[CULTURA DIGITAL] Tiozão do zap e o impacto do digital na melhor idade

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[CULTURA DIGITAL] Tiozão do zap e o impacto do digital na melhor idade

O comportamento dos boomers leva a novas estratégias de abordagem e produtos específicos – – uma nova atitude contra a crise da aposentadoria

O comportamento dos boomers leva a novas estratégias de abordagem e produtos específicos, desde um smartphone customizado até uma comunidade de professores online – uma nova atitude contra a crise da aposentadoria.


[10.12.2021]


Por Alexandre Adoglio, CMO na Sonica e empreendedor digital.
Escreve sobre
Cultura Digital para o SC Inova

Danny Trejo sempre foi conhecido por seus papéis de vilão naqueles filmes de aventura, exibidos na saudosa sessão da tarde ou matinês de sábado, quando numa era pré-streaming nos deliciávamos como Stallones da vida arrancando cabeças na base da metralhadora enquanto segurava a mocinha pelo pulso caindo de algum lugar. De uma extensa carreira de ator com mais de 150 filmes e 40 anos de trabalho, Trejo foi lançado a um estrelato súbito pelo diretor Robert Rodrigues ao estrelar o anti-herói Machete no trash movie homônimo nos idos de 2010, alcançando a almejada fama mundial alavancada pelo sucesso do filme e o início da comunicação destas produções em redes sociais.

Com fino tato empresarial, Danny Trejo aproveitou sua popularidade para gerar um novo empreendimento, a rede de restaurantes de cozinha mexicana Trejos Tacos, que hoje possui 5 lojas na California e se prepara para expandir por outros estados e até internacionalizar. Calcado na enorme tração que sua cara feia faz, principalmente nos inúmeros memes produzidos com sua pitoresca imagem, o ator gera sua demanda através de redes sociais, de início fazendo sozinho os próprios posts de tiozão e hoje contando com mais de 10 milhões de seguidores em todos seus pontos de contato digital, vendendo inclusive merchandising e um livro sobre a história do seu empreendimento gastronômico.

Prova tal, que o advento do digital impactou obviamente a população jovem, Millenials, Z’s, Alphas e afins, mas tem causado uma verdadeira revolução nos boomers e tiozões on line, que encontraram dentro das comunidades um local para demonstrarem seus talentos, bizarrices e aqueles cards de bom dia fofos que adoramos receber no WhatsApp.

ECOSSISTEMA BOOMER

Geração tida como não nativa digital, dos Baby Boomers aos X , nascidos entre 1946 e 1980, é hoje estimada como um mercado de 5 trilhões de U$/ano, sendo foco de empresas e negócios emergentes que aproveitam a migração digital como uma enorme oportunidade voltada a uma população madura, com estabilidade financeira e pronta para romper a barreia dos 100 anos de idade. Em uma pesquisa com 1.500 “desses jovens” entre 55 a 75 anos, feita pela Good Rebels da Inglaterra, revelou que 95% deles compram online e metade destes interage de forma phygital em todas as suas compras.

A parte do que muitos encaram como uma boa aderência dos Boomers ao digital, como as pitorescas fotos do músico Hans Zimmer no lançamento do último James Bond ou o deleite da atriz Regina Duarte em vídeos de life hack, o uso indiscriminado de áudio no whats pela parentada no grupo não é efetivamente um bom sinal de vida online.

Derivando desta inclusão digital entre gerações, o comportamento distinto dos boomers leva a novas estratégias de abordagem e produtos específicos para as necessidades deles, desde um smartphone customizado até uma comunidade de professores online, promovendo uma nova atitude contra a crise da aposentadoria. Os baby boomers estão atualmente passando por um boom diferente: com mais pessoas envelhecendo do que nunca, suas expectativas de vida também estão aumentando drasticamente, pois com os avanços médicos o número de homens projetados para viver até os 90 anos dobrou desde 1965. Em outras palavras, mais idosos vivendo mais.

Muito embora ainda encontrem certa fricção na experiência de usuário, a geração mais velha vem experimentando a migração de suas atividades off para on-line, de forma desinibida porém consistente. Segundo dados da Integrar Gerações, espaço de aprendizagem de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, focado no público da terceira idade, a participação em aulas on-line deste público subiu de 22% para 53% após um ano de pandemia, e 45% responderam que vão seguir realizando as atividades de forma virtual mesmo após o término do isolamento social.

CANCELAMENTO DA APOSENTADORIA

Já o levantamento Tech+: Tecnologia e aceleração digital para os “Masters”, da Kantar IBOPE Media, revela que 85% dos idosos conectados à internet durante a pandemia fizeram pesquisas online antes realizar uma compra e 75% concretizaram uma compra em um e-commerce. O comportamento revela que, uma vez que os idosos adquirem conhecimento e proficiência no uso de ferramentas tecnológicas, eles podem usá-las tão bem quanto os jovens.

Porém, a escala crescente da população tentando se aposentar, vivendo mais e não equipada com meios financeiros nem educacionais para isso é monumental, uma crise mundial a ser enfrentada nos próximos anos. Mesmo com todos avanços em relação a aderência digital, existe uma dificuldade enorme para os Boomers se encontrarem no mercado de trabalho, pois além da cultura laboral voltada a oportunidades de carreiras aos mais jovens, encontramos a  necessária alfabetização digital no local de trabalho para os mais velhos.

