Se sua empresa iniciar uma estratégia de venda agora, será bem sucedida? Confira uma matriz que avalia a possibilidade real, de acordo com a performance da startup, em função dos impactos da pandemia em cada mercado. / Imagem: Bernard Hermant (Unsplashed)
[FLORIANÓPOLIS, 30.06.2020]
por Anderson Wustro*
Recentemente, nos deparamos com o ótimo artigo “Can I fundraise in COVID times ? — the “New” Fundraising Matrix” que nos fez refletir se agora, em meio à crise mundial que estamos enfrentando, seria o momento da sua startup pensar em realizar um exit (venda da empresa). Usando a matriz proposta pelo autor Peter Specht – Investment Manager da Creandum – como referência, criamos outra, adaptada à realidade de fusões e aquisições. Nela, analisamos o impacto da Covid-19 no segmento de atuação da startup e sua performance (em termos de crescimento e receita) e ilustramos como o mercado pode/deve se comportar a partir destes cruzamentos.
É importante ressaltar que a decisão de vender (ou não) sua empresa é uma reflexão pessoal de cada empreendedor. Esta decisão vai envolver, além de fatores como histórico de transações em seu mercado e modelo de negócios, seus objetivos pessoais e financeiros.
A matriz abaixo demonstra se o mercado de M&A — levando em conta a performance da empresa e o seu segmento atuação — está aquecido no sentido de: “se eu iniciar uma estratégia de saída agora, serei bem recebido, ou não?”, considerando os cenários de impacto positivo, negativo e neutro.
No eixo Y, o impacto no segmento/mercado, reflete o efeito que a pandemia teve em seu setor de atuação. Como exemplo de impacto negativo, os negócios inseridos na área de turismo e eventos, que tiveram uma redução drástica em demanda e consequentemente em sua receita. No outro extremo temos os setores de telecomunicações e ensino à distância (EAD) que surfam em uma onda de crescimento recorde, sendo consumidos por uma nova camada de clientes. Já o eixo X traz a performance da startup, considerando principalmente a taxa de crescimento de sua receita. Vale mencionar que, de acordo com o estágio do negócio ou sua área de atuação, a taxa de crescimento para ser considerada baixa, média ou alta pode variar.
IMPACTO POSITIVO COVID-19
“Quem já estava performando bem poderá ser recompensado com boas ofertas”
LUCKY SHOT – Apesar do passado com baixa taxa de crescimento, o vento virou para este perfil de negócio. O aquecimento de demanda por sua solução se sobrepõe às ineficiências e limitações operacionais, tornando o negócio subitamente atrativo. Isto pode gerar oportunidades de exits, entretanto, ainda incertas.
RACER – O impacto positivo da Covid-19 fez sua startup se tornar mais atraente da noite para o dia. Com o aumento da demanda e, consequentemente, de sua projeção de faturamento, é uma boa hora para avaliar uma estratégia de saída, uma vez que os potenciais compradores que atuam neste mercado têm necessidade de soluções para ampliar sua oferta, aumentar sua receita na base de clientes ou entrar em novos mercados.
ROCKET – Assim como o foguete do nosso amigo Elon Musk, nem o céu é o limite. Somado à competência de sua equipe, seu negócio foi agraciado com um aumento da demanda de seus produtos ou serviços. Histórico de resultado e aumento da taxa de crescimento são um banquete completo para se trabalhar com uma estratégia de saída. E é claro que seu valuation refletirá este bom momento. Devem surgir oportunidades de exit no curto prazo, se é que já não apareceram antes mesmo de você ler este artigo.
IMPACTO NEUTRO COVID-19
GHOST – Sem o histórico de um atleta, somado ao impacto neutro ou negativo da situação atual, o caminho que era tortuoso, agora pode levar a lugar nenhum. Fantasmas terão muitas dificuldades para passar por este momento caso não se reinventem e encontrem formas de sobreviver. A baixa taxa de crescimento não traz boas oportunidades de saída em um momento de capital escasso.
