cuide para que seu verdadeiro eu não seja embotado pela frieza de um teclado e uma tela.

É um real paradoxo, mas percebemos uma verdade. Quanto mais distantes estamos dos outros maior deve ser nossa empatia, porque nosso sistema biológico é feito para que percebamos o outro através de uma série de sensações presenciais, no tom de voz, movimentos do corpo, gestual das mãos. Sentidos que o distanciamento social cortou de repente, nos levando a atuar mecanicamente nas conversas online, e-mails e mensagens de texto.

Cuide para que seu verdadeiro eu não seja embotado pela frieza de um teclado e uma tela. Quando estiver em uma reunião online, olhe o outro nos olhos, quando estiver escrevendo um email, se atente para a concordância verbal. E quando for escrever qualquer mensagem de texto nos apps do seu celular fique atento para o modo como você será compreendido, POIS CAIXA ALTA É GRITO, erro de português sabota mais que palavrão e emoticon tem várias conotações de acordo com o sistema utilizado, como contamos aqui.

E por favor, somente mande áudio de WhatsApp para as pessoas quando for inevitável ou uma emergência. Mesmo pra isso existe uma inovação do século passado chamada telefone, use-o por que é mais simpático não atender uma ligação e retornar do que ignorar por horas a fim um áudio que sabemos não ser tão importante assim.


ALEXANDRE ADOGLIO é CMO na Sonica e empreendedor digital.
Escreve semanalmente sobre Cultura Digital para o SC Inova.

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