Startups do portfólio da aceleradora geraram mais de 200 empregos e faturaram R$ 24 milhões em 2017 – total investido no programa foi de R$ 6 milhões
Uma situação inusitada ocorria no ambiente de negócios e inovação em Santa Catarina no início de 2015. Um fundo de venture capital estabelecido em Florianópolis não conseguia encontrar startups em estágio de maturidade suficiente para valer o risco de um aporte financeiro na casa de alguns milhões.
A solução seria ajudar a criar novos negócios a partir de um programa de aceleração e capacitação, com uma quantia menor de investimento (na época, R$ 150 mil mais um pacote de crédito em serviço de consultorias) em troca de um percentual aproximado de até 20% das startups.
Com recursos de investidores anjo e gerenciado por equipe egressa da Fundação Certi, nascia em julho de 2015 o programa Darwin Starter, que hoje conta com 30 startups no portfólio. Somadas, elas geram 207 empregos e faturaram R$ 24 milhões em 2017 – o total investido no programa até hoje foi de R$ 6 milhões.
Em janeiro de 2018, o Darwin abriu inscrições para a quarta turma – a primeira a receber startups também em São Paulo, além da sede em Florianópolis. O objetivo é selecionar outras 10 empresas inovadoras de áreas como fintech, seguros, big data e telecom, que receberão aporte de R$ 170 mil por, em média, 12% da startup. Em paralelo, passam por um programa de quatro meses para desenvolvimento e validação do modelo de negócio, além de relacionamento com uma rede de mentores e conexão com mercado.
“O nome Darwin é muito feliz, porque permite nos adaptarmos a qualquer momento. Precisamos desenvolver coisas de maneira flexível. Temos medo de perder bons empreendedores por causa de inflexibilidade nos processos ou na hora de criar algo”, destaca o diretor geral Marcos Mueller, que atuou na Certi e no fundo Cventures antes de ser um dos cofundadores da aceleradora, batizada em homenagem ao naturalista britânico Charles Darwin, autor da teoria de seleção natural entre as espécies (um conceito que permeia a ideia de evolução no desenvolvimento de startups).
E as primeiras mudanças vieram rápido, já na segunda turma de startups, no início de 2016. Saíram do espaço no Sapiens Parque para salas no Centro de Inovação da Acate, ao lado de diversas outras empresas do ecossistema, e o programa passou a ser mantido por parceiros corporativos: as integradoras RTM e B3 (antiga Cetip, que se fundiu com a Bovespa no ano passado), a catarinense Neoway (soluções em big data) e o CNSeg Par, fundo de participações da Companhia Nacional de Seguros.
Entre os cases “darwinianos” de maior expansão estão a Pague Veloz, que oferece serviços de pagamento online com sede em Blumenau e mais de 35 funcionários, e a manezinha Meetime, desenvolvedora de software para inside sales, que se prepara para dobrar a equipe de 20 pessoas (há 18 vagas em aberto) – no vídeo abaixo, os fundadores da startup detalham o processo de amadurecimento e crescimento obtidos a partir do programa.
Com o tempo, a equipe gestora começou a perceber a necessidade de acompanhar as startups depois da “formatura” no programa, pois bons resultados obtidos ao longo do processo não garantem em nada o sucesso no mercado. “A minha impressão é que o mais importante é a pós aceleração. Tivemos casos de performance excelente durante o processo, mas se depois acender o sinal amarelo, o projeto pode ser lindo, mas vai morrer”, avalia Mueller. Das 30 startups do portfólio, três já foram encerradas.
“O cheque recebido pelas startups não resolve todos os problemas ou garante o sucesso. Não existe mágica aqui. Trabalhamos em conjunto com os empreendedores para que tenham o que é necessário para crescerem. Isso envolve principalmente acesso as pessoas e empresas corretas para ajudarem o negócio a crescer”.
No final do ano passado, o CEO da aceleradora conversou com quase 20 egressas, repassando métricas (faturamento, investimentos pós aceleração, número de colaboradores), desafios e ouvindo as dores de cada empresa. Desde a primeira turma, o staff do Darwin conta com um psicólogo para ajudar no desenvolvimento dos participantes.
“O empreendedor sempre vai pedir ajuda. Nos envolvemos nas decisões estratégicas como novos mercados, internacionalização, seleção de um futuro sócio”, comenta. O também cofundador Mateus Eckert Xavier, com expertise jurídica, também divide a participação nos conselhos das startups. A expectativa é que os primeiros processos de desinvestimento (aquisição da startup e saída do fundo) sejam anunciados ao longo de 2018.
Processo evolutivo e expansão
Mudanças e adaptações foram – e devem continuar sendo – uma constante no processo evolutivo do Darwin Starter. Inicialmente, o foco era apenas em empresas de Santa Catarina, mas logo na segunda turma, em 2016, empresas de fora (especialmente de São Paulo) começaram a participar e vir a Florianópolis passar pelo processo de desenvolvimento. No último ciclo, aberto em meados de 2017, a grande maioria das startups selecionadas eram de outras capitais, como São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre.
Isso gerou a necessidade de encarar de maneira definitiva a terra da garoa a partir de 2018 – uma evolução natural para quem já na capital paulista um bom networking, parceiros corporativos e empresas do portfólio fazendo negócios na cidade. No final do ano passado, algumas startups da terceira turma apresentaram seus negócios durante um Demo Day realizado para cerca de 100 investidores, empreendedores e outros players do mercado no coworking Cubo.
“A maioria esmagadora de startups com o perfil que buscamos está em São Paulo e queremos ficar mais próximos dos empreendedores de lá. É um mercado diferente, outro mindset. Nós já temos posicionamento, mas a partir de agora queremos ser os protagonistas no cenário de early stage. É isso que buscamos indo pra São Paulo”, define Mueller.
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