SWIMMER – Com a tendência de retração generalizada, o swimmer nadará contra a maré. É provável que ao final desta travessia ele se encontre no mesmo lugar que iniciou. O atingimento da meta de faturamento deve ser prorrogado entre um a dois anos, até que as coisas voltem ao normal. Nestes casos há uma maior probabilidade de fusões entre empresas sinérgicas ou concorrentes em busca de eficiência operacional e redução de custos.
STAR – Este perfil, apesar do impacto da pandemia diminuir sua velocidade de crescimento, pode ter oportunidades de saída no curto e médio prazo. A performance da equipe falará por si e, mesmo com dificuldades, há grandes chances da startup ultrapassar este período mais forte. Acqui-hiring ou compra por consolidadores de mercado são oportunidades que podem surgir devido ao perfil da equipe. Entretanto, o reajuste de suas projeções financeiras devido ao coronavírus irão impactar no valor do negócio.
IMPACTO NEGATIVO COVID-19
“Ou buscam alternativas ou serão liquidadas. Fusões para união de forças é uma alternativa”
ZOMBIE – Infelizmente a missa já começou a ser rezada para os negócios que se encontram neste quadrante. Baixo crescimento somado ao impacto negativo da pandemia e a crise econômica dificultam a sobrevivência da startup.
SHARK – Seu histórico de resultados talvez não seja o suficiente para mantê-lo longe da extinção. O impacto negativo da pandemia desafiará sua capacidade de se adaptar e novas estratégias serão necessárias para sobreviver. Fica difícil imaginar um bom exit nesta situação e compradores podem avaliar isto como uma oportunidade de compra em valores baixos (“promocionais”) ou até mesmo a aquisição de goodwill como, por exemplo, código-fonte, carteira de clientes, propriedade intelectual, marca, entre outros intangíveis.
BOOMERANG – Eles eram as estrelas do jogo, porém a crise bateu de frente com seu negócio e afundou seu segmento. Assim como os tubarões, eles terão dificuldades para atravessar esta situação, mas estarão mais fortes e preparados se conseguirem chegar até o final. Oportunidades de M&A também são similares aos tubarões, porém as condições de mercado não jogam ao seu favor.
Independente do caso, uma boa estratégia para criar oportunidades de exit é iniciar o relacionamento com o lado comprador, seja para uma parceria, relação cliente-fornecedor ou benchmarking.
CONCLUSÕES & SUGESTÕES:
Pela matriz, observamos que o mercado de M&A está aquecido para startups impactadas positivamente pela Covid-19, principalmente se os compradores são de um segmento de mercado que também foi impactado de maneira positiva. Quem já estava performando bem poderá ser recompensado com boas ofertas (como no caso das Rockets e Racers) e os negócios menores ou ainda em crescimento (Lucky Shot), se for da vontade dos empreendedores, poderão aproveitar a crise para realizarem vendas imediatas.
Apesar de inferiores, também existem oportunidades de M&A para quem foi mais impactado. Empresas que vinham em um caminho de crescimento, mas cujos segmentos foram fortemente afetados pela crise (por exemplo, turismo) ou buscam novas estratégias para conseguir sobreviver (Boomerang ou Shark), ou serão liquidadas. Fusões para união de forças, liquidação em caso de empresas com grande dificuldade financeira ou venda de goodwill são alternativas. É provável que os valuations das transações sejam prejudicados com valores menores, e a tendência é ter menos ofertas disponíveis. Deve-se então buscar oportunidades com compradores de segmentos que foram menos ou positivamente impactados.
De qualquer forma, independente do caso, uma boa estratégia para criar oportunidades de exit é iniciar o relacionamento com o lado comprador. Seja para desenvolver uma parceria, ter uma relação cliente-fornecedor ou simplesmente fazer benchmarking, estar próximo daqueles que podem dar saída a startup é uma ótima forma de ambos os lados chegarem mais rápido a conclusão de que “juntar as escovas” será um bom negócio.
Anderson Wustro* é partner na Questum, consultoria de M&A (fusões e aquisições) para startups. Artigo originalmente publicado no Medium e editado pelo SC Inova.
LEIA TAMBÉM:
SIGA NOSSAS REDES