Formado na UFSC, o fundador Pedro Marton conta como o ecossistema de SC ajudou a startup a crescer. A meta é chegar, no próximos anos, a 30% das prefeituras do país
O administrador Pedro Marton, aos 24 anos, gerenciava uma temakeria próximo à Universidade Federal de Santa Catarina (onde se formou alguns anos antes) quando decidiu retornar a São Paulo e ajudar o pai, que tinha uma empresa de tecnologia e precisava desenvolver um projeto de gerenciamento de agentes de saúde em um município do litoral paulista.
Era 2011 e, ao longo dos quatro anos seguintes, ele se dedicou ao desenvolvimento de uma tecnologia capaz de auxiliar os profissionais que iam a campo fazer o trabalho de saúde preventiva junto à população. Em todo o Brasil, são cerca de 300 mil servidores públicos nos mais de 5,5 mil municípios, que coletam informações de famílias carentes, mas que não têm acesso a ferramentas de tecnologia que possam auxiliar neste trabalho de formiguinha. A ideia então foi criar um aplicativo de fácil utilização para inserir os dados coletados pelos agentes, eliminar o uso de papel e espaço para armazenamento, além de gerar um banco de informações online para as prefeituras.
“Tínhamos um cliente e um MVP (protótipo) estável. Se isso fosse um departamento dentro da empresa, seria um centro de custos e o projeto poderia morrer. Mas se fosse uma startup, teria condições de buscar apoio e investimentos e poderia dar certo”, avaliou Pedro. E assim nasceu, em 2015, a ePHealth, formada por Pedro e outros dois desenvolvedores de sistema, em uma sala na região da Berrini, centro financeiro na zona sul de São Paulo.
No final daquele ano, ao participar do CASE, evento nacional promovido pela Associação Brasileira de Startups (ABStartups), encontrou amigos de Florianópolis que contaram, empolgados, sobre o crescimento do polo tecnológico local. Alguns ex-colegas de faculdade já tinham criado startups de relevância, como a Resultados Digitais e a Axado, e o Centro de Inovação Acate Primavera tinha sido recém-inaugurado. “A cidade começou a bombar depois que eu voltei pra São Paulo”, recorda.
Quando ele veio à Ilha para uma visita, pouco tempo depois, se impressionou com um ecossistema quente: aceleradoras ao lado de incubadoras, grandes empresas, coworkings e uma série de eventos. E decidiu voltar em definitivo, trazendo a equipe. “Quando eu disse a amigos de São Paulo que eu me mudaria para Floripa o pessoal achava que o projeto ia acabar, que a gente ia ficar na praia. Só que aqui na Ilha eu estava mais conectado do que na Berrini. Após três meses conseguimos investimento anjo e fomos selecionados pelo MIDI Tec, incubadora da Acate”, diz Pedro.
O ambiente também foi bom para os negócios: 60 dias depois da transferência, conseguiram o segundo cliente e atingiram o ponto de equilíbrio (break even). Além da incubadora, a ePHealth participou de outros programas de aceleração, como InovAtiva Brasil e Darwin Starter, validando novas hipóteses de negócio e fazendo conexões com outros investidores e empresas de grande porte.
O maior desafio, comenta Pedro, é o modelo de vendas para o setor público: “as empresas querem vender para o topo da cadeia. Ninguém vende solução boa e barata para governo, mas nós queremos pulverizar o aplicativo no Brasil vendendo um modelo de baixo custo”. O valor do sistema por habitante é de R$ 1,50 por ano. Para municípios com até 80 mil habitantes, é possível usar o app com custo anual de R$ 8 mil, calcula o CEO: “há anos estamos batendo cabeça, mas encontramos uma fórmula para escalar. Fechamos 2017 com 11 clientes e hoje temos 14, em geral municípios pequenos entre 5 e 20 mil habitantes, e fazemos treinamento 100% remoto”.
Além do modelo pago em que a prefeitura tem acesso à plataforma completa e o sistema de gestão, a ePHealth construiu, em paralelo, uma comunidade de 16 mil agentes comunitários de saúde em 2,9 mil cidades que utiliza o sistema por conta própria, gratuitamente, para aposentar de vez as fichas de papel e se organizarem digitalmente. “Nas redes sociais, há grupos de suporte, apoio e até vendedores do sistema. Só um deles tem quase 5 mil pessoas. Virou praticamente uma base social do município”, afirma Pedro.
PROJETO PILOTO EM SP E CONEXÃO COM INCUBADORA DO HOSPITAL ALBERT EINSTEIN
No segundo semestre de 2018, a ePHealth vai fazer, por alguns meses, o trajeto de volta à capital paulista, com projeto piloto com a comunidade de Paraisópolis. A iniciativa é da Eretz.bio, incubadora tecnológica do Hospital Albert Einstein, que selecionou a startup para treinar 500 agentes, que atendem uma população de mais de 300 mil pessoas, no uso da plataforma. O contato com o Einstein iniciou há dois anos, mas não foi à frente. Só voltou após uma visita de diretores da incubadora a Florianópolis, há alguns meses: “a Ilha tá nessa onda de tecnologia, muitos investidores e decisores querem vir pra cá conhecer a região e foi assim que nós retomamos o processo com eles. Agora, a ideia é eternizar este projeto na comunidade. Mas pelo menos durante seis meses nosso foco estará lá”.
Além do trabalho em Paraisópolis, a ePHealth quer desenvolver em conjunto com o Einstein um sistema de inteligência artificial na plataforma. No ano que vem, espera contar com recursos da Finep para investir em marketing e equipe, voltando com força à base em Florianópolis. Em três anos, a meta é atender 30% das prefeituras do país e criar um modelo que possa ser replicado no mercado privado em outros países.
“Nosso objetivo é ser a maior plataforma global de saúde preventiva. E queremos criar esse modelo a partir das demandas do Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil, que é a melhor universidade do mundo pra gente. Quem não conhece não valoriza, mas eles estão muito à frente em relação a outros países. E isso vai nos ajudar a internacionalizar”, resume Pedro.
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