Clube de Autores: a plataforma de autopublicação que lança 15% dos livros produzidos por ano no Brasil

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Clube de Autores: a plataforma de autopublicação que lança 15% dos livros produzidos por ano no Brasil

Com operação em Joinville, startup fechou acordo com Amazon e outras gigantes do varejo online e vem dobrando o volume de vendas de seu catálogo independente

Com operação em Joinville, startup fechou acordo com Amazon e outras gigantes do varejo online e vem dobrando o volume de vendas de seu catálogo independente

O “faça você mesmo” se consolidou como um caminho viável para muitos músicos e bandas, especialmente em tempos de plataformas online de distribuição e streaming. Mas no mercado editorial o jogo é mais complexo e o autor independente precisa se preocupar com vários outros fatores como produção, impressão, catalogação e distribuição. 

Essa dificuldade que desestimula tantos novos escritores foi encarada por três empreendedores que passaram pelo mesmo problema e resolveram colocar tecnologia no meio do processo ao criarem a primeira plataforma de autopublicação da América Latina: o Clube de Autores. Fundado em 2009 pelos sócios Ricardo Almeida, Anderson de Andrade e Indio Brasileiro Guerra Neto, o Clube reúne 50 mil autores, que publicaram mais de 60 mil títulos. Até o final de 2017 serão 6 mil novos livros independentes na rua, o que corresponde a cerca de 15% de todos os lançamentos feitos no país.

Neste ano, graças a um acordo de distribuição com redes como Amazon, Submarino, Saraiva, Americanas e o agregador de sebos Estante Virtual, o catálogo do Clube está disponível nos maiores varejistas online do país. “É a primeira vez no mundo que o autor independente consegue vender em grandes redes. E com isso estamos dobrando as vendas a cada mês”, conta o fundador e CEO Ricardo Almeida. Apesar de morar em São Paulo, toda a área de TI e infraestrutura da empresa fica na sede, em Joinville (SC). Uma operação, por sinal, enxuta: além dele, quatro pessoas tocam atendimento, infra e operação do Clube.

Por meio do Clube, mais de 50 mil autores já publicaram livros independentes no país.

Logo que começaram, ele lembra, havia uma demanda muito grande por design de capa e diagramação, mas a proposta da empresa não era assumir esses serviços. “Queremos nos manter enxutos e simples. Nossa proposta básica é permitir que todos publiquem seu livro. Queremos alforriar o mercado editorial brasileiro”, define Ricardo.  

A saída foi criar um marketplace chamado Profissionais do Livro, que reúne 3 mil profissionais que fornecem trabalhos de revisão, design, ilustração, diagramação, ficha catalográfica e registro na Biblioteca Nacional (ISBN), este último um item obrigatório para vender o livro nas grandes redes online. Nessa época, havia um preconceito pelo fato de que os livros não saíam com um selo de editora: “mas a luta foi vencida ao natural, pois não havia outra opção. As editoras estão, em essência, totalmente fechadas e os autores foram se convencendo que a saída era a autopublicação”, comenta.

“Nossa proposta básica é permitir que todos publiquem seu livro. Queremos alforriar o mercado editorial brasileiro”, define Ricardo Almeida, CEO do Clube de Autores.  

Alguns autores dos best-sellers do Clube chegam a receber mais de R$ 10 mil por mês em direitos autorais – é o próprio escritor quem define o quanto ele vai receber por unidade vendida. “Tivemos títulos que já venderam mais de 5 mil exemplares por ano. Mas se vender 2 mil unidades por ano já consideramos um ótimo resultado”, diz o CEO. A lista dos mais vendidos do Clube de Autores mostra que há best-sellers para todos os gostos: de auto-ajuda a psicologia, passando por títulos técnicos para concursos, modelagem e culinária. Não há curadoria ou preferência por temas, apenas um controle de plágio nos conteúdos. Se o autor quiser publicar um único exemplar, ou qualquer seja o volume de tiragem, também é possível.

Mas esses resultados, reforça Ricardo, dependem muito dos esforços dos autores: “são pessoas que investem pesado neles mesmos, que tem presença relevante nas redes sociais e formam suas audiências, fazem eventos de lançamento. Se tiver uma capa legal, tiver um bom acabamento e for bem divulgado, vende bem. Qualquer que seja o tema, física quântica ou filosofia”.

Modelo de negócio inovador atraiu capital de risco

Nos últimos dois anos, o mercado editorial brasileiro registrou uma queda de 17%, segundo pesquisa divulgada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), em conjunto pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) e a Câmara Brasileira do Livro (CBL). Mas essa crise não vem de hoje: em 2012, antes da economia brasileira entrar em parafuso, esta mesma pesquisa apontava que a venda de livros teve uma queda de 2,64% (descontando a inflação do período) em comparação com o ano anterior.  

“O investimento que fizemos ajudou a criar uma alternativa moderna para uma indústria que tem um comportamento ultrapassado no Brasil”, diz Marcelo Wolowski, sócio da gestora Bzplan

Este era o panorama do mercado editorial quando o Clube de Autores recebeu, em 2013, um investimento de R$ 1,8 milhão do Fundo SC, gerido pela Bzplan e que tinha como foco startups de base tecnológica com operação em Santa Catarina. “O que nos impulsionou foi o fato que mostramos resultado desde o início. Naquela época já faturávamos entre R$ 300 mil e R$ 400 mil por ano”, comenta Ricardo. Investimento que foi direcionado basicamente para melhorias na plataforma – antes eles só conseguiam publicar em formato A5, hoje são cinco opções de papel, por exemplo.

“O mercado editorial brasileiro ainda é muito conservador e não se modernizou, tanto é que o Clube de Autores lidera o movimento de self publishing no Brasil e veio também com uma inovação, que é a impressão por demanda”, explica Marcelo Wolowski, sócio fundador da Bzplan, gestora que investiu em outras startups bem sucedidas, como a Axado (vendida em 2016 para o Mercado Livre por R$ 26 milhões) e a Cata Company (ex-CataMoeda), que se tornou a PME com maior crescimento no país entre 2014 e 2016.

“O investimento que fizemos foi bem sucedido, porque ajudou a criar uma alternativa moderna para uma indústria que tem um comportamento ultrapassado no Brasil. É uma combinação de conteúdo exclusivo e tecnologia aplicada a edição e publicação”, reflete Wolowski.  

E a partir do acordo com as grandes redes online, um novo horizonte se abriu para a empresa: “até então éramos a cauda longa do mercado editorial. Agora queremos SER o mercado editorial”, enfatiza Ricardo.