Ainda não percebemos a revolução silenciosa, porém abrupta, que está acontecendo no aprendizado. O momento é de reflexão e de entender a realidade pela ótica das gerações vindouras.
[23.12.2021]
Por Alexandre Adoglio, CMO na Sonica e empreendedor digital.
Escreve quinzenalmente sobre Cultura Digital para o SC Inova
Minha filha sempre quis ser cantora.
Desde pequena já soltava umas notas sonoras para acompanhar as cantigas de roda da banda Palavra Cantada, que nos alegrava com seus acordes oníricos e melodias nostálgicas. A despeito do seu empenho nos estudos e a participação em audições, o mercado musical se mostrou um tanto inóspito para aqueles que desejam se atrever por ele, exigindo um grande empenho nos estudos e muita disponibilidade de tempo para trabalho na boemia.
Porém, um dos aspectos que ela sempre se mostrou apta foi no prazer em ler, aprender e estudar. Com um talento nato em matemática, debulhava as lições de casa sem esforço e performava muito bem nas provas, a ponto de mudarmos ela para uma escola mais exigente em sua jornada no ensino médio, incluindo um período estudando no exterior.
Então veio aquela fase incrível, terceirão acabando, vamos escolher a próxima etapa. Ou seja, decidir qual curso e universidade ela iria dedicar-se pelos próximos anos, e talvez pela vida. Meio que nos antecipando para este novo normal, no qual as idiossincrasias escorrem aos borbotões pelos ralos de um velho mundo, minha filha decidiu esperar um pouco, observar-se em seu tempo livre (o tal tédio que tanto lutamos contra) e escolher seu caminho sem pressa.
Para surpresa geral na família, a decisão se deu quase um ano depois por um curso na área de Games, ou vídeo game pra nós das antigas. A princípio, segundo ela, seria para exercer seu lado artístico, tanto nos aspectos musicais da trilha sonora, como no desenvolvimento de roteiros, os quais ela também sempre teve êxito. A parentada ficou meio que pasma, se perturbando pelo talento desperdiçado e pela promessa de vê-la estudando no exterior para nos receber em férias regadas a copos descartáveis da Starbucks.
Tudo caminhava tranquilo até que em menos de um ano ela solta a bomba: “vou largar a faculdade. Durante meu aprendizado percebi que na real minha maior satisfação está na área de programação, onde posso me dedicar com mais propósito.” Então, ela migrou deste ensino consolidado e buscou sua realização em um curso livre, sendo aprovada na École42 e hoje atuando como desenvolvedora de IA (inteligência artificial) em uma grande empresa do setor.
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Conto de forma sucinta esta nossa jornada familiar íntima primeiramente para me fazer entender melhor, mas também para externar minha visão de como ainda estamos despreparados para o que vem por aí. É muita gente escrevendo sobre metaverso, fintech e #culturadigital pelos recantos da internet, enquanto não percebemos ainda a revolução silenciosa, porém abrupta que o aprendizado está sofrendo e já impactando a nossa realidade.
Não existe mais aquele desenho ideal da jornada, na qual você precisa aprender isso para adquirir aquilo, ou pior, o seu sucesso está atrelado a este caminho que já foi percorrido e é seguro. Esta forma de pensar nos levou a uma sociedade caótica, desigual e despreparada para os desafios socioambientais que estão à nossa porta. O momento é de reflexão e de entender a realidade pela ótica das gerações vindouras, observando como eles estão encarando o legado que herdamos de nossos pais e que estamos deixando pra eles.
Ao invés de confrontarmos pelo julgamento de suas escolhas devemos encarar estas como uma fase de modelagem de uma nova sociedade, que pode ser muito melhor que a atual se nos dedicarmos a apoiar os novos modelos de aprendizagem.
Urge uma nova mentalidade em relação ao desenvolvimento intelectual, em um país com grande déficit na educação formal, que está enfrentando uma das maiores crises na escassez de mão de obra qualificada que impede nosso avanço social e econômico. Iniciativas são muitas, porém é fundamental repensar a fundação e os estatutos vigentes, que mais atrapalham que ajudam, nos fazendo confundir cursos livres de qualidade com charlatanismo de pseudo-personalidades que vendem sucesso imediato a qualquer custo.
Deixo por fim uma pequena curadoria de conteúdos que considero de alta qualidade; cursos livres, com investimento ou gratuitos, que podem vir a abrir oportunidades para àqueles que desejam ampliar sua visão de mundo.
Entra 21 | Oportuniza novos talentos para o mercado através da formação de profissionais com uma grande bagagem de aprendizado, prontos para colocá-los em prática!
Pacetech | Startup de Blumenau que qualifica jovens para o mercado de trabalho em Tecnologia da Informação, está lançando seu novo curso de Introdução à Programação.
Let’s Code | Instituição voltada para a formação de desenvolvedores, com uma comunidade online focada em desenvolver pessoas que busquem aprender a programação em um ambiente com muita troca de experiência.
Proway | Reconhecida nacionalmente como um das pioneiras no ensino de tecnologia para diversos segmentos de mercado e aplicações.
+Devs2Blu | Programa que visa complementar as ações do Entra21-Blusoft, ofertando formação gratuita em tecnologia e inglês para suprir as demandas do setor no município.
Filipe Deschamps | Ensina e auxilia gratuitamente programação em seu canal, que também possui uma área para assinantes com conteúdos exclusivos.
Oracle Next Education | Programa em parceria com a ACATE que visa educação e inclusão em tecnologia e empreendedorismo, tendo capacitado mais de 18 mil Desenvolvedores Juniores.
DEVinHouse | Programa desenvolvido em parceria pela ACATE e o SENAI, é uma jornada de aceleração da carreira com grade curricular e prática constante.
Future Dojo | Parceria entre a Ace Startups e a Exame oferecendo conteúdos para ensino de habilidades e competências do futuro.
42 | Escola de programação de computador privada, sem fins lucrativos e gratuita, criada e financiada pelo bilionário francês Xavier Niel.
Growthaholics | Aprendizado gratuito desenvolvido pela Ace Startups visando a capacitação de empreendedores de tecnologia via metodologia própria.
Sebrae | Cursos gratuitos para capacitação em desenvolvimento e programação de sistemas, com certificado.
Em tempo: sim, minha filha ainda pretende obter um diploma universitário, priorizando mais o conteúdo e o ecossistema em que estará inserida do que a certificação em si.
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