A vez das climate techs: a urgência por inovação no combate a desastres naturais

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A vez das climate techs: a urgência por inovação no combate a desastres naturais

Mercado de tecnologia climática deve crescer cerca de 25% ao ano em função da série de problemas ambientais (chuva, estiagem, ondas de calor) que vem assolando diversas regiões do planeta. / Foto: Prefeitura de Passo Fundo (RS)/Divulgação


[03.07.2025]
Por Ecosystems.Builders

O planeta nunca aqueceu tanto — nem tão rápido. Em 2024, a temperatura média global ultrapassou 1,5 °C em relação aos níveis pré-industriais, um limite que o Acordo de Paris previa apenas para 2050. Os sinais estão por toda parte: queimadas em Portugal e na Austrália, enchentes devastadoras no Rio Grande do Sul e recordes sucessivos de ondas de calor. 

No Brasil, 83% dos municípios já sofreram desastres causados por chuvas fortes, segundo a Confederação Nacional de Municípios (CNM). Estiagens prolongadas e extremos climáticos se tornaram mais frequentes, ampliando os prejuízos sociais, econômicos e ambientais e evidenciando a urgência de uma resposta rápida e inovadora.

Mas como desenvolver, em meio à emergência dessas catástrofes, soluções para problemas estruturais, que muitas vezes demandam recursos vultosos e tempo para validação até chegar efetivamente à população?

Em meio a essa crise, os ecossistemas de inovação podem surgir como catalisadores das chamadas “climatetechs”, startups focadas em combater as mudanças climáticas, e que devem se tornar cada vez mais estratégicas para evitar (ou ao menos ajudar a prever) futuros desastres naturais. 

Este segmento deve crescer de forma significativa nos próximos anos em função da série de problemas ambientais (chuva, estiagem, ondas de calor) que vem assolando diversas regiões, indiscriminadamente. Segundo o Future Market Insights, o mercado global de climatetechs foi avaliado em aproximadamente US$ 20,34 bilhões em 2023 e deve chegar a cerca de US$ 182,54 bilhões até 2033, crescendo a uma taxa anual de 24,5%. 

Os principais segmentos do mercado de climatetechs incluem gestão da pegada de carbono, monitoramento de culturas, purificação de água, monitoramento de condições do solo, construções verdes, monitoramento de florestas, e previsão e monitoramento do clima. Além disso, a ênfase em planejamento urbano sustentável e gerenciamento eficiente de recursos está aumentando a demanda por tecnologias como digital twins (gêmeos digitais), que simulam e otimizam sistemas em tempo real.

Sistema de predição de incêndios florestais desenvolvido por climatetech brasileira. Custo de prevenção pode ser seis vezes menor do que o de reação aos desastres.  

DESAFIOS PARA DESENVOLVER STARTUPS CLIMÁTICAS 

Embora as climatetechs tenham um potencial imenso, elas também enfrentam desafios significativos. O acesso ao capital é uma das principais barreiras, especialmente para startups em estágios iniciais. Além disso, a regulamentação e a falta de infraestrutura adequada podem dificultar o crescimento dessas empresas. No entanto, as oportunidades são vastas. Com o aumento da conscientização sobre as mudanças climáticas, há um crescente interesse de investidores em apoiar soluções sustentáveis – governos também estão começando a oferecer incentivos para promover tecnologias verdes.

Como promover inovações para combater os desastres climáticos:

1. Incentivos Fiscais: Governos podem oferecer isenções e subsídios para startups climáticas, incentivando o investimento em tecnologias sustentáveis.

2. Financiamento e Investimento: Estabelecer fundos específicos para financiar climatetechs e incentivar investidores privados a participar.

3. Infraestrutura: Fornecer infraestrutura adequada, como centros de pesquisa e desenvolvimento e espaços de coworking, pode ajudar a reduzir os custos iniciais para essas startups.