Mas não espere que os empregadores sejam tão receptivos e ensinem essas habilidades. Mais da metade dos funcionários com mais de 50 anos foram demitidos no que está sendo chamado de “aposentadoria involuntária ou forçada”, enquanto poucas organizações estão ajudando ativamente a transição de funcionários mais velhos de tempo integral para tempo parcial. E para aqueles que têm a sorte de estar empregados, 3 em cada 5 trabalhadores mais velhos experimentam agismo (discriminação etária) no trabalho. Temos idosos desesperados por trabalho, mas amplamente mal recebidos pelos empregadores e pelos concorrentes candidatos mais jovens da Geração Z e da geração Y.

Uma manchete da Bloomberg de 2018 resume: “Idosos estão substituindo adolescentes como trabalhadores de fast-food”. Mais uma vez, considere o que aconteceu com esses empregos devido ao COVID-19 e o que acontecerá com esses empregos devido à automação – uma estimativa global revela a destruição de 50  milhões de empregos devido à automação até 2027.

GIG BASED WORK

Espera-se que até 2030 a maior força de trabalho mundial seja do chamado emprego alternativo. Em outras palavras, haverá mais empreiteiros, autônomos e trabalhadores temporários do que funcionários em tempo integral. Este tipo de trabalho permite liberdade, e os Baby Boomers devem aproveitar essa onda não só pela diversão mas para sobreviver literalmente.

E muitos já estão lá. Trinta e quatro por cento da Gig Economy já é composta por aposentados com mais de 65 anos, e as mulheres com mais de 60 são o segmento de hospedagem que mais cresce no Airbnb. Embora se possa argumentar que a alfabetização digital não é necessária no trabalho para esse tipo de renda, o acesso e a navegação a essas plataformas sim, e descentralização promovida pela web 3.0 e o DeFi poderão impactar em muito o surgimento de novas atividades para quem souber se adaptar.

O mercado de tecnologia se encontra em um gap de talentos sem precedentes, com quase 300.00 vagas abertas somente no Brasil, aonde observamos diversas iniciativas de capacitação para os mais jovens, porém com alguns cursos pontuais voltados a base 50+., entre outros promovidos pelo Instituto de Longevidade Mongeral Aegon.

Outra iniciativa bem-vinda para este cenário é o 60mais, um portal digital que celebra a vida e traz curiosidades, dicas e novas possibilidades para ajudar pessoas a se reinventarem para viver a longevidade em toda a sua plenitude.

MATURIDADE DIGITAL

E com este panorama, que une longevidade e pouca preparação financeira, nasce a vontade das gerações mais velhas em empreender o seu próprio negócio, sendo as startups uma alternativa para equilibrar as necessidades e liberdade. A comunidade voltada a capacitação de empreendedores mais velhos, BizStarters, revela que que 60% de seus clientes se mostraram mais interessados ​​na flexibilidade de horários que em enriquecer, de fato. Estes empreendedores buscam a sensação de que, depois de meses de trabalho, possam tirar algumas semanas para visitar os netos, por exemplo. Além disso, têm uma maior capacidade de perceber necessidades ou melhorar produtos e serviços com base em experiência prática, provando-se um mercado latente com:

  • 67% dos negócios fundados por Boomers, nos EUA, são rentáveis;
  • 76% dos empreendedores Boomers avaliam sua própria felicidade como 8/10;
  • Os Boomers compõem metade dos empresários nas américas;
  • As startups fundadas por Boomers cresceram 50% em número desde 2007;
  • A indústria mais popular é a de serviços prestados às empresas;

Em um outro levantamento feito pela Revelo, maior startup de recrutamento tech da américa latina, indicou que cerca de 36% das vagas atualmente estão ocupadas por profissionais da Geração Z, nascidos a partir de 1996. De acordo com a pesquisa, o segundo maior grupo presente nas empresas é daqueles nascidos entre 1981 até o início dos anos 90, considerados da Geração Y, com idades entre de 31 a 40, representando 30,7% dos entrevistados. Em seguida destacam-se os Millennials (30,7%) na faixa etária dos 25 aos 30 e, por fim, a Geração X e Baby Boomers assumem a parcela de somente 12,2%, a partir dos 41 anos.

A maioria dos Boomers sente que deveria fazer algo mais do que aquilo que está fazendo na vida de aposentado, tendo uma utilidade muito maior na sociedade. Isto parte como motivação para muitas pessoas abrirem o próprio negócio não com foco em ficar rico como as gerações mais jovens, mas sim encontrar um trabalho que traga felicidade e completude.

DIGITAL E ALÉM

O que estamos enfrentando coletivamente é uma pressão econômica e social, com  rachaduras aparecendo no tecido capitalista, uma bomba-relógio armada com uma população que não tem como pagar os cuidados de saúde, não está economizando e é obrigada a trabalhar para sobreviver em um ambiente onde eles não têm as proezas digitais e sua presença não é bem vinda.  Dessa forma urge iniciativas não só para capacitação digital de base, escolas, cursos livres, etc, mas sim dialogar com este público mais velho de forma a provermos maiores oportunidades e conexões para o bem comum.

A solução mais fácil e de baixo para cima é ensinar alfabetização digital. Aprimoramento adequado para operar as ferramentas de hoje e as plataformas de amanhã são necessárias se os Baby Boomers quiserem participar de nossa força de trabalho obcecada por tecnologia e sobreviver à crise de aposentadoria iminente ingressando na Gig Economy. Tutoria, atendimento ao cliente, transcrição, tradução, edição, pesquisa, contabilidade e outros trabalhos baseados em assistência virtual abrem as portas. Mas, novamente, o conhecimento digital é necessário primeiro para descobrir e se destacar nessas funções.

Para uma geração pós-guerra, que viveu à sombra da ditadura e censura, com pouco acesso a informação e entretenimento, os Boomers e Zs se deparam com um horizonte completamente diferente daquele em que se desenvolveram, renascendo para um amanhã de infinitas possibilidades.

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