Culturalmente, o mundo tem falado que a tecnologia é para os homens, mas não é. E não precisamos deixar nossas características tidas como “femininas” de lado para conquistar esses espaços.
[08.03.2021]
Por Michelly Dellecave, cofundadora e CMO da Pulses
O empreendedorismo está na veia da minha família. Filha de pai e mãe microempresários, desde muito nova comecei a ajudar na rotina deles, e sempre corri atrás da minha independência. Eu era aquela colega da turma que sempre dá um jeito de fazer um dinheirinho: oferecia aulas particulares para os colegas de classe da minha irmã, fazia colares e pulseiras de miçangas para vender para as amigas e fui vendedora de uma linha de cosméticos. Então, desde que me entendo por gente, busquei formas de não ser colocada para baixo.
Eu não lembro muito bem desde quando eu carrego essa bandeira da igualdade de direitos, porque isso sempre foi uma questão muito presente na minha vida. Mas foi quando comecei a trabalhar no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) que essa luta se intensificou.
Eu sou formada em psicologia e atuei em políticas públicas, e nesse período vi muitos tipos de violência contra a mulher. Eu vi muitas mulheres que sofriam violência sem conseguirem sair do relacionamento por uma dependência financeira e muitas vezes também emocional. Isso chamou a minha atenção, e quando comecei a atuar como pesquisadora e professora na Universidade do Vale do Itajaí (Univali) o assunto se tornou pauta das minhas pesquisas com o(a)s aluno(a)s. Nós estudávamos sobre desigualdades sociais de mulheres e LGBTs, mas atuamos principalmente com a questão das mulheres no mercado de trabalho.
Foi aí que comecei a identificar diferenças sutis entre homens e mulheres nas empresas, principalmente em relação a cargos executivos (C-Level). Ficou claro, por exemplo, o quanto a liderança feminina ainda está relacionada a aspectos de sensibilidade, enquanto a masculina é associada a objetividade e foco. Por essa questão cultural, nós, mulheres, precisamos de muita determinação e persistência, porque além de estarmos sempre sendo colocadas em teste, ainda temos um esforço a mais de enfrentar jornadas duplas e até triplas no trabalho e em casa.
Eu tive muita sorte porque trabalhei em empresas que me valorizaram, mas sei o quanto existe de preconceito em relação às mulheres, e que poderia ter sentido um outro impacto se não fosse dona do meu próprio negócio. A Pulses foi o meu primeiro contato na tecnologia e eu não lidero diretamente o time dessa área na empresa, mas sei das dificuldades que outras mulheres nessa posição enfrentam por precisarem se provar constantemente. Entretanto, se tem uma coisa que a minha história me mostrou, é o quanto nós somos capazes de tudo.
“Seja quem você é, estude, se desenvolva e não se amedronte por estar em um espaço tido como masculino”.
Eu sempre trabalhei em vários lugares ao mesmo tempo, e enquanto atuava na Pulses e na universidade, também desenvolvi uma ferramenta de interação em sala de aula, que apoia instrutores de treinamento e professore(a)s. Nessa época, eu pesquisei muito outras ferramentas e sobre metodologias ativas, e construí desde a prototipação até as funcionalidades da plataforma. Inclusive fiz uma palestra no Congresso Brasileiro de Desenvolvimento e Treinamento (CBDT), em 2018, apresentando minhas pesquisas sobre aplicativos para treinamento.
Culturalmente, o mundo tem falado que a tecnologia é para os homens, mas não é. E a gente não precisa deixar nossas características tidas como “femininas” de lado para conquistar esses espaços. Temos como valor central a consideração, e incentivamos a autonomia e empoderamento de todos os nossos colaboradores. Porque só através da diversidade e igualdade nós vamos conseguir nos fortalecer.
Por isso seja quem você é, estude, se atualize, se desenvolva, faça benchmarking e não se amedronte por estar em um espaço tido como masculino. Se atuar na área é um desejo, enfrente, mostre suas competências. Você pode, sim, ocupar espaços e posições de liderança onde você quiser.
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