A importância dos Hackathons, as “maratonas de inovação”

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A importância dos Hackathons, as “maratonas de inovação”

Muitos ecossistemas parecem esquecer a importância dessas ações que tem como maior benefício a capacitação de quem quer empreender.

Muitos ecossistemas e habitats de inovação parecem esquecer a importância desse tipo de ação – que tem como maior benefício não a criação de startups, mas sim a capacitação de quem quer empreender nesse universo. / Foto: Fernando Willadino/Global Legal Hackathon


[07.06.2022]


Por Marcus Rocha, empreendedor e colunista SC Inova.
Escreve quinzenalmente sobre ambientes e ecossistemas de inovação 

Quem frequenta ambientes de inovação certamente já ouviu falar ou até mesmo participou de um “hackathon” (que alguns pronunciam “rácaton”, outros “racatôn”). Aliás, aqueles leitores mais experientes no universo da inovação até podem estar questionando o porquê de escrever um artigo sobre uma prática tão comum e inicial. No entanto, muitos ecossistemas e habitats de inovação parecem estar esquecendo a importância desse tipo de ação, e muitas pessoas que ainda não frequentam esse universo precisam entender do que se trata. 

Nunca é demais lembrar, mas o nome “hackathon” veio da união de duas palavras da língua inglesa:

  • Hacker: apesar de popularmente ser associada à ideia de um criminoso que atua via internet explorando falhas de segurança de sistemas, o significado original desta palavra está relacionado ao comportamento de descobrir novas utilidades e aplicações criativas para equipamentos, produtos ou sistemas existentes.
  • Marathon: maratona, a famosa corrida de rua com distância oficial de 42,195 km.

Apenas pela interpretação dessas palavras, é possível inicialmente compreender que se trata de uma competição que envolve pessoas que querem desenvolver soluções a partir do uso criativo dos recursos disponíveis. E, na verdade, um hackathon é praticamente isso mesmo: um evento temático e intensivo, com duração de algumas horas ou poucos dias, que reúne pessoas com vontade de desenvolver criativamente soluções inovadoras para desafios propostos. Então talvez a única inconsistência em relação ao nome é que, em termos de velocidade, intensidade e duração, um hackathon esteja muito para 100 metros rasos do que para uma maratona.

Considerando o claro objetivo relacionado ao empreendedorismo inovador, foram criadas várias metodologias para esses eventos. Aqui no Brasil certamente a “Startup Weekend”, que hoje faz parte do portfólio de serviços do programa “Google para Empreendedores”, é a mais conhecida.

Com algumas variações entre si, esses métodos fazem com que os participantes, divididos em equipes, percorram a jornada de empreendedorismo de um grupo de pessoas que identificam um problema, projetam uma solução (preferencialmente inovadora), desenvolvem o modelo de negócios (também preferencialmente inovador) e, opcionalmente, até constrói um protótipo ou um Mínimo Produto Viável, de acordo com o processo da Startup Enxuta proposto por Eric Ries.

Ao final, o resultado do trabalho realizado intensamente durante as horas ou dias do evento é apresentado para uma banca julgadora, que elege os melhores.

“From Zero to Hero”: a jornada do herói/heroína do empreendedorismo inovador, segundo o método do Startup Weekend (fonte: Startup Weekend Education Recife 2018)

Independentemente da metodologia, alguns pontos também devem ser destacados:

  • A valorização da tomada de decisão baseada em evidências: a definição do problema e, posteriormente, a definição da solução projetada, devem ser realizadas a partir da validação junto ao mercado/público-alvo. Trata-se da aplicação prática de princípios científicos e de fundamentos de outros métodos como o design thinking.
  • Mentoria: durante todo o processo, as equipes são acompanhadas por mentores,  profissionais com maior experiência no processo de inovação, empreendedorismo, e também nas principais áreas de conhecimento relacionadas aos desafios propostos. Os mentores e mentoras tanto orientam quanto provocam as equipes a saírem das suas zonas de conforto, buscando que sigam a jornada de empreendedorismo proposta, e que desenvolvam soluções efetivamente inovadoras.
  • Cultura empreendedora: o processo consegue traduzir, razoavelmente bem, vários dos desafios relacionados ao empreendedorismo, desmistificando o glamour que frequentemente está associado ao mundo da inovação e das startups. Os participantes começam a compreender questões como o volume de trabalho, o comprometimento dos empreendedores, os dilemas, os riscos, a competitividade, e a pressão.
  • Resiliência: apesar de ser 100% mão-na-massa e lúdico, se engana que o evento é apenas diversão. A competitividade entre as equipes, o tempo escasso, as provocações dos mentores, e muitas vezes as respostas negativas do mercado, fazem com que os participantes sintam vários momentos de alta pressão, com os quais os participantes precisam lidar. 

