Estamos entrando em uma nova era da Humanidade, na qual nós (com inteligência artificial) podemos categorizar pessoas de acordo com crenças, habilidades e comportamentos.
[13.08.2021]
Por Alexandre Adoglio, CMO na Sonica e empreendedor digital.
Escreve sobre Cultura Digital para o SC Inova
Tranquilo estava Mr. Ao viajando com sua esposa para assistir a um show da estrela pop Jacky Cheung na cidade de Nanchang, capital da província de Jiangxi, na China. Ao entrar no estádio logo buscou seu assento marcado junto aos demais fãs, sendo logo abordado por um policial segundos antes de se sentar, que o algemou e levou em custódia em frente a todos presentes no momento. Procurado por “crimes econômicos”, o jovem de 31 anos se viu “chocado” quando foi preso, não entendendo como em meio a multidão de 60.000 pessoas conseguiram chegar até ele de forma tão sutil.
A China tem uma enorme rede de vigilância com mais de 170 milhões de câmeras CCTV espalhadas por todo país, em um sistema que identificou o Sr. Ao logo na entrada do show através do mais sofisticado sistema de reconhecimento facial em operação massiva no mundo. Embora o fato tenha acontecido em 2018, não foi a primeira vez que a polícia chinesa usou sistemas de reconhecimento facial para prender suspeitos.
Em agosto de 2017, a polícia da província de Shandong prendeu 25 suspeitos usando um sistema de reconhecimento facial criado no Festival Internacional da Cerveja de Qingdao. Líder mundial em tecnologia de reconhecimento facial, o governo chinês lembra regularmente seus cidadãos de que esse equipamento tornará quase impossível escapar das autoridades. O país construiu o que chama de “a maior rede de vigilância por câmeras do mundo”, utilizando equipamentos que integram inteligência artificial e tecnologia de reconhecimento facial, conseguindo localizar uma pessoa em até sete minutos em qualquer lugar público. E não para por aí.
Lançado no final de 2019 em escala continental no país, o algoritmo social de crédito vem como aliado nesta sistemática de controle social que mais se parece com um distante filme futurístico, nos jogando de cara na distopia de um mundo Orwelliano.
SOCIAL SCORE
Planejado desde 2014, pelo Conselho de Estado da China o tal “Esboço de planejamento para a construção de um sistema de crédito social”, propôs pela primeira vez uma ideia radical. E se houvesse uma pontuação de confiança nacional que classificasse o tipo de cidadão que você é?
Seria um mundo onde muitas das suas atividades diárias fossem constantemente monitoradas e avaliadas: compras nas lojas e online; sua localização a qualquer momento; quem são seus amigos e como você interage com eles; quantas horas você passa no computador, TV ou jogando videogame; e quais impostos você paga (ou não).
Na real muito disso já acontece, graças a todos aqueles gigantes coletores de dados como Google, Facebook e Instagram ou aplicativos de rastreamento de saúde como o Fitbit. Porém os chineses foram além, criando um sistema em que todos esses comportamentos são classificados como positivos ou negativos e destilados em um único número, de acordo com as regras estabelecidas pelo governo.
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Assim, seu Índice de Cidadão diz a todos se você é confiável ou não. Além disso, sua classificação seria comparada publicamente com a de toda a população e usada para determinar sua elegibilidade para um financiamento imobiliário ou um emprego, qual escola seus filhos podem frequentar – ou mesmo apenas suas chances de conseguir um encontro.
Gerando grande controvérsia desde o início, mesmo tendo como dito propósito promover a transparência entre as pessoas e as instituições, o China’s Social Credit System vem ganhando resistência pela classificação que faz de credibilidade usando dados que os críticos costumam considerar incompletos ou imprecisos. Eles costumam apontar esta baixa consistência de informação como principal fator, devido à fraca regulamentação e aplicação da lei. Também permanecem questões sobre se as sanções e táticas de vergonha podem melhorar a credibilidade e reduzir dívidas pendentes, especialmente entre governos locais e empresas estatais, algumas das quais têm problemas financeiros de longa data.
Fazendo escola pelo mundo, já temos iniciativa similar no Brasil, igualmente controversa, através do Serasa Score, motivo de atenção dos brasileiros já acostumados com verificações de crédito. Fundamentalmente uma “corretora de dados” a Serasa/Experian rastreia a maneira oportuna como pagamos nossas dívidas, dando-nos uma pontuação que é usada por credores e provedores de financiamento.
Além disso, temos pontuações de estilo social, e qualquer pessoa que tenha feito compras online Mercado Livre tem uma classificação em tempos de envio e comunicação, enquanto motoristas e passageiros do Uber avaliam uns aos outros. Porém sem esta integração de “julgamento” configurada pelos chineses, avaliando o comportamento e a confiabilidade dos cidadãos, não só através das câmeras mas também em qualquer interface online.
Já temos por aqui até empresa especializada em “levantar seu score”, em apenas sete dias com método comprovado (sic). Estamos num futuro já idealizado por roteiristas de ficção científica como Black Mirror, que conta em um episódio a história de uma dona de casa que tem a vida dificultada pelos códigos de qualificação nas redes sociais.
THE BIG DATA IMPACT
E toda esta atividade sendo possível aos avanços de Big Data, categoria que tem como expectativa alcançar o patamar de U$ 123 bilhões até 2025, tornando-se uma das muitas Corridas do Ouro em nossa era da informação. Com auxílio de big data empresas buscam oferecer serviços aprimorados ao cliente, com potencial de aumentar o lucro, via marketing direcionado, redução de custos e maior eficiência dos processos existentes. As tecnologias de big data ajudam as empresas a armazenar grandes volumes de dados e, ao mesmo tempo, permitem benefícios de custo significativos, através de análises baseadas em nuvem e Hadoop, ajudando as empresas a analisarem informações e melhorar a tomada de decisões.
Além disso, as violações de dados representam a necessidade de segurança aprimorada, com o potencial do big data aprimorando inserções e bloqueios.
Um outro exemplo de uso não tanto positivo desta tecnologia é o caso da demissão em massa a partir de uma análise Big Data: a empresa de serviços de pagamento Xsolla desligou 150 funcionários devido à baixa performance determinada por um algoritmo, que analisou de forma integrada atividades dessas pessoas durante o uso de ferramentas como Jira, Confluence, Gmail, chats, documentos e dashboards, catalogando alguns dos colaboradores como não engajados e improdutivos. Ou seja, a empresa simplesmente monitorou de forma consistente tudo o que seus funcionários faziam, e não faziam, durante o horário de trabalho.
Mesmo com a legislação avançando para acompanhar as novas possibilidades tecnológicas, como as atuais modificações de track impostas ao Facebook e ao Google, estamos realmente entrando em uma nova era da humanidade, na qual poderemos catalogar pessoas de acordo com suas crenças, habilidades e comportamentos. Aliás, não seremos nós que catalogaremos, mas sim as IAs desenvolvidas para dizer com quem e porque devemos nos relacionar.
E você, já verificou seu Score hoje? Clique aqui. (não é merchan)
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