Documento publicado hoje (24) mostra que a estatal que fabrica circuitos e soluções em microeletrônica teve aumento de 24,1% nas receitas líquidas e redução de 65,25% do prejuízo em 2020 na comparação com 2019. Teria sido a liquidação o melhor caminho?
[24.03.2021]
Por Farol Tech, faroltech@scinova.com.br
Publicado na edição desta quarta-feira (24) no Diário Oficial da União (DOU), o relatório de gestão do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec) pode ser lido como uma declaração de inconformismo dos seus dirigentes sobre a decisão do governo federal de liquidar a empresa pública de pesquisa e produção de semicondutores. Ou como uma prestação de contas sobre os investimentos públicos no setor e uma janela de oportunidades para empresas que queiram aproveitar o capital da empresa desenvolvido com investimento público.
Como mostrou o Farol Tech em fevereiro, o governo federal estabeleceu um prazo de seis meses para que o MCTI divulgue um edital de chamamento público e das regras para seleção e qualificação de entidade privada sem fins lucrativos que vai absorver as atividades de pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico e inovação no setor de microeletrônica que foram realizados até agora pelo Ceitec.
Segundo dados apresentados na mensagem da administração, o Ceitec teve o “melhor nível de faturamento desde a criação” em 2008. O balanço indica R$ 15,5 milhões de faturamento e receita bruta de R$ 11,4 milhões. Aumento de 24,1% das receitas líquidas, a diminuição de 20,3% nas despesas gerais e de 13,1% com pessoal e a redução de 65,25% do prejuízo em 2020 em relação a 2019.
A gestão também lamenta no documento que o ao invés de liquidação, o governo federal poderia ter tentado privatizar e vender os ativos da empresa, fato que traria, segundo os gestores, prejuízos menores sobre o capital investido.
“Entendemos que uma decisão alinhada a um processo de privatização ou outra modalidade de desestatização causaria impactos menos relevantes, e estaria mais alinhada a expectativa de mercado e da própria sociedade, conforme diversas manifestações realizadas no decorrer do processo”, destaca o documento assinado pelo responsável pela liquidação da empresa pública, Abílio Eustáquio De Andrade Neto.
A íntegra do relatório está disponível neste link, mas o Farol Tech detalha alguns pontos mais relevantes abaixo.
CAPACIDADE PRODUTIVA:
“A empresa é hoje a única da América do Sul com capacidade comprovada de desenvolver, projetar e fabricar, em larga escala, semicondutores (chips) para responder às demandas de mercado. Cerca de 105 milhões de chips já foram produzidos pela empresa, foram realizados aproximadamente 34 milhões de encapsulamentos de chips e fabricados 3,1 milhões de tags, etiquetas e inlays”.
CONTEXTO DO SETOR DE SEMICONDUTORES:
“A maior dependência da indústria tradicional de insumos semicondutores – com destaque para a indústria automobilística, com várias delas paradas atualmente por falta de chips.
O maior interesse de manter menor dependência no domínio da fabricação desse tipo de insumo em diversos países – vários países implementaram programas arrojados específicos de apoio a esse setor que estão atraindo grande volume de profissionais de outros países;
O reconhecimento de que existe uma escassez global de trabalhadores do setor de tecnologia e de que o Brasil é reconhecido como uma das economias que será mais atingida por esse problema (migração profissional) de acordo com o Fundo Monetário Internacional;
O reconhecimento, cada vez maior, da ligação desse setor com a soberania e segurança nacional – vide as discussões acaloradas sobre o 5G;
A potencial contribuição da apropriação dessas tecnologias para a retomada do crescimento econômico (em especial na possibilidade de implementação da fiscalização de autenticidade de produtos e fiscalização automática multimodal – caminhões, vagões e barcos), e finalmente
O imperativo de adoção de novos padrões de rastreabilidade para manutenção de competitividade no mercado mundial – como no caso da exigência de 100% do rebanho americano com chip a partir de 2023″.
INVESTIMENTO EM EQUIPAMENTOS:
“No contexto de ampliação da infraestrutura fabril, visando a estratégia de dar maior robustez às aplicações de mercado através do aumento da gama de produtos e da diversificação dos clientes, foi adquirida uma linha de montagem de inlays para etiquetas RFID tipo flip chip, no valor de R$ 5.101.913,05.
O processo de flip-chip consiste em coletar circuitos integrados de RFID diretamente de um wafer (afinado, cortado e expandido) de maneira a gerar um dry inlay (conjunto antena e chip RFID funcionais). No mercado brasileiro, a demanda é altíssima e a oferta de serviços de flip chip é restrita a poucas companhias, portanto o mercado possui grande potencial e atratividade. A internalização desse processo irá permitir ao Ceitec reduzir seus custos e consequentemente adotando preços mais agressivos, contribuindo assim para o aumento no seu portfólio de clientes e consequentemente de vendas e faturamento”.
PESQUISA E DESENVOLVIMENTO DE PATENTES:
“Mesmo com as restrições de trabalho devido à pandemia, a área de Produto, Pesquisa e Desenvolvimento alcançou a marca de 13 novos produtos e processos desenvolvidos. Em 2020 foram finalizados os protótipos das plataformas eletroquímicas (base de sensores a para detecção de diversas doenças). Foram geradas 5 novas patentes cujos os descritivos estão sob sigilo até que as mesmas sejam confirmadas”.
LEIA TAMBÉM:
SIGA NOSSAS REDES