Aquelas pessoas que ainda não frequentam regularmente os ecossistemas de inovação podem inicialmente entender que os hackathons são formas de criar empreendimentos inovadores com maior potencial de sucesso. No entanto, o principal objetivo não é bem esse.

É bem verdade que alguns empreendimentos de sucesso surgiram a partir de hackathons. Mas o maior benefício desse tipo de evento não é a geração de startups, mas a capacitação de pessoas que queiram empreender nesse universo dos empreendimentos inovadores. Ao observar o processo geral da “jornada do herói/heroína”, percebe-se que é, em linhas gerais, o que acontece (ou deveria acontecer) durante o processo de criar um novo empreendimento, inovador ou não. A diferença básica é que, na vida real, esse processo se desenvolve ao longo de vários meses.

Portanto, um hackathon é uma forma dinâmica e lúdica de promover capacitação para pessoas que querem empreender, seja em um negócio próprio ou dentro da organização onde trabalha. Até porque o empreendedorismo enquanto área do conhecimento contempla todas essas e outras possibilidades.

Hackathon de cocriação do Ágora Tech Park, parque tecnológico de Joinville inaugurado em 2019. /
Hackathon de cocriação do Ágora Tech Park, parque tecnológico de Joinville inaugurado em 2019. / Foto: Perini Business Park

VANTAGENS PARA OS ECOSSISTEMAS 

Para os ecossistemas de inovação os hackathons têm uma importância fundamental, principalmente na capacitação de pessoas, que depois naturalmente aplicam boa parte dos conhecimentos na sua vida profissional. Por considerar conhecimentos efetivamente validados por negócios de sucesso, essas capacitações tendem a gerar empreendimentos inovadores mais robustos, que mitigam boa parte dos riscos que naturalmente são inerentes a startups, scale-ups e demais empresas inovadoras.

Normalmente os hackathons são promovidos nos habitats de inovação, por pessoas que compartilham do propósito de compartilhar conhecimentos nessa área. Esses eventos são excelentes oportunidades para quem quer começar a frequentar os ecossistemas de inovação, pois boa parte dos conhecimentos básicos e do próprio vocabulário da inovação e das startups são explicados e colocados em prática. Considerando também o volume de participantes em cada edição, é um serviço de grande relevância para a própria sustentabilidade dos ecossistemas locais e inovação.

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As maratonas de inovação também podem ser importantes para as empresas estabelecidas, especialmente aquelas que estão nos primeiros passos de estruturação das suas estratégias de inovação. Novamente, é necessário ter a clareza que esse tipo de evento tem muito mais o propósito de capacitar as equipes para incorporar elementos positivos da cultura dos empreendimentos inovadores na empresa, do que gerar novas soluções promissoras para o futuro dos seus negócios. 

Uma vez que realizam hackathons, as empresas estabelecidas devem imediatamente ativar ações complementares de inovação aberta para que, após os eventos, existam oportunidades para que os conhecimentos adquiridos sejam efetivamente praticados. Dessa forma, aí sim pode-se criar o ambiente propício para o desenvolvimento de inovações com potencial de trazer vantagem competitiva significativa para a empresa. A falta desse tipo de ação de continuidade pode inclusive provocar frustração nos participantes, que normalmente saem dos hackathons cheios de expectativas e de vontade de inovar.

Durante a pandemia do Covid-19, a única opção para a realização de hackathons era de forma virtual, online. No entanto, dado o caráter altamente social dessa metodologia, com necessidade de comunicação rica, rápida e constante entre os participantes, boa parte da experiência ficava bastante prejudicada. Agora, com o retorno seguro das atividades presenciais, é possível retomar a forma presencial desses eventos, uma oportunidade interessante e que deve ser considerada no calendário regular de ações de todos os atores de um ecossistema de inovação: empresas, entidades empresariais, universidades, escolas, órgãos públicos e organizações da sociedade civil.

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