[DIÁRIOS DA IA] A falácia do incumbente veloz: transformar com IA não é só acelerar processos

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[DIÁRIOS DA IA] A falácia do incumbente veloz: transformar com IA não é só acelerar processos

O fracasso nem sempre é por uma suposta falta de velocidade. Empresas confundem movimento com progresso e eficiência com reinvenção.

O fracasso muitas vezes não se dá por uma suposta falta de velocidade mas por um erro estrutural: empresas confundem movimento com progresso e eficiência com reinvenção.  


[27.10.2025]

Por Eduardo Barbosa, CEO da Brognoli Imóveis e um dos responsáveis pelo Conselho Mudando o Jogo (CMJ) em SC e RS. Escreve sobre inteligência artificial no ambiente corporativo na série “Diários de IA”.

Durante anos, repetimos o mantra de que empresas tradicionais fracassam por serem lentas. 

Atribuímos o sucesso das startups à agilidade, à cultura “lean”, à velocidade das entregas. Mas o que Sangeet Paul Choudary revela em A Falácia do Lento Incumbente é algo muito mais profundo — e desconfortável.

“Os titulares geralmente não falham porque se movem lentamente. Eles falham porque se movem rápido na direção errada.”

Essa frase desmonta a narrativa confortável do “falta de velocidade” e aponta para um erro estrutural: as empresas confundem movimento com progresso, e eficiência com reinvenção.

VELOCIDADE ERRADA É APENAS UMA FORMA ELEGANTE DE SE PERDER

O caso clássico — Adobe versus Figma — mostra o contraste entre adaptação operacional e reinvenção arquitetural. A Adobe fez tudo certo: migrou para a nuvem, adotou assinaturas, atualizou KPIs e se tornou símbolo da transformação digital. Mas permaneceu presa ao paradigma do arquivo — a unidade de trabalho herdada da era do desktop.

A Figma, por outro lado, redefiniu a unidade de trabalho. Em vez de arquivos isolados, passou a operar com elementos interconectados — botões, componentes, bibliotecas compartilhadas. A inovação da Figma não foi uma feature ou um “canal novo”, mas uma mudança na arquitetura do trabalho: de tarefas isoladas para fluxos conectados.

O resultado?

A Adobe continuou entregando software.

A Figma construiu uma infraestrutura de governança e colaboração contínua.

PRODUTIVIDADE NÃO É O PRÊMIO, GOVERNANÇA É

Em toda disrupção tecnológica — seja a nuvem, as plataformas ou agora a IA —, o valor migra da execução para a coordenação.Ferramentas que aceleram indivíduos se tornam rapidamente commodities. Sistemas que garantem consistência, controle e coerência organizacional escalam valor de forma invisível — e duradoura.

É o mesmo deslocamento que vemos hoje na IA:

  • As empresas que tratam IA como ferramenta de produtividade apenas ganham velocidade no velho jogo.
  • As que a tratam como novo sistema de coordenação (com novos fluxos, APIs, governança e métricas) criam o novo jogo.

Outro paradoxo incômodo: a experiência pode ser uma forma de cegueira. Quanto mais profundo o domínio de um modelo mental antigo, mais difícil é desaprender.

Empresas com as melhores práticas operacionais, como Yahoo e Adobe, tornaram-se lentas não por inércia, mas por excelência no jogo errado. A habilidade escassa, muitas vezes, é o desaprendizado intencional.

A IA está produzindo o mesmo fenômeno nas carreiras: o domínio técnico é importante, mas o diferencial passa a ser a capacidade de recombinar saberes, coordenar fluxos e assumir riscos onde ainda há falhas de governança.

O ERRO DAS EMPRESAS EM 2025

Grande parte das corporações que “adotam IA” na verdade replicam velhas arquiteturas com ferramentas novas. Automatizam sem repensar o fluxo, substituem humanos sem redesenhar interfaces e criam dashboards sem questionar a lógica por trás dos indicadores.

A transformação verdadeira não está em usar IA, mas em redefinir a unidade de trabalho, o ponto de controle e o locus do valor.

Perguntas que toda empresa deveria fazer hoje:

  1. Você reinventou sua arquitetura de trabalho ou apenas colocou o modelo antigo em um canal novo?
  2. Suas integrações e APIs refletem a granularidade do trabalho real ou ainda operam no “nível de arquivo”?
  3. O orçamento da sua IA está nas áreas usuais de produtividade ou já migrou para a liderança estratégica?
  4. Seus especialistas são premiados pela profundidade técnica ou pela capacidade de desaprender?
  5. Você está “abaixo do algoritmo” — sendo avaliado e padronizado — ou desenhando as regras do novo jogo?

Essas perguntas expõem o que separa os inovadores de quem apenas parece inovar.

O verdadeiro desafio da era da IA não é correr mais, mas imaginar diferente. Startups não vencem porque são rápidas, mas porque são livres para redefinir a unidade atômica de valor. As corporações que compreenderem essa virada deixarão de ser “lentas” — não por acelerar, mas por mudar o tabuleiro.

A NOVA FRONTEIRA DA TRANSFORMAÇÃO

A disrupção não está em correr mais rápido, mas em mudar o mapa.
Produtividade sem nova arquitetura é movimento sem direção. Expertise sem desaprendizado é competência sem futuro. IA sem redesenho estrutural é apenas automação do passado.

O jogo mudou – agora, o que define o vencedor não é quem executa melhor, mas quem redesenha as regras de execução.

REFERÊNCIA: