Covid-19: após dois meses em home office, como as startups em SC pensam em “dispensar” o ambiente físico

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Covid-19: após dois meses em home office, como as startups em SC pensam em “dispensar” o ambiente físico

Empreendedores e gestores afirmam que “nada será como antes” nos locais de trabalho pós-pandemia e até reavaliam a demanda por espaços físicos, em função dos bons resultados obtidos com o teletrabalho. / Foto: Divulgação Transfeera

Empreendedores e gestores afirmam que “nada será como antes” nos locais de trabalho pós-pandemia e até reavaliam a demanda por espaços físicos, em função dos bons resultados obtidos com o teletrabalho. 


[FLORIANÓPOLIS, 18.05.2020]
Redação SC Inova, scinova@scinova.com.br 


Há exatos dois meses, o governo do estado de Santa Catarina deflagrou as primeiras medidas de combate à pandemia da Covid-19, que representaram para quase todas as empresas de serviço colocar seus colaboradores em regime de home-office. 

No setor de tecnologia, a adaptação à rotina digital tem sido facilitada por uma maior maturidade das equipes em lidar com entregas e resultados mesmo sem a atividade nos escritórios. Tanto que algumas startups ouvidas pelo SC Inova afirmam que estão reconsiderando a necessidade de ter um espaço físico – algo impensável até dois meses atrás.

“Estamos orientados às entregas e, no nosso caso, as demandas de serviço tem se mantido estáveis e até aumentado em alguns momentos. Então o time tem entregue mais, com certeza”, diz Diego Alexandre, CEO da Dati, empresa de Blumenau que fornece soluções para cloud. O regime de home-office, avalia, “poderá ser estendido para funções que antes não acreditávamos na eficiência e também não estávamos adaptados. Vamos avaliar com calma ainda, mas o modelo 100% presencial pode ter acabado“. 

Na fintech Atar, com sede em Timbó, no Vale do Itajaí, a performance do time de 20 pessoas surpreendeu em regime de teletrabalho. “Percebemos que o home office diminuiu a distração na rotina e trouxe mais foco aos afazeres diários e aos objetivos da empresa. Parece que as pessoas têm mais tempo para trabalhar, dentro da mesma jornada de trabalho”, destaca o COO e cofundador Mike Allan

Cofundadores da Atar: home office ajudou a replanejar áreas e processos. / Foto: Divulgação

Se, no geral, a nova realidade se mostrou positiva para a empresa, a equipe do setor de Operações foi a que mais teve dificuldade com o home office: “algo que antes a pessoa virava pro lado, conversava e resolvia na hora agora leva um pouco mais tempo. Mas estamos nos adaptando bem”, comenta Mike. Por outro lado, “o home office deixou claro quais pessoas estão com tempo ocioso na rotina de trabalho, algo difícil de perceber no meio da correria, isso nos fez replanejar algumas áreas e processos para melhor alocar o time”. 

O uso de metodologias de gestão também é um aliado para os gestores de startups. “Uma coisa que ajudou muito é o fato de nos basearmos na metodologia OKR (objetivos e resultados-chave) para realizar as entregas trimestrais. Então mesmo mudando os objetivos, a metodologia permaneceu e esse tem sido o termômetro para medir a eficiência de todos, e a gente percebe que tem sido bem melhor”, explica Fernando Salla, CEO da Effecti, startup de Rio do Sul que desenvolve soluções digitais para licitações e tem 46 pessoas na equipe.

O fim da rotina de reuniões presenciais aumentou significativamente a produtividade na Softcon, empresa de Florianópolis que presta serviços de consultoria contábil no setor de tecnologia. “Nossas demandas praticamente dobraram com o trabalho remoto. Foi um movimento inesperado, inverso ao que imaginávamos. Ficou mais fácil fazer calls e reuniões e nossa rotina começa pela manhã e vai até à noite”, ressalta o sócio e cofundador Ismael Silva. “Antes havia uma necessidade de reunião presencial, o que demanda planejamento de agenda, tempo de deslocamento… Isso agora sumiu, assim que tem uma brecha nós atendemos os clientes”.  

Se o mundo voltasse à normalidade HOJE, qual seria a atitude da empresa? Voltaria ao escritório como antes da pandemia ou estimularia uma política de home office?

Ainda que nas empresas de tecnologia a adaptação ao teletrabalho tenha sido facilitada pelo uso de ferramentas digitais e uma cultura de avaliação de desempenho por entregas, e não apenas por cumprimento de horário, muitos sentem falta do convívio entre colegas.

Uma pesquisa informal realizada pela Blusoft no LinkedIn – e que contava com quase 500 respostas nesta segunda (18) – apontou que 52% dos participantes fariam home office “para o resto da vida”, enquanto 43% afirmaram que a nova rotina está tranquila mas “querem voltar” ao escritório.

Effecti, de Rio do Sul, planeja duplicar volume de funcionários nos próximos anos, mas dispensa a necessidade de uma “grande sede” em função da boa adaptação com o teletrabalho. / Foto: Divulgação

Na visão de alguns fundadores de startups, o futuro pós-pandemia no ambiente corporativo trará uma nova realidade. Mais flexibilidade e pessoas em casa e, por consequência, menor demanda por grandes espaços, mesmo em empresas que estão em expansão.

Confiram o que pensam a respeito alguns empreendedores catarinenses:

O retorno das atividades 100% presenciais ainda não é uma decisão estruturada, mas certamente  voltar toda a equipe ao escritório é uma questão que possivelmente não acontecerá mais na Effecti. Lógico que haverá momento em que a equipe terá que ir ao escritório para reuniões gerais, mas essa flexibilização de fazer home office é uma política que certamente vai ser escrita e adotada em breve. O que vejo é que não tem mais necessidade de ter um grande espaço. Nossa expectativa é de dobrar ou triplicar a quantidade de funcionários nos próximos anos, e antes disso tudo, o espaço físico era uma preocupação e agora já não parece um grande complicador. ” 
FERNANDO SALLA, CEO da Effecti

“O escritório ainda é um ambiente importante, a troca, olho no olho as conversas mais humanas acontecem ali, quando o time está junto. Nunca deixará de ser dispensável, ali também está presente muito da cultura da empresa, como ela pensa e vê a si mesma. A flexibilização para trabalho remoto deve ser maior, o foco de ter um escritório com mais espaço para suportar todo o time, já deixou de ser uma necessidade primordial”.
GUILHERME VERDASCA, CEO da Transfeera, startup open banking com sede em Joinville, com 18 funcionários. 

“Sou franco em dizer que passa pela nossa cabeça não ter mais escritório físico. Porém, neste momento, a minha opinião é que teríamos uma mescla entre home office e trabalho presencial. Alguns cargos, com rotina mais operacional, trabalhariam de forma presencial e os demais poderiam trabalhar em home office, com uma ou outra vinda ao escritório. Isso reduz custos, pois não há mais a necessidade de um escritório grande, que custa caro”.
MIKE ALLAN, COO e cofundador da Atar, de Timbó.