Primeira edição brasileira do evento de tecnologia europeu será no Rio, em maio de 2023, mas a mobilização do ecossistema local trouxe aprendizados e mostrou que eventos como Startup Summit e Floripa Conecta podem ser cada vez mais internacionais. / Foto: WebSummit (Divulgação)
[08.11.2022]
Por Marcus Rocha, Conselheiro e Especialista em Ecossistemas e Habitats de Inovação.
Escreve quinzenalmente sobre o tema no SC Inova.
Semana passada, em Lisboa, Portugal, aconteceu a edição de 2022 do Web Summit, conhecido como o maior evento sobre empreendedorismo do mundo. Hoje esta coluna irá contar o relato de um movimento que certamente ajudou a trazer para o Brasil a edição regional deste evento, que terá sua estreia no Rio de Janeiro, entre os dias 1º a 4 de maio de 2023, e que poucas pessoas conhecem até o momento.
Esta coluna normalmente publica textos em terceira pessoa, de uma maneira um pouco mais formal. Desta vez, por ter sido uma experiência vivenciada por este autor, o texto será escrito na primeira pessoa.
Tudo começou no início de 2018, enquanto eu ocupava a posição de Superintendente de Ciência, Tecnologia e Inovação na Prefeitura de Florianópolis. Por ter vindo da iniciativa privada, como empreendedor e participante do associativismo empresarial, mantive os laços com parceiros de negócios, sempre cuidado para evitar conflitos de interesse com a posição pública que eu ocupava.
Nessa época eu havia sido convidado pelo Rodrigo Rossoni, que hoje é presidente da Associação Empresarial de Florianópolis (ACIF) para participar do desenvolvimento de uma ideia de negócio, para criar uma solução tecnológica baseada nos conceitos e técnicas de Customer Data Platform (CDP).
Para nossa felicidade, a solução foi selecionada para o programa Alpha do Collision 2018, edição regional do Web Summit para a América do Norte, que naquele ano aconteceu entre 1º e 3 de maio, em Nova Orleans, EUA. O Alpha é uma iniciativa para apoiar startups nascentes, que disponibiliza ingressos, mentorias com profissionais de referência, e um stand para expor durante um dos dias do evento, com um preço super subsidiado. Essa iniciativa se repete em todos os eventos Web Summit.
Semanas antes de ir para o evento, por um desses acasos do destino, recebi lá na Superintendência a Nicole Franco, que recém tinha voltado dos EUA para Florianópolis. A conversa foi ótima e, quando ela soube que eu estaria no Collision, imediatamente me conectou com o Anthony Clery, amigo dela que naquela época trabalhava na empresa promotora do Web Summit como Enterprise Partnerships Executive. Foi uma daquelas conexões que só acontecem no ecossistema de inovação de Floripa.
Assim, tirei uns dias de férias da Prefeitura aos quais eu já tinha direito, e fui para o Collision com o Rodrigo Rossoni. O evento foi ótimo, tivemos a oportunidade de conversar com um dos principais arquitetos de soluções da Amazon, validamos várias das ideias da solução durante a exposição no stand, assistimos a vários conteúdos de alta qualidade trazidos por referências internacionais e, no último dia, nos encontramos com o Anthony, que nos recebeu muito bem e fez um tour pelo evento conosco.
Durante o tour, ele nos explicou que o Collision é um evento regional derivado do Web Summit, trazendo algumas das trilhas de conhecimento apresentadas no evento principal, tais como SaaS Monter, Growth Summit, Moneyconf, Pandaconf, entre outras. Ele também nos contou que o Web Summit iniciou em 2009 em Dublin, onde fica a sede da empresa promotora, que possui o mesmo nome do evento, e que em 2016 o evento foi transferido para Lisboa, onde permanece sendo realizado anualmente até hoje, sempre em novembro.
O Collision começou a ser realizado em 2014, em Las Vegas, se mudando para Nova Orleans em 2016, com foco na América do Norte. No evento de 2018 foi anunciada a mudança do evento para Toronto, no Canadá. Além do Collision, em 2018 também foram realizados o Rise, em Hong Kong, evento no mesmo formato para a Ásia, e o Moneyconf, uma das trilhas dos eventos Web Summit e que aconteceu em Dublin.
