Programa que gerou 20 startups em Joinville ao longo de quatro edições tem ajudado o setor industrial a enxergar novas formas para desenvolver produtos e serviços inovadores. / Fotos: Max Schwoelk, Divulgação
A quarta edição do programa JEDI, a Jornada de Empreendedorismo, Desenvolvimento e Inovação – que encerrou no dia 24.11, no Instituto Senai de Inovação de Joinville – foi dedicada à criação de soluções inovadoras para o setor da indústria e manufatura, um dos pilares da economia do norte de Santa Catarina.
Dos três projetos aprovados, dois atacavam um mesmo problema: o descarte e a possibilidade de reuso da areia de fundição, que tem produção anual de 3 milhões de toneladas pela indústria brasileira. Um deles, o da RECOM, foi o vencedor, que levou como premiação um apoio financeiro de R$ 15 mil. As demais foram a Renova Resíduos e a Smart OS.
Mas, além das ideias que foram desenvolvidas ao longo dos 16 dias do programa, o resultado e a escolha dos melhores projetos apontam para uma nova forma da indústria local olhar para os problemas e “dores” do mercado e buscar inovação. A avaliação é de Bruno Salmeron, um dos jurados do JEDI e diretor de Operações da divisão Automotiva da Schulz, que produz fundidos e usinados para caminhões e automóveis. “No dia a dia, se você busca resolver um problema em sua empresa de maneira convencional, você não encontra as soluções apresentadas por essas startups, porque acaba vinculando isso às rotinas de gestão – e isso corrói a inovação”, opina.
“Eu percebo as dificuldades que as indústrias têm para participar de um projeto de inovação, mas todas deveriam dedicar um tempo para auxiliar as startups. Essa garotada tem algo que vale ouro: um tempo para pensar especificamente no problema e um nível elevadíssimo de qualificação. O resultado foi que, ao longo desse tempo, conseguiram trazer soluções muito interessantes e que interessam muito à nossa empresa por exemplo”, ressalta Bruno.
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“Quando tiver dificuldades na empresa vou recorrer às startups para endereçar nossos problemas, compartilhar dores e soluções”, diz o COO da divisão Automotiva da Schulz, Bruno Salmeron (à esquerda na foto). / Foto: Max Schwoelk
A RECOM não desenvolveu uma plataforma tecnológica. A equipe, formada por publicitários, comprovou a partir de estudos e teses acadêmicas que o resíduo de areia dos processos de fundição não causa riscos à saúde e podem ser reutilizados para diversos fins. Como argumenta Dionei Domingos, presidente do Join.valle, “a proposta da startup é apresentar uma imagem positiva da areia de fundição, sendo praticamente agentes comerciais e criando um elo e uma estrutura de relacionamento para que os rejeitos sejam aproveitados pela construção civil – e isso foi desenvolvido mesmo sem terem um engenheiro na equipe”, ressalta. A Renova Resíduos, que também foi aprovada, criou uma plataforma que conecta as indústrias, embarca dados de legislação e documentação e apoia o monitoramento da obra.
A imersão ao longo das duas semanas na metodologia de desenvolvimento do JEDI motivou o diretor da Schulz a buscar novos processos a serem implementados na corporação: “vou passar a exercer essa metodologia. Toda vez que tiver dificuldade vou recorrer a estas startups, endereçar nossos problemas, compartilhar dores e soluções”. A empresa também começou a participar do LinkLab, programa da Acate que conecta corporações a startups e que foi inaugurado há dois meses no Ágora Tech Park. “Estamos abrindo frentes para atuar no ecossistema de startups agora. Isso é fundamental para sair da turbulência da gestão, te tira do dia a dia e ajuda a buscar outras ideias”, conclui.
“A inovação é protagonista na estratégia de fomentar a nova matriz econômica, uma matriz que irá ampliar a competitividade da economia atual. Historicamente Joinville desenvolveu sua economia com o talento do empreendedor local. Foram os santos de casa que fizeram o milagre“, comenta Danilo Conti, secretário de Planejamento Urbano e Desenvolvimento Econômico de Joinville.
UM PROGRAMA CRIADO A VÁRIAS MÃOS PELO ECOSSISTEMA LOCAL
Criado no início do ano como uma maneira de ajudar a desenvolver startups com uma metodologia mais aprofundada do que um Startup Weekend, o JEDI ajudou a criar 20 startups em Joinville ao longo de 2019, respondendo a demandas dos setores de logística e mobilidade, saúde, educação, indústria e manufatura. Antes de cada evento, que dura 16 dias, é realizado um encontro de “aquecimento” entre mentores e inscritos para alinhamento de temas e conteúdos a serem trabalhados durante a jornada: um final de semana inicial de formação das equipes, duas semanas para desenvolvimento e validação com o mercado, e um segundo final de semana com o fechamento dos projetos, apresentação das ideias e premiação.
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“A participação de representantes do ecossistema como mentores voluntários faz a diferença, pois eles se dedicam a ensinar essa turma nova”, resume Fabiano Dell’Agnolo, um dos coordenadores do JEDI. / Foto: Max Schwoelk
“A metodologia é mais importante que o tema em si, pois percebemos que isso traz resultados: temos algumas startups criadas no JEDI que já têm receita e o próprio mercado começa a ditar as necessidades. Já olhamos as tendências para 2020 a partir dessas indicações do mercado”, avalia Dionei Domingos. Segundo ele, a proposta da Jornada reduz a dificuldade das empresas que querem se conectar de maneira eficiente com o ambiente de startups. “Estes exemplos que estamos construindo vão ajudar a quebrar o gelo, as barreiras que ainda existem com relação a confiança das corporações com jovens empreendedores”.
No ano que vem, devem ser realizadas três edições: uma focada em comércio e serviços, outra mais voltada à área de materiais, construtechs e soluções para as cidades, e uma terceira com tema livre.
“Um dos diferenciais é o fato deste programa ter sido construído a várias mãos pelo ecossistema da região, com empreendedores experientes, academia, associações empresariais e poder público. A participação destes organizadores como mentores voluntários também faz muito a diferença, pois eles se dedicam a ensinar essa turma nova. É o que tem garantido um bom resultado e a evolução do programa”, aponta Fabiano Dell’Agnolo, diretor executivo da Secretaria de Planejamento Urbano e Sustentável de Joinville e um dos coordenadores do JEDI.
O fato do programa ter estimulado a criação de 20 startups não é o único indicador a ser considerado: “independente de uma empresa ser criada ou não, os participantes passam por uma jornada intensa ao longo de 16 dias, com capacitação, mão na massa e mentorias, que muda a mentalidade mesmo se ele for funcionário de uma empresa e não empreender. O aprendizado é muito rico”, ressalta Fabiano.
Para o secretário Danilo, além de “ter um vínculo com nossa história, o JEDI estimula a inovação e o empreendedorismo local e é uma estratégia que se mostra sustentável, pois as empresas que nascem na cidade têm um efeito multiplicador maior para a nossa economia”.
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