Como a Crush, de Tubarão, usa o digital e o 3D para democratizar o mercado de móveis de design

Voce está em :Home-Inovadores-Como a Crush, de Tubarão, usa o digital e o 3D para democratizar o mercado de móveis de design

Como a Crush, de Tubarão, usa o digital e o 3D para democratizar o mercado de móveis de design

Idealizada como uma plataforma de compartilhamento de projetos, Crush Design foca na criação de um ecossistema envolvendo fabricantes, arquitetos, designers e consumidores

Idealizada como uma plataforma de compartilhamento de projetos, Crush Design foca na criação de um ecossistema envolvendo fabricantes, arquitetos, designers e consumidores  

E se o mercado de móveis de design fosse “uberizado”? De um lado, arquitetos e designers desenvolvendo projetos autorais que podem ser comprados por pequenos fabricantes espalhados pelo mundo. De outro lado, consumidores com acesso a produtos com design exclusivo a preços acessíveis, criados por essa rede colaborativa.

Este é o propósito inovador que guia a Crush Design, uma startup de Tubarão, no Sul catarinense: democratizar o acesso a móveis de design e desenvolver um ecossistema envolvendo arquitetos, designers, fabricantes e consumidores. A startup – fundada pelo designer Mateus Machado e que conta hoje com outros três sócios Guilherme Santos, Matheus de Souza e Laís Schulz, além de uma equipe que envolve uma arquiteta, um designer de interiores, um advogado e um programador – começou como uma plataforma de compartilhamento de projetos digitais de móveis.

Inicialmente, a proposta do fundador era disponibilizar em um blog projetos de bancos, cadeiras e mesas que podiam ser produzidos por qualquer pessoa com acesso a uma máquina CNC. Mas, como é comum em histórias envolvendo inovação e novos negócios, tudo mudou – e continua mudando – muito depressa.  

Em maio de 2016, o então Projeto CR.U.SH (uma junção dos termos create, upgrade e share, ou criar, melhorar e compartilhar) composto à época apenas por Mateus Machado e Guilherme foi selecionado para o edital do Sinapse da Inovação, promovido pela Fundação CERTI, e recebeu um aporte de R$ 90 mil para o desenvolvimento da plataforma de compartilhamento. Foi quando entraram os novos parceiros – Mateus e Laís – para compor o time nas áreas de marketing digital e conteúdo e a equipe de suporte nas outras especialidades.

Mas as mudanças mais radicais aconteceram no início de 2017, após a participação no Masisa Lab, um processo de aceleração desenvolvido por uma empresa chilena que produz MDFs. Após um mês inteiro passando por mentorias com profissionais de mercado e da empresa, veio o novo modelo: em vez de vender apenas projetos digitais para serem produzidos por quem fazia os downloads, por que não criar uma comunidade real envolvendo fabricantes dos projetos, arquitetos e designers para propor novos móveis e profissionais que indicam estes produtos (especificadores) para projetos de ambientes?

Poltrona Gira Mundo, um dos projetos que viraram referência do trabalho da Crush Design.

Foi aí que o Projeto CR.U.SH virou Crush Design e, poucos meses depois, evoluiu para uma loja virtual que oferece mais de 30 projetos e também mesas, poltronas, cadeiras e até berços, e começou a desenvolver projetos para serem fabricados por impressoras 3D de baixo custo – algo inédito no mercado brasileiro. Quem compra o projeto pode também fazer uso comercial dele, outra inovação proposta pela startup.

“Nossa pegada é a democratização do design. Isso não é fazer produtos mais baratos para que mais pessoas possam comprá-los, mas fazer com que pessoas e empresas tenham acesso a projetos de design de qualidade. Além de vender o móvel, vendemos o projeto de maneira acessível”, define Matheus.

Dos pufes ecológicos aos projetos digitais

A Crush é o resultado de quase uma década de trabalho do designer de produto Mateus Machado, 33 anos, que logo depois de se formar na Universidade Tuiuti, em Curitiba (PR), voltou a Tubarão para trabalhar em uma indústria eletroeletrônica. Mas, “como eu era um jovem impetuoso que queria colocar minhas ideias em prática, saí da empresa logo depois para empreender”. Entre 2008 e 2010, se instalou na incubadora da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) e começou a produzir projetos como o Cabide Origami, feito com lâmina pet, vencedor do prêmio Salão Design Casa Brasil em 2009. “Nessa época”, lembra Mateus, “não tive sucesso comercial, apesar do respaldo técnico. Estava aprendendo a entender o público e o mercado”.

A resposta do público veio com outro projeto desenvolvido nesta fase experimental, um banco feito em papelão ondulado de alta resistência, que deu origem ao Meu Puff Ecológico, empresa que Matheus manteve até 2015 vendendo pufes e bancos feitos à base de papelão – canais expressivos de e-commerce chegaram a oferecer os produtos, como a Americanas.com e a Shoptime. Enquanto isso, Matheus continuava desenhando outros projetos, que não tinham a ver com o Meu Puff Ecológico e que levaram o jovem impetuoso a embarcar em uma nova aventura: um blog para compartilhar estes projetos na internet e que os usuários pudessem produzir por conta própria.

Mateus e Guilherme, com Leandro Carioni (centro), da Fundação Certi: premiação do Sinapse ajudou a estruturar o time. Foto: Divulgação/Sinapse da Inovação

“Começamos a disponibilizar nossos projetos em PDF, gratuitamente, em escala 1:1. Um ano depois, sem força de marketing, chegamos a 7 mil downloads – era gente dos Estados Unidos, da China, da Rússia. Depois disso passamos a vender, por R$ 20, um arquivo digital, vetorizado e pronto para ser produzido em uma máquina CNC”.

A comunidade Crush e o futuro em 3D

Um dos insights que surgiram a partir do processo de aceleração foi “Uberizar” o mercado de design de móveis. Como a Crush desenvolve projetos, mas não é uma fábrica, o passo seguinte foi buscar parcerias com fabricantes de pequeno e médio porte: hoje são 40 parceiros, chamados de Fab Crushers, que produzem um móvel de design e que ficam com 65% do valor da peça vendida pelo site da empresa – a Crush fica com 35%.

Dentro dessa comunidade, há também os Crushers –  arquitetos ou designers interessados em criar peças autorais, que podem oferecer o projeto diretamente na plataforma e recebem um percentual das vendas – e os Coach Crushers – profissionais que trabalham com projetos de interiores e que também podem receber um percentual da venda do produto na indicação aos clientes.

O passo seguinte no ciclo de inovação da startup é a produção de peças em impressoras 3D. Desde o ano passado, Mateus começou a estudar essa tecnologia ao conhecer o processo em uma empresa de Florianópolis que fabrica estas impressoras. E a primeira linha de projetos de móveis com peças 3D foi lançada em maio deste ano, durante a Design Business Fair, na capital catarinense.

“Usamos a impressão 3D de baixo custo não só para prototipar mas para fazer os componentes de peças para o produto final. A ideia é montar como um Lego: a partir dos conectores, você pode fazer uma estante, um móvel de centro, uma base para uma mesa, encaixando perfis de alumínio, MDF ou vidro. O resultado é uma peça bem contemporânea que pode ser customizável e exclusiva”, explica.

Ainda que 2017 tenha sido o ano zero do novo modelo de negócio da startup, o resultado comercial seja incipiente, o foco é escalar globalmente, tanto na venda dos projetos quanto na formação da comunidade de “crushers” – a meta é fechar 2018 com mil fabricantes parceiros pelo país.

Como resume o fundador: “a intenção é desenvolver um ecossistema em que cada participante cria e entrega valor”.