4. Parcerias: Empresas estabelecidas podem formar parcerias com climatetechs, oferecendo mentorias, recursos e acesso a redes de mercado.

À medida que o impacto das mudanças climáticas se torna mais evidente, a necessidade de soluções inovadoras e eficazes nunca foi tão urgente. As climatetechs, com seu potencial de transformação e inovação, desempenham um papel crucial na construção de um futuro mais resiliente e sustentável.

COM RISCO DE INUNDAÇÃO, SUL DA FLÓRIDA VIRA HUB DE CLIMATE TECHS

Nos últimos anos, a cidade de Miami tem dado passos significativos na luta contra as mudanças climáticas. Projeções mostram que, se o nível do Oceano Atlântico manter a trajetória de aumento, partes da cidade podem estar submersa nos próximos 50 anos. O alerta, somado à vulnerabilidade da região com tornados e furacões, tornou o Sul da Flórida em um celeiro de startups climáticas. Tanto que o governo dos EUA anunciou a criação de  um Centro Tecnológico de Resiliência Climática, que desenvolverá soluções tecnológicas de ponta para atender essa emergência. 

Sul da Flórida corre sério risco ambienal nas próximas décadas. / Imagem: Miami Downtown
Projeções apontam que partes de Miami podem submergir nas próximas décadas. / Foto: Miami DDA

Algumas startups locais já estão fazendo a sua parte, como a Sea Sweepers, que vem desenvolvendo, a partir de uma plataforma blockchain, linhas de roupas esportivas e trajes de banho a partir do uso de plásticos retirados dos oceanos. O objetivo dos fundadores é gerar uma nova consciência de consumo e ajudar a “reimaginar a cadeia de abastecimento” a partir de ações ambientalmente corretas.

CONHEÇA ALGUMAS SOLUÇÕES DESENVOLVIDAS POR CLIMATE TECHS: 

BLUE FRONTIER
Sediada em Miami, a Blue Frontier desenvolveu uma inovação que ajuda a descarbonizar os sistemas de refrigeração em edifícios, usando energia limpa e mais barata. A empresa recebeu em 2022 um investimento de $20 milhões liderado pelo fundo Breakthrough Energy Ventures, criado por Bill Gates.

CLIMEWORKS
Com sede na Suíça, a Climeworks desenvolve unidades modulares que capturam dióxido de carbono diretamente do ar ambiente. Esse CO2 capturado pode ser utilizado em processos industriais, transformado em produtos como combustíveis sintéticos, ou armazenado permanentemente no subsolo para evitar sua liberação na atmosfera – este processo tem o potencial de ser escalado globalmente, oferecendo uma solução poderosa para a redução de gases de efeito estufa na atmosfera.

CARBONCURE TECHNOLOGIES
Esta climatetech do Canadá está transformando a indústria da construção com um método proprietário para injetar dióxido de carbono reciclado no processo de produção de concreto. Quando o CO2 é injetado, ele reage com o cálcio dissolvido para formar minerais de carbonato de cálcio, que são permanentemente incorporados no concreto, tornando-o mais forte e sustentável.

QUIRON
Climatech brasileira, fundada em Lages (SC), a Quiron surgiu como uma plataforma de monitoramento florestal que usa algoritmos e dados de satélites e nanossatélites associados à inteligência artificial para identificar problemas ambientais. A primeira região a usar a tecnologia brasileira foi o Fundão, em Portugal, fortemente impactado por queimadas, em 2017. Desde que as áreas começaram a ser monitoradas pela plataforma, não ocorreram mais grandes incêndios

KIND DESIGNS
A climatetech do Sul da Flórida começou a desenvolver uma tecnologia própria de impressão 3D de paredes marinhas vivas (living seawalls), que funcionam como recifes de corais e contam com um sistema de sensores para captar dados sobre a qualidade e a biodiversidade da água. Em agosto passado, a empresa recebeu um investimento de $5 milhões para acelerar o desenvolvimento da tecnologa e ampliar a capacidade de produção.

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