Com novo investimento do BNDES, no valor de R$ 6,5 milhões, empresa de Florianópolis vai desenvolver plataforma de soluções para a indústria de microeletrônica. / Foto: Daniel Queiróz/Divulgação
Atuar no mercado internacional nunca foi problema para a Chipus Microeletrônica, empresa com sede em Florianópolis (SC) e que desenvolve projetos de chips de baixo consumo energético. Ao contrário: a receita vem basicamente de clientes na Europa, Ásia e Estados Unidos. O Brasil não está nessa conta pela ausência de um mercado relevante de microeletrônica e de semicondutores, mesmo que nos últimos 10 anos o governo federal tenha criado políticas de incentivo a esse setor.
Fundada em 2009 pelos sócios Murilo Pessatti e Paulo Augusto Dal Fabbro, a Chipus tem sido desde o ano passado a aposta do BNDES para gerar novas soluções que possam expandir este mercado, especialmente para as fabricantes de produtos com tecnologia para Internet das Coisas (IoT): sensores que captam dados e se comunicam com outros equipamentos.
Em 2016, por meio do fundo Criatec II, do qual o BNDES é o principal cotista, a Chipus recebeu um aporte de R$ 2,5 milhões para expansão e desenvolvimento. Deu certo. A empresa deve dobrar o faturamento do ano passado em 2017 e anunciou na quinta (30.11) uma nova rodada de investimento do Criatec II, no valor de R$ 6,5 milhões. Desta vez, os recursos vão para a criação de uma plataforma em que a indústria pode encomendar, sob demanda, chips com a tecnologia desenvolvida pela Chipus, ideais para aplicação em projetos de IoT. O foco são empresas brasileiras e latinoamericanas, um mercado carente por novas tecnologias e soluções que agilizem o processo produtivo.
O anúncio aconteceu durante a ChipCon, evento que a Chipus promoveu no hotel Majestic e reuniu representantes da indústria e convidados internacionais para estimular o debate de como o Brasil pode desenvolver e ser competitivo em um segmento estratégico. “O governo atuou mais de 10 anos ou mais na área de microeletrônica no Brasil mas ainda tem pouco resultado. Apesar de estarmos crescendo, nosso caminho não passa pelo mercado brasileiro e queremos tomar a iniciativa”, ressalta Murilo.
Com conhecimento do mercado internacional (Murilo morou uma temporada em Portugal e Paulo residia na Suíça na década passada), os sócios começaram a Chipus depois de terem um projeto na área de circuitos integrados aprovado pelo CNPq em 2009. Foram incubados no MIDI Tecnológico e passaram os primeiros anos ancorados nos recursos de investidores anjo e de projetos do governo federal, que tinha uma política para desenvolver o setor de microeletrônica local. Os primeiros clientes vieram de países como EUA, Malásia e Suíça.
Nesta entrevista ao SC Inova, ele conta como a Chipus, hoje com 45 funcionários, enxerga o futuro do mercado e adianta os novos passos da empresa, que vai selecionar startups para ajudar no desenvolvimento de novas soluções a partir do ano que vem.
SC Inova – Como este investimento vai mudar o modelo de negócio de vocês e como a Chipus pode ajudar a indústria brasileira a se desenvolver?
Murilo Pessatti – A plataforma vem para duas funções: escalar a produção da Chipus e facilitar à indústria o acesso à tecnologia que desenvolvemos por meio de uma pataforma simplificada. A plataforma quer diminuir barreiras para disseminação dessa tecnologia de baixo consumo no Brasil. Queremos cativar esse ecossistema, que ainda é rarefeito. Não irá atender a todos os tipos de aplicações mas vai funcionar para algumas oportunidades de mercado que acreditamos que existe aqui.
SC INOVA – Que aposta o BNDES viu para ampliar a capitalização na empresa?
Murilo Pessatti – É uma construção contínua. Temos reuniões mensais constantes e isso veio surgindo. No primeiro ano (2016) queríamos ganhar credibilidade com o fundo e o BNDES e mostrar que a Chipus era capaz. Crescemos lá fora, devemos dobrar o faturamento. E agora eles estão apostando mais nas nossas ideias.
As perspectivas são muito boas pros próximos anos. Atuamos fortemente fora do país mas é cativante a ideia da gente trabalhar sistematicamente e estrategicamente em ações locais. Contratamos uma pessoa para ser gerente de vendas no Brasil e entender esse mercado mais de perto.
SC INOVA – Vocês criaram um evento para o mercado, a ChipCon e lançaram um concurso de startups. Qual é a estratégia de longo prazo?
Murilo Pessatti – O governo atuou 10 anos ou mais na área de microeletrônica no Brasil mas ainda tem pouco resultado. Apesar de estarmos crescendo, nosso caminho não passa pelo mercado brasileiro. A iniciativa da ChipCon é muito mais para tomar a dianteira, ter um trabalho em conjunto com a indústria e de evangelização para mostrar que a solução funciona.
Com relação ao concurso, vamos selecionar algumas startups e trabalhar com elas nessa primeira fase da plataforma. Mas não queremos só ajudar startup numa primeira fase e depois deixar ela se virar no mercado, já conversamos com potenciais investidores anjo também. Nossa ambição é sermos como uma aceleradora neste mercado. Assim como o BNDES nos ouviu e agora fez um segundo aporte, queremos contribuir com os novos projetos e quem sabe daqui a uns três ou cinco anos termos uma forte startup de IoT com um produto validado.
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