O CONVITE DESPRETENSIOSO QUE INCIOU UM MOVIMENTO EM FLORIANÓPOLIS
Durante a conversa com o Anthony, despretensiosamente perguntei se a empresa Web Summit tinha interesse em promover na América do Sul um novo evento com o mesmo formato do Collision e do Rise. Ele prontamente respondeu que SIM, e passou a explicar que a empresa sempre abre um processo de concorrência entre cidades quando inicia um movimento para um novo evento em uma nova região. Este foi o gatilho que disparou todo um movimento aqui em Floripa logo em seguida.
Ao retornarmos para Florianópolis, provoquei reuniões com algumas lideranças locais para compartilhar essa oportunidade que eu e o Rodrigo Rossoni trouxemos do Collision. Destacam-se as conversas que tivemos com o Luc Pinheiro, na época Presidente da ACIF, o Doreni Caramori, Diretor executivo do Grupo ALL, o Daniel Leipnitz, então Presidente da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE), e o Marcelo Bohrer, que estava como Vice-presidente do Florianópolis Convention & Visitors Bureau. A opinião de todos foi de que seria muito importante trazer um evento internacional sobre tecnologia e empreendedorismo para a capital de Santa Catarina, para colocar a cidade em destaque no mapa internacional dos ecossistemas de inovação, além de colaborar com o turismo e com a atração de investimentos para a cidade e o Estado.
A partir desse consenso, foi iniciado um movimento para manifestar o interesse de Florianópolis em sediar uma edição regional do Web Summit. Nos meses seguintes, foi produzido um dossiê sobre Florianópolis, que ficou pronto mais ou menos no mesmo tempo que o livro Floripa Cidade Criativa, editado pela Prefeitura.
Ambos os documentos foram traduzidos para o inglês e foram acompanhadas de uma Letter of Intent (Carta de Intenções) endereçada ao CEO da empresa responsável pelo Web Summit, Patrick (Paddy) Cosgrave, assinada por ACATE, ACIF, CDL Florianópolis, Abrasel/SC, Prefeitura de Florianópolis, Floripa Convention & Visitors Bureau e Grupo ALL. Todo o material foi enviado para no dia 3 de setembro de 2018.
Alguns dias após o recebimento da documentação, recebemos um retorno da Web Summit, demonstrando interesse em conversar com Florianópolis. Foram disponibilizados 5 ingressos de cortesia, de diferentes categorias, para levarmos uma comitiva daqui para conhecer o Web Summit, em Lisboa, e iniciar as conversações com a empresa. A comitiva contou inicialmente com:
- Juliano Richter Pires, Secretário de Turismo, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico de Florianópolis
- Marcelo Bohrer de Almeida, Vice-presidente do Florianópolis Convention & Visitors Bureau
- Marcus Rocha, Superintendente de Ciência, Tecnologia e Inovação de Florianópolis
- Iomani Engelmann Gomes, Vice-presidente de Negócios da ACATE
- Doreni Caramori Jr., Diretor Executivo do Grupo All
No entanto, dado o potencial estratégico para Florianópolis daquela visita ao Web Summit, juntaram-se à comitiva o Luc Pinheiro, Presidente da ACIF, e o vereador Milton Barcelos. Assim, entre os dias 5 e 8 de novembro de 2018, essas 7 pessoas puderam conferir todo o potencial do Web Summit, que em naquele ano recebeu pouco mais de 70 mil visitantes.
Durante o evento, a comitiva foi recebida por Miguel Iglesias, Global Account Executive da Web Summit. Durante a reunião foi possível esclarecer mais algumas dúvidas sobre o evento, principalmente em relação aos retornos positivos para a cidade promotora, além dos próximos passos para a candidatura de Florianópolis.
O principal resultado dessa reunião foi a sinalização positiva da Web Summit, sugerindo que seria importante que Florianópolis realizasse um primeiro passo concreto para manifestar seu interesse em receber o evento, materializado na participação como expositor em eventos Web Summit do ano seguinte. Assim, após o retorno da comitiva à Floripa, decidiu-se que o ecossistema de inovação de Florianópolis faria um investimento coletivo para viabilizar a contratação de stands no Collision e no Web Summit de 2019.
FLORIPA, “A CREATIVE CITY”, ESTREIA COM BARULHO NO WEB SUMMIT
Sob a liderança do Sebrae/SC, decidiu-se que o Floripa Conecta, festival de eventos realizado em Agosto, seria o tema para divulgar a cidade e o ecossistema local de inovação nesses eventos. Eu não consegui estar no Collision, mas fui uma das pessoas que ficou no stand do Floripa Conecta no Web Summit 2019.
Uma curiosidade: muitas pessoas chegavam ao stand perguntando se era da Flórida; ao explicarmos que era de Floripa/Florianópolis, Brasil, e ao mostrarmos o material produzido, especialmente o vídeo “Floripa, a Creative City”, a maior parte se surpreendia e depois voltava com mais pessoas para conhecer melhor a cidade e o ecossistema de inovação.
O espaço do Floripa Conecta foi um sucesso no Web Summit 2019 – e foi o único stand institucional do Brasil no evento daquele ano, sendo o ponto de encontro dos brasileiros por lá. Estava bem localizado, próximo da entrada de um dos pavilhões de exposições, ao lado das instalações da Bélgica e da Alemanha, mas com movimento muito maior em comparação aos vizinhos mais conhecidos internacionalmente.
Também houve uma agenda importante durante o evento. Uma comitiva muito maior, com lideranças de Florianópolis e do Estado de Santa Catarina, foi recebida por executivos importantes da empresa promotora do Web Summit: Michael Cunningham, Senior Vice-president of Sales, e Artur Pereira, VP Country Manager.
De Santa Catarina estavam presentes: Alexandre Souza (Coordenador do Startup SC e do Startup Summit, do Sebrae/SC), Marcelo Bohrer (CEO do Floripa Conecta), Rodrigo Rossoni (Presidente da Acif), Lucas Esmeraldino (Secretário de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina), Daniel Leipnitz (Presidente da Acate), Milton Barcelo (Vereador de Florianópolis), Luc Pinheiro (Diretor de Operações Empresariais do Sebrae/SC) e Doreni Caramori Jr. (Diretor Executivo do Grupo ALL), e eu, Marcus Rocha (Superintendente de Ciência, Tecnologia e Inovação de Florianópolis, naquela época).
Durante a reunião nos foi comunicado que uma delegação da empresa Web Summit faria visitas às cidades do Brasil que haviam se candidatado para receber o evento. As cidades escolhidas para serem visitadas foram São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis.
Após o evento e antes da visita da delegação do Web Summit, também foram iniciadas as negociações com cada uma das cidades – por questões de sigilo, não é possível dar maiores detalhes sobre este ponto. Em seguida, nos dias 30 e 31 de Janeiro de 2020, Florianópolis recebeu a visita da delegação do Web Summit, conforme registro feito pela Acate.
Depois disso, muita coisa aconteceu. Porto Alegre também entrou na disputa, e houve a pandemia da Covid-19. Há alguns meses atrás, foi feito o anúncio oficial de que o Rio de Janeiro sediará o “Web Summit Rio” entre os dias 1º a 4 de maio de 2023. Aqui em Florianópolis, as lideranças do ecossistema local de inovação com certeza aprenderam muito com esta e outras experiências que tiveram nesse período; a partir desse aprendizado, certamente veremos mais investimentos em iniciativas locais como o Startup Summit e o Floripa Conecta, para torná-las cada vez mais internacionais.
Pessoalmente, foi muito enriquecedor participar desta história, que também ilustra um pouco como o ecossistema de inovação de Florianópolis funciona. Quero agradecer aqui a todas as lideranças, entidades e empresas que participaram de tudo isso, e que continuam trabalhando para melhorar o ecossistema de inovação de Florianópolis – e peço desculpas se esqueci de alguém. Também acredito que as iniciativas e fatos aqui relatados puderam ajudar, mesmo que um pouco, a trazer um grande evento internacional de inovação para o Brasil.
Desejo muito sucesso para o Web Summit Rio e espero que o evento aconteça por muitos anos, pois será muito importante para os ecossistemas de inovação de todo o